Eu não devia dar asas à qualquer pergunta que vinha em minha mente. Entretanto, eu dava. Não tinha filtro algum e isso não era segredo. Nem por isso incomodava menos. Nem por isso eu poupava alguém. Aliás, minha marca registrada era não poupar ninguém.
Eu também tinha um alvo favorito. Esse meu objeto de provocação predileto acabara de se sentar ao meu lado com o maior ar de derrota da vida. Se eu pudesse apostar, diria que Tatiana tinha algo a ver com o motivo de sua chateação. E ganharia a aposta.
— Diga aí, meu garanhão, como foi o encontro? Foi de tainha, vinho e muito sexo? — O diabinho no meu ombro ia à forra, com certeza, comemorando mais uma vitória. Depois de tantos anos de vitórias consecutivas, ele já estava acostumado com o pódio.
— Foi uma porra — Dubois revelou em tom de lamúria. — Maior furada, essa que cê me meteu.
— Qual foi? Te arranjei uma mulher super afim de dar. — Eu me esparramei na cadeira, buscando ficar mais à vontade para continuar meu inquérito informal.
— Afim? — questionou ele. — Pelo visto, não pra mim. A minha sorte foi ela não ter esperado eu amostrar o pinto pra dizer que não ia rolar. Saí de cena com um pouco de dignidade.
— Foi tão ruim assim? — insisti na história, com o intuito de levar Jean ao limite.
— O que você acha? — Encarou-me, mortificado, todo murcho. — De cada 10 palavras que saíam da boca dela, 11 eram "Yudi". Tá bom pra você ou quer mais?
Fiquei sem fala, apenas engoli em seco. Não esperava por um golpe desses.
— Pois é. Agora você entende como que eu fiquei. — Ele levantou a mão, chamou o garçom mais próximo e fez um pedido. Só quando as duas caipirinhas chegaram, ele continuou: — Parecia até um encontro a três, só que sem a parte boa de um lance a três.
— Ela ficou falando de mim? — interroguei, incapaz de processar a informação.
— Não exatamente sobre você. Mas ela arranjava um jeito de te enfiar na conversa, não importava qual fosse o assunto. — Deu uma golada generosa na bebida, como se descontasse as frustrações na cachaça. — Aliás, que negócio é esse de me substituir nas sessões de filmes?
— Te substituir, Draminha? Perdeu a noção? Até parece que eu colocaria outra pessoa em seu lugar. — Acotovelei-o para tirar essas ideias erradas de sua cabeça.
— De qualquer forma — fitou-me com olhos inquisidores —, que história é essa de ficar vendo filminho com ela? Tá usando o tempo vago do programa pra fazer amizade? Também hidratam o cabelo e pintam as unhas juntos?
— Se eu não te conhecesse, diria que você tá com ciúme. Pra caralho. — Eu o conhecia. Sabia que era ciúme. Não tinha nenhuma dúvida quanto a isso.
— Ainda bem que cê me conhece. E tá cansado de saber o quanto tô por aqui — gesticulou com a mão à frente do pescoço — com isto de ser trocado por mulher porque aparentemente todo mundo desse grupo resolveu se comprometer e me deixar na mão.
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Luz Vermelha
Romance+18 | Tudo que Yudi Takahashi mais quer é curtir a vida como se não houvesse amanhã. Mas querer não é poder. A sua realidade exige outra coisa dele. Sua família exige outra coisa. Arranjar uma esposa está entre as muitas exigências "veladas" de seus...