18) Não vai me esquecer?

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Eu revivia aquele selinho a todo instante

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Eu revivia aquele selinho a todo instante. Tinha sido só mais um beijo bobo, um nada, ainda assim, andava me tirando do sério. Lembrava-me dos outros beijos triviais que dera antes.

O problema não era o beijo em si — tão comum quanto os outros —, o problema era como eu me sentia. A vontade que eu tinha de dar mais e mais de mim em cada encontro de lábios.

Daria de tudo para ter a coragem de me render a ele. Ignorar as minhas regras e escancarar as pernas. Tacar o foda-se para qualquer inadequação da parte dele. E daí que ele não era o cara ideal para transar inicialmente ou não? E daí que ele não era perfeito?

Perfeição era algo superestimado. Yudi era aceitável. Eu poderia trabalhar com algo aceitável. Tudo para ter seus beijos se espalhando pelo meu corpo e me alucinando. Tudo para estar em seus braços e sentir seu corpo junto ao meu. Não precisava ser perfeito.

Aliás, falta de perfeição definia minha vida. Naquele momento de reflexões, em especial, imperfeições era o que eu mais tinha de encarar. Inclusive, havia muitas pela frente, dado que o meu expediente começara há pouco.

Os trabalhos do dia eram no cabaré das Damas das Águas, no "lar, doce lar". Não teria de me deslocar para lugar algum e isso me dava uma considerável segurança, já que nenhum cliente em sã consciência bancaria o valentão quando brucutus rondavam o lugar.

Os seguranças ficavam em constante estado de alerta e, ao mínimo sinal de confusão, adentravam os quartos sem cerimônia para descer a porrada no agressor. Não era o ideal combater violência com violência em minha opinião, mas aquilo funcionava. De novo, era uma situação no qual o ideal não necessariamente resolvia o problema.

Os homens de preto resolviam. Garantiriam que eu voltasse para casa sem levar um cruzado de algum fodido que supõe que eu sou obrigada a fazer tudo que ele bem quiser só porque pagou pela hora. Por mim, podem enfiar o dinheiro no cu e rodar pra ver se passa. Não podia me importar menos com o pagamento nesses casos.

Esses revoltados me estressavam, precisava confessar. Não só pela agressividade, mas também (principalmente) pelo tédio de lidar com esses homens que se acham no direito de exigir algo que não consta no combinado. Isso era desgastante.

Mas não tão desgastante quanto a minha rotina. E uma nova semana começava, com os mesmos desafios, as mesmas atividades, mais do mesmo. Sendo assim, joguei-me na mesmice. Sentei-me em uma das poltronas dos quartos da casa e aguardei pelo cliente. Aguardei pelo "de sempre".

A mesmice, entretanto, fugiu de mim naquele início de noite. Em vez de um cliente, apareceu o vagabundo do meu ex-namorado para me perturbar. Hoje deve ser meu dia de sorte, pensei, irônica.

— Oi, Tati. Como vai, meu amor?

— Meu amor? Corta essa, Luiz! Fala logo o que você quer.

— Não tá claro? Eu quero reverter a merda que cê fez.

— Merda? Tá de brincadeira comigo. Terminar com você foi minha melhor escolha.

— Segundo quem? Você mesma? Ah, para! Você nunca foi boa de pensar. Olha só pra merda do seu trabalho!

— Qual o problema do meu trabalho? Nunca pedi um centavo seu, aliás, de ninguém pra pagar minhas contas.

— O problema de sempre, Tatiana, o de sempre. Você sabe que não precisa disso. Eu posso te bancar sem sufoco, sem piadinha, sem cobrança.

— Você é sonso assim ou só se faz? Quantas vezes eu já te falei que prefiro ganhar meu dinheiro com meu próprio esforço? Não foi uma, nem duas, muito menos três; até perdi a conta. Você nunca ouve, não é?

Ele não me ouvia. Enganou-me por um tempo considerável. No início do nosso namoro, esbanjava perfeição, parecia se importar com cada palavra que saía da minha boca, mas ele não ligava para nada além de si mesmo. Logo ele mostrou a que viera.

— Claro que eu ouço. Sempre te ouvi. A diferença é que eu sei o que é melhor pra você.

De novo esse papinho. Quem aguenta? Eu já estava farta disso. Exausta. A simples presença dele era sufocante — como a nossa relação fora por meses. Luiz não pensava em ninguém além de si mesmo.

— De novo isso? É assim que você quer reatar? — Bufei.

— Falando assim fica até parecendo que eu sou um cuzão. Alguma vez eu já te obriguei a fazer qualquer coisa que não quisesse? Nem nos meus piores dias eu te pressionei. Nunca te forcei a foder comigo, apesar da vontade. E não se engane com o quanto isso é difícil. Você sabe ser gostosa.

Ele acariciou o meu rosto como se tivesse acabado de me fazer um baita elogio e não deixado claro um subtexto de que ele era o herói da história por resistir bravamente às fortes tentações da carne.

Aquele foi o fim da picada. Achar-se no direito de me tocar depois de me diminuir e deixar claro sua vontade de me calar?

— Saia daqui. Agora. Pode pegar o seu dinheiro de volta. Fique à vontade. Só não quero passar mais um minuto ao seu lado.

— Não. — Segurou meu punho. — Você vai me ouvir, querendo ou não, sua putinha de merda. Preciso de você pra ontem. Minha casa tá um caos sem você. Meus amigos riem de mim e não perdoam. A porra da minha vida desmoronou.

— Desde quando isso é problema meu? — Desvencilhei-me dele ao puxar minha mão de supetão. — Até onde sei, terminei contigo justamente por não querer conta com você e seu mundinho.

— Desde quando você me colocou nessa fossa. Pensa que quero estar nessa posição aqui? Quase implorando pra você voltar? Isso é humilhante pra caralho. Se eu pudesse, nunca mais veria sua cara. Mas não posso.

— Ah, mas pode sim. Não só pode como deve. Como vai. — Caminhei na direção da saída. Não permaneceria ali naquele quarto com ele por mais tempo. Se ele não iria sair, sairia eu.

Então, de última hora, ele me agarrou de novo. Meu corpo foi de encontro ao seu e os calafrios que percorreram minha espinha foram do pior tipo, daquele que representava a aversão sentida por mim.

Para seu espanto, nem mesmo sua intervenção me impediu de alcançar a porta e fazer aquilo que eu pretendia: pedir ajuda para me livrar daquela pedra no sapato.

— Meninos — dirigi-me aos seguranças, só com a cabeça para fora da porta, já que o rei da maturidade me segurava pela cintura e restringia meus movimentos —, podem me fazer um favor e tirar o lixo desse quarto?

— Pra já, Nilo — assentiu o mais próximo, com prontidão, entrando no quarto sem demora, cortando as asinhas de Luiz e o botando para correr sem encostar um dedo nele.

Quandoo traste se picou, enfim descansei. Voltei para o quarto e me sentei na mesmapoltrona de antes. Esperei pela hora da próxima provação do dia — estava certade que existiria uma próxima. Programas problemáticos como aquele sempre vinhamacompanhados.

 Programas problemáticos como aquele sempre vinhamacompanhados

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Coitada da pobi :'(

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Beijos mil ❤️

Luz VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora