19) Como vai você?

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Eu a convidei para um segundo encontro despropositado depois de um encontro com propósito

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Eu a convidei para um segundo encontro despropositado depois de um encontro com propósito. Um pós-almoço com direito a sorvete no parque não faria mal a ninguém.

Caminhávamos lado a lado, tentando dar cabo dos sorvetes antes de derreterem em nossas mãos e a casquinha amolecer.

Como eu passava a maior parte do meu tempo querendo ver o mundo pegando fogo, resolvi avacalhar e mordi o seu sorvete na primeira bobeada. Ela não ficou nem um pouco indignada. Muito pelo contrário. Ela entrou na brincadeira.

Em resposta ao meu furto, ela lambeu minha bola de sorvete de um jeito bastante sugestivo. Eu seria capaz de pagar uma fortuna por uma lambida daquelas em mim. Tive de respirar fundo e levar para o lado da brincadeira para não sucumbir ao desejo.

— Você é gulosa assim sempre ou só quando tá comigo? — aticei-a.

— Me respeite — exigiu, num tom ambíguo que não revelava se ela se ofendera de verdade ou se só tirava uma com a minha cara —, não mexo com essas indecências.

— Quer dizer que você é "moça de família"? — continuei a alfinetá-la, sem comprar seu discurso, levando tudo para o lado da brincadeira.

— Era. Num passado bem, bem distante — respondeu a sério, como se quisesse revelar algo importante sobre si.

Sentamo-nos no banco mais próximo para poder conversar com mais calma.

— Daí a santinha se perdeu no caminho? Não suportou as provações? — Acotovelei-a, tentando manter o tom leve da conversa, mas suspeitando que não conseguiria.

— Quase isso — anuiu. — Se você tivesse os meus pais, também não suportaria e iria sair correndo pra o mais longe possível na primeira oportunidade.

— Cuidado com o que fala — adverti num tom bem-humorado. — Sabe como são os meus pais, não são flor que se cheire.

— Bom, uma coisa eles têm em comum. Meus pais também queriam que eu me casasse, quer dizer, meu pai queria. Minha mãe só ficava do lado abanando a cabeça.

— Então cê entende minha dor melhor do que eu pensava.

— Até certo ponto — revelou. — Há uma grande diferença entre nós. Uma que foi o meu maior problema por três anos seguidos. Meu pai queria que eu me juntasse com um sujeito da nossa igreja, muito mais velho que eu, assim que terminasse o ensino médio. Basicamente um casamento arranjado ao estilo clássico.

— O que você fez? — Minha curiosidade falou mais alto. — Não me diga que é casada com um cara de 60 anos e passa parte do seu dia em um apartamento, separada dele, pra esconder esse lado seu.

— Claro que não! — Socou o meu braço bem de leve para me repreender. — Nossa, nem quero pensar num negócio desses. — Chacoalhou a cabeça para afastar o pensamento.

Luz VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora