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Capítulo 20: arrependimentos da noite passada

A luz da manhã filtrava pelas cortinas da pequena janela do quarto de Lena, iluminando a cena com uma suavidade quase cruel. Acordou com o corpo exausto, os músculos doloridos de uma noite que, agora, parecia um borrão entre o prazer e o arrependimento. Estava jogada na cama, os lençóis retorcidos envolviam seu corpo nu e uma sensação de vazio pairava no ar. O quarto, ainda com o cheiro de pele e suor, a fazia recordar, em detalhes, da intensidade com que Liam a tocara, do modo como suas mãos a marcavam, deixando memórias em forma de arrepios.

Lena passou as mãos pelos cabelos desalinhados, tentando afastar as lembranças, mas era impossível. O sorriso cafajeste de Liam, a forma como ele a devorava com os olhos, cada gesto, cada palavra rouca sussurrada contra sua pele... Tudo voltava com uma força esmagadora. Um suspiro escapou por seus lábios, mas, assim que olhou ao redor e percebeu a cama vazia, sentiu o peito se apertar.

"Por que eu pensei que seria diferente?" murmurou para si mesma, a voz carregada de uma amargura familiar. Não havia sinais dele, apenas o silêncio sufocante da manhã. Levantou-se lentamente, os pés descalços tocando o chão frio do quarto enquanto procurava algo para vestir. A casa parecia mais vazia do que nunca, ecoando o som de sua respiração acelerada.

O relógio na parede marcava 9h30, mas teria que passar na cafeteria, para pegar seu pagamento. Ela estava atrasada, e não apenas para o trabalho na loja. Estava atrasada para colocar sua vida nos eixos, para lembrar que existia um lado dela que não dependia daquele caos, da adrenalina que Liam injetava em suas veias. Envolveu-se no robe fino que encontrou e andou até o espelho. Os olhos castanhos refletiam mais do que uma noite mal dormida; refletiam confusão, desejo e um toque de desespero.

"Liam..." disse baixinho, mais como uma despedida sussurrada do que uma invocação. Ele não estava lá, e isso dizia mais do que qualquer palavra que poderiam ter trocado.

O som de sua secretaria eletrônica apitando, esperou e por um momento achou, que seria Liam, então esperou, com o coração disparado, mas não, era a voz de Mark.

"Trouxe flores para você, posso te encontrar na cafeteria?"

Mark. O homem que parecia tudo o que Lena precisava, mas nunca o que seu coração realmente queria. Ele era gentil, previsível, o oposto do caos de Liam. Era o tipo de homem que oferecia estabilidade, e talvez, pensou ela, era disso que precisava agora. Longe dos jogos, longe da intensidade que deixava marcas invisíveis em sua pele.

Vestiu-se rapidamente, optando por algo simples, uma blusa de malha e jeans. Precisava parecer mais tranquila, mesmo que por dentro tudo estivesse um turbilhão. No caminho para a cafeteria, o sol brilhava, mas Lena não sentia seu calor. As ruas estavam movimentadas, pessoas indo e vindo em uma rotina que parecia inalcançável para ela. Seu corpo ainda respondia ao toque de Liam, e isso a irritava profundamente.

Ao chegar na cafeteria, o cheiro familiar de café e pão fresco a acolheu. Mark estava ali, sentado em uma mesa perto da janela, com um buquê de flores silvestres em mãos e um sorriso que era, de fato, sincero. Quando a viu, os olhos se iluminaram de um jeito que fez Lena quase se sentir culpada.

"Oi, dorminhoca," brincou ele, levantando-se para cumprimentá-la. "Espero que goste das flores."

Lena forçou um sorriso, aceitando o buquê e aspirando o aroma suave. "São lindas, Mark. Obrigada." Sentou-se de frente para ele, tentando ignorar a sensação de que ainda carregava Liam em cada poro de sua pele.

O diálogo seguiu leve, com Mark falando sobre sua semana, as histórias do trabalho, e os planos que tinha para o próximo fim de semana. Ele era perfeito, pensou ela. Atencioso, previsível, o porto seguro que deveria querer. Mas cada palavra dita por ele soava distante, abafada, como se uma parte dela estivesse em outro lugar, ou melhor, com outra pessoa.

YOU ARE MINE, LENA - Nicholas Alexander ChavezOnde histórias criam vida. Descubra agora