5) E as namoradinhas?

30 7 9
                                    

Eu detestava os dias comuns na empresa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu detestava os dias comuns na empresa. Detestava mesmo. Aliás, tudo que era muito monótono me entediava ao extremo. Principalmente quando o dia em questão era sexta-feira, dia da maldade, dia internacional da cerveja.

Falando em cerveja, cadê os comerciais de televisão polêmicos? Onde andam os projetos de propaganda de produtos só pra maiores? Por vezes eu me perguntava isso, mesmo sabendo a resposta. Eles haviam sumido.

O negócio agora se resumia a propagandas de aplicativos para celular — lucrativas, porém, entediantes. A Takahashi MKT era uma empresa de publicidade muito respeitada no meio, precisava manter as aparências, a pose de séria, e não associar sua imagem a figuras negativas.

Isso acabava com toda a diversão. Então, para remediar essa falta de alegria dos meus dias de trabalho, eu ia ao banheiro, onde ninguém podia me ver, fumar um. Só assim eu me esquivava da monotonia, viajava sem sair do lugar e enxergava o mundo mais colorido e divertido.

Dava uma fome da porra? Dava. Mas era melhor do que suportar solidão e tédio por oito horas em um ambiente sufocante completamente sóbrio.

Como eu havia ascendido na hierarquia da empresa, não mais tinha ocupações reais. Apenas existia e pensava no quão interessante seria voltar ao setor gráfico e poder trabalhar com os designs. Fazia altos nadas durante o expediente.

Não que isso fosse completamente ruim. Tinha suas vantagens toda essa folga remunerada. Contudo, para alguém que (desesperadamente) precisa ter a cabeça cheia a todo momento para não enlouquecer de vez, fazer nada trazia um prejuízo inestimável.

Naquela tarde, depois de um segundo cigarro, fiquei de bobeira por horas a fio. Distraído, com os pés em cima da mesa, montando um cubo mágico pela enésima vez, matei o tempo. Nem vi a movimentação da maçaneta, de tão alheio à realidade.

Quando a porta se abriu, tomei um susto. E o meu pulinho no assento foi justificado assim que eu vi quem entrava. O Takahashi sênior em pessoa dava o ar da graça nos minutos finais do expediente.

Possuído pelo espírito da aporrinhação, meu pai deu uma passada no meu escritório antes de ir embora. Seus modos afetados e ares de quem não quer nada não me enganariam nem se eu fosse uma criança ingênua. Ele nunca passava na minha sala se não fosse para me infernizar, por assuntos relacionados ao trabalho ou não.

Naquele dia, ele estava particularmente empenhado em parecer despojado, sem interesses ocultos. No entanto, a verdade sempre prevalece. O sr. Makoto Takahashi mostrou sua verdadeira cara e — pasmem — me cobrou uma esposa novamente.

O que ele não esperava era o meu ás na manga.

— Sobre aquele assunto do almoço, aquele lá, você andou pensando? — inquiriu ele, sem esperar qualquer resposta.

Ele não era um idiota. Conhecia o filho que tinha e sabia bem que eu não me dava ao trabalho de pensar nessas coisas.

— Fale sério, Yudi, seja honesto comigo e consigo mesmo. — Apelou para minha consciência. — Algum dia você vai parar, refletir sobre sua vida e se aprumar? Casar com uma moça direita?

— Quer saber de uma, meu pai? Refleti bastante. — A resposta o surpreendeu. — E tomei uma decisão. A decisão de não mais esconder o que eu sinto e deixar minha vida amorosa às claras. — Empenhei-me no personagem "homem apaixonado" e trouxe toda a intensidade do mundo para a minha fala. — Eu... Eu já arranjei uma namorada e, desta vez, acredito que seja pra valer. Acredito com todas as minhas forças — exagerei ainda mais.

Meu pai ficou boquiaberto e estático por uma pequena eternidade. A muito custo, destravou do piripaque no qual fora colocado pela minha revelação. Eu estava diante do próprio retrato da incredulidade.

— Por que não nos contou antes? — ele questionou, mostrando-se ofendido. — Sua mãe teria ficado muito contente. Eu também.

— Eu não queria falar pra vocês de qualquer jeito, sem ter algum grau de certeza, sem uma apresentação formal. — Preparei o terreno para armar o circo, plantei para colher de imediato. — É muito importante pra mim que vocês aprovem minha decisão.

Pronto. Estava feito. Eu havia lançado a isca mais sedutora para aqueles peixes grandes: a necessidade de aprovação. Coisa que eu nunca tive, mas que eles amavam e exaltavam como se fosse a maior virtude de um filho.

Talvez por isso eu trouxesse tanto desprazer. Nunca quis agradar ninguém. Muitas vezes fui considerado irritante, até pelos meus próprios amigos. Nem por isso fiquei neurótico e mudei minha maneira de ser só para me tornar mais agradável. Além do mais, eu não podia ligar menos para o que os outros pensam de mim.

Porém, e este era um grande porém, eu detestava que me enchessem o saco. E aquela conversa de casamento não somente o enchia como também causava dor, tamanha era a pressão imposta por aquela chatice. Por isso, precisava dar meus pulos para resolver o assunto.

Para variar, desta vez, eu tinha ideia do que fazer para alcançar meu objetivo. E não envolvia nenhum relacionamento real que poderia machucar os sentimentos de uma pobre mulher que não tivesse nada a ver com os meus problemas familiares.

— Quando você e minha mãe estarão livres para um jantar?

— Amanhã, às 19 horas — apressou-se para dizer, como se estivesse desesperado ao ponto de abrir espaço na agenda mesmo que estivesse ocupada até o último horário só para não perder o evento que a apresentação da minha namorada seria.

— Então tá combinado — confirmei o compromisso.

Todo orgulhoso pela minha mudança (no mínimo estranha e suspeita à beça) de atitude, meu pai contornou a minha mesa, pediu para que eu me levantasse e me deu um abraço afetuoso.

Nem me lembrava quando fora a última vez em que o homem demonstrara carinho por mim, mas agora lá estava ele, me envolvendo em seus braços como se fosse o pai mais carinhoso do mundo e me amasse incondicionalmente.

Depois daquele gesto atípico, ele se despediu e revelou-se ansioso para conhecer a "sortuda" que fisgara meu coração. Como se eu não tivesse percebido pelo sorriso de orelha a orelha o quão empolgado o velho ficara com a simples perspectiva de me ver dentro de um relacionamento sério.

Quando a porta se fechou, logo tratei de ligar para Tatiana e avisá-la que a prestação de serviço começaria cedo, no dia seguinte. Tendo a deixado ciente sobre o jantar agendado, apenas torci para que o probleminha do estilo dela fosse solucionado até amanhã. De modo geral, torcia para que ela me saísse uma perfeita namorada postiça. 

Agora vai 🙏🏽 #FéBreve comunicado: programarei as postagens de capítulos novos pras segundas e sextas

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Agora vai 🙏🏽 #Fé
Breve comunicado: programarei as postagens de capítulos novos pras segundas e sextas. Qualquer mudança eu aviso no mural do meu perfil e pelas notas de rodapé <3

Se tiver gostado, vote e comente pra autora ficar sabendo ⭐

Beijos mil ❤️

Luz VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora