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Capítulo 6: meu passado me condena

Lena encarava a chuva fina que caía sobre a cidade. Havia se passado anos desde que deixara a mansão que chamava de lar, fugindo excom apenas uma mochila nas costas e o rosto marcado pela última briga com seu pai. As cicatrizes físicas haviam desaparecido, mas as lembranças ainda eram nítidas — a fúria nos olhos dele, o tapa que a jogou contra a parede, e a decisão de nunca mais voltar.

Ela tinha apenas 16 anos, e a promessa de um casamento com um homem de 36, um estranho, fazia seu estômago revirar. O plano do pai era claro: fortalecer os negócios da família com uma união conveniente. Lena, no entanto, não estava disposta a se sacrificar por uma vida de aparências.

O som da cidade ao fundo mal penetrando as paredes finas. O silêncio ao redor parecia se intensificar, e, sem aviso, memórias começaram a invadi-la como uma correnteza.

Ela estava de volta à grande mansão da sua infância, o piso de mármore frio sob seus pés descalços, os móveis de luxo imponentes ao seu redor, mas tudo parecia sufocante. Seu pai, um homem de postura rígida e olhar severo, estava sentado à cabeceira da mesa de jantar. Naquele dia específico, Lena tinha apenas 16 anos, sentada à mesa com ele, a mãe ao lado, completamente alheia à situação, com um copo de uísque balançando entre os dedos trêmulos.

"Você vai se casar com ele, Lena," a voz do pai ecoava em sua cabeça. Ele nem ao menos olhava diretamente para ela, apenas folheava papéis de sua empresa como se estivesse resolvendo algo trivial, não negociando o futuro da própria filha.

Lena sentiu o estômago revirar. "Mas eu só tenho 16 anos. Ele é um homem velho, eu—"

Antes que pudesse terminar a frase, a mão pesada de seu pai bateu na mesa com um estrondo, interrompendo qualquer esperança de argumentar. "Você vai fazer o que é melhor para a família. Estamos falando de um acordo milionário com uma das maiores empresas de automóveis de luxo. O casamento vai solidificar essa parceria. Não há espaço para sentimentalismos."

Sua mãe, a quem Lena muitas vezes olhava em busca de alguma intervenção, de qualquer palavra de apoio, não moveu um músculo. Completamente absorta em seu copo de bebida, ela permanecia ali, como uma sombra distante, enquanto Lena sentia sua juventude e liberdade sendo arrancadas de si.

"Eu não vou casar com ele!" Lena se levantou, a voz falhando enquanto tentava se impor, a raiva e o medo tomando conta de seu corpo. "Não sou uma mercadoria para os seus negócios!"

Foi nesse momento que tudo desmoronou. Seu pai levantou-se de sua cadeira com uma rapidez assustadora, o rosto tomado por uma expressão de fúria incontrolável. Antes que Lena pudesse reagir, ele a pegou pelo braço com brutalidade, puxando-a para mais perto.

"Você não tem escolha," ele rosnou, apertando o braço dela com força. "Você é minha filha, e você vai fazer o que eu mando. Sempre fez, e sempre fará."

Lena sentiu a dor percorrer o braço, mas a dor física era quase nada em comparação com o desespero que sentia ao perceber que não havia saída. Ela olhou para a mãe, mas a mulher permaneceu imóvel, os olhos enevoados, distantes, como se nem estivesse ali. O gosto amargo de traição se instalou em sua boca.

De repente, a lembrança da primeira vez que seu pai a bateu veio à tona. Não foi um tapa apenas, mas uma surra completa. Aquele dia em que ela se atreveu a confrontá-lo pela primeira vez, ele a jogou contra a parede, seus gritos abafados pelas paredes impenetráveis da casa de luxo, onde ninguém ousava interferir. Seu corpo adolescente não estava preparado para aquilo, mas sua alma, já naquela época, havia começado a se quebrar.

Ela nunca esquecia o que seu pai lhe dizia sempre que a agredia: "Você é um reflexo da minha empresa. Um investimento. E se for preciso quebrar você para manter essa família intacta, eu farei."

YOU ARE MINE, LENA - Nicholas Alexander ChavezOnde histórias criam vida. Descubra agora