Eu dei minha vida naquele beijo. Não podia dar um beijinho mixuruca. Isso eu deixava para meu irmão e aquela geleira em forma de mulher que ele chamava de esposa. Também não podia beijar sozinho. Nisso, Tatiana me ajudou e muito.
Inclusive, tinha melhorado suas habilidades desde a primeira vez em que havíamos nos beijado — contrariando todas as convenções de que, quando se paga para meter, não se deve perder tempo com preliminares. E havia me presenteado em dobro com aquele simples ato.
Além de enfrentar o julgamento do meu irmão e nos garantir a aprovação, salvando minha pele e evitando uma investigação minuciosa por parte de Yutaka, ela me deu um tesão da porra. Puta que pariu, que beijo bom! Há tempos nenhum beijo provocava aquela euforia em mim.
Ter a contratado estava se provando uma das melhores decisões da minha vida, se não a melhor. Ainda que não houvesse qualquer sentimento envolvido e não passasse de algo acordado no contrato, eu me satisfizera e ficara grato por ela não ter me deixado na mão. Ao menos não nesse aspecto.
Noutros, ela me deixaria na mão por um tempo considerável. Principalmente, pelo teste grátis que ela dera do quanto suas habilidades evoluíram. Ficava imaginando até onde elas tinham ido, se elas se estendiam. Com certeza, agora ela sabia segurar um pau.
Mas não seguraria o meu e isso estava claro desde o princípio. Nem unzinho serviço sexual sequer para alegrar o dia: essa era sua única regra inviolável. Eu pensei que isso seria algo tranquilo de se aguentar. E estava sendo tranquilo até aquele beijo traiçoeiro.
Ela me desalinhara como um todo. Agora eu que me virasse para disfarçar o quanto havia sido afetado pelo toque daqueles lábios tão receptivos. Mas não o fiz antes de agradecer pelo seu apoio naquela empreitada de manter um namoro falso o mais acreditável possível. Só então, após expressar minha gratidão, pude focar em sossegar o facho.
Apaguei meu fogo com uma taça de vinho branco — uma das poucas bebidas permitidas na casa de meus pais — e tomei Tatiana pelo braço, levando-a de um lado para o outro, como um namorado decente faria.
Rodamos por toda a casa, conversamos sobre toda a sorte de assuntos entediantes com os convivas (que mais se distanciavam da parte "viva" da palavra) e, depois de uma intensa maratona dedicada a satisfazer a curiosidade dos meus familiares, nos sentamos no chão da varanda de meu antigo quarto.
Aquela varanda tinha história, por muito tempo fora um dos poucos lugares seguros dali e era onde eu costumava ir para dispersar a fumaça dos baseados que eu bolava para remediar todos os meus transtornos depois de interações com a família.
Bateu uma vontade enorme de fumar um para relaxar de verdade após tanto esforço para parecer minimamente apresentável e exibir minha namorada perfeita. Exibir um Eu que sequer existia, fazendo algo que eu detestava — tentar agradar. Haja saco. Não tinha como não sentir vontade de dissociar.
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Luz Vermelha
Romance+18 | Tudo que Yudi Takahashi mais quer é curtir a vida como se não houvesse amanhã. Mas querer não é poder. A sua realidade exige outra coisa dele. Sua família exige outra coisa. Arranjar uma esposa está entre as muitas exigências "veladas" de seus...