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Capítulo 15: Pierce's

Lena cresceu em um lar de aparência impecável, um casarão de fachada elegante, rodeado por um jardim que florescia para os olhos de quem passava. Aos olhos do mundo, os Pierce eram uma família exemplar: seu pai, Edgar Pierce, era um empresário renomado, enquanto sua mãe, Margot, era a esposa perfeita, sempre bem-vestida, sorridente, e pronta para apoiar o marido em qualquer ocasião social. Mas, por trás das portas fechadas, o lar dos Pierce escondia um inferno que consumia lentamente o que restava da infância de Lena.

Desde muito nova, Lena conheceu a dor. A mão pesada do pai não hesitava em educá-la como ele acreditava ser "correto". Qualquer mínimo deslize, qualquer coisa que desagradasse Edgar, era motivo para punição. Lena tinha apenas oito anos quando a primeira marca de um tapa ficou em seu rosto por dias. Lembrava-se claramente do olhar de desprezo do pai e das palavras frias que ele despejou sobre ela, como se fosse um fardo em sua vida, algo a ser consertado.

Conforme os anos passavam, as agressões só pioravam. Em dias de fúria, Edgar não media esforços para deixar Lena com hematomas, seja no rosto, nas costelas ou nas pernas. Muitas vezes, a força do tapa a jogava no chão, e ela ficava ali, tentando conter as lágrimas para não dar o prazer a ele de vê-la chorando.

Aos 11 anos, Lena encontrou o que pensava ser uma forma de aliviar a dor que carregava: o cigarro. A primeira tragada veio escondida, em uma esquina, longe da casa, e o gosto amargo do tabaco queimando em sua garganta era a única sensação que parecia lhe dar algum controle. Com o tempo, o cigarro passou a ser um alívio diário; cada tragada levava um pouco da dor, da angústia, da sensação de impotência que tomava conta dela em casa. Aos 13, veio a bebida. Com um gole atrás do outro, Lena descobriu que o álcool amortecia as feridas internas e externas. E, quando a bebida já não era suficiente, vieram as drogas. Noites perdidas em festas clandestinas, fugindo de uma realidade insuportável, afogando-se em substâncias que ofereciam algum tipo de esquecimento temporário.

As marcas físicas eram parte de sua rotina. Em uma manhã, após uma noite particularmente violenta, Lena olhou-se no espelho. Um hematoma roxo tomava conta do lado direito de seu rosto, e as marcas vermelhas dos dedos do pai ainda estavam visíveis em sua pele. Ele a havia empurrado com tanta força que ela bateu a cabeça na parede, ficando tonta por alguns segundos. Margot, que testemunhara tudo, permaneceu em silêncio, sua expressão inalterada, como se aquele espetáculo grotesco já fosse parte natural do dia a dia. Margot nunca interveio. Apenas se mantinha calada, observando, talvez porque ela mesma já tivesse sido quebrada pelo marido de uma forma que não permitia reação.

Certa noite, Edgar estava especialmente alterado. Lena sabia que algo estava por vir ao perceber o cheiro forte de whisky misturado ao perfume caro do pai. Ele entrou em seu quarto como uma tempestade, e ela já sabia o que aquilo significava. Levantou-se, mas ele a empurrou de volta para a cama com brutalidade. Cada palavra que saía da boca dele era um golpe. Chamou-a de ingrata, de rebelde, disse que ela nunca seria digna de carregar o sobrenome Pierce. E, com cada insulto, seus socos e empurrões aumentavam de intensidade.

A cena terminou com Lena encolhida no chão, seus braços tentando proteger a cabeça, enquanto o pai saía, ofegante e satisfeito com sua "lição". Lena não chorou. Ela aprendera, ao longo dos anos, que lágrimas não lhe trariam alívio.

E de novo, voltamos para aquela noite...
Maldita noite.

Era tarde da noite. O relógio da mansão Pierce havia acabado de soar as badaladas das duas da manhã, e um silêncio pesado tomava conta dos corredores. Lena, então com 16 anos, estava deitada na cama, encarando o teto e sentindo cada músculo do corpo latejar. Havia mais hematomas espalhados pela sua pele do que ela conseguia contar. Suas costelas ainda doíam dos golpes que Edgar lhe havia dado na noite anterior, após um jantar onde ela ousara discordar de algo que ele dissera.

Aquela não fora a primeira vez, nem seria a última, mas, por alguma razão, o desgaste daquela noite parecia diferente. Havia algo dentro dela que implorava para sair daquele lugar, como se cada parede, cada móvel, cada canto daquela casa fosse um inimigo silencioso, um lembrete constante do inferno em que vivia. Edgar estava decidido a quebrá-la, a moldá-la em sua visão torta do que era "aceitável" para um Pierce.

Ela se sentou na cama, respirando fundo. Não havia espaço para lágrimas; não agora. Pegou uma pequena mochila que já estava escondida debaixo da cama há semanas. Dentro, havia poucas peças de roupa, um maço de cigarros, uma garrafa de uísque quase vazia que pegara escondido e uma pequena quantia de dinheiro que conseguira juntar ao longo do tempo. Não era muito, mas era o suficiente para afastá-la de lá por uma noite, talvez duas.

Lena calçou os sapatos sem fazer barulho e, com passos calculados, abriu a porta do quarto, colocando a cabeça para fora. O corredor estava escuro, e apenas o som do vento batendo contra as janelas quebrava o silêncio absoluto da casa. Ela desceu as escadas devagar, uma a uma, sentindo o coração bater tão alto que temia ser ouvida. No meio do caminho, hesitou ao ver a sombra do gabinete onde o pai guardava seus troféus e fotos de negócios. O olhar de Edgar parecia presente em cada quadro, vigilante e ameaçador. Mas Lena desviou os olhos, recusando-se a deixar o medo vencê-la naquele momento.

Ao chegar à porta principal, pegou as chaves penduradas discretamente ao lado. Tentou abrir a tranca o mais silenciosamente possível, mas o som do clique ecoou na mansão, fazendo-a congelar por um segundo. Quando tudo permaneceu quieto, ela empurrou a porta e saiu, respirando o ar frio da madrugada. Era o cheiro da liberdade. Pela primeira vez, sentiu que aquela noite poderia ser o começo de algo novo, longe dos gritos, das agressões e do olhar acusador da mãe, que, embora ciente, nunca a havia protegido.

Lena começou a caminhar pela calçada escura, os braços cruzados contra o vento gelado que cortava a pele exposta. O vazio da rua parecia acolhedor; ela não sabia para onde estava indo, mas, naquele momento, qualquer lugar seria melhor do que o lar dos Pierce. A cada passo, sentia a carga emocional do passado afrouxar, como se se libertasse de cada insulto, cada golpe, cada cicatriz.

Na esquina, parou, acendeu um cigarro e olhou para a mansão pela última vez. Havia algo melancólico naquela imagem. Pensou no quanto desejou ser amada por aquelas pessoas e no quanto eles a feriram por ela não se adequar aos padrões rígidos e desumanos que eles impunham. As luzes continuavam apagadas, como se a casa não tivesse percebido sua ausência. A fumaça do cigarro subia em espirais, misturando-se com a brisa da madrugada, enquanto Lena dava as costas para o passado.

Ela estava finalmente livre.

"Minha filha, está morta..." Edgar dizia em um encontro entre amigos, sem se importar muito com suas palavras.

YOU ARE MINE, LENA - Nicholas Alexander ChavezOnde histórias criam vida. Descubra agora