25

130 15 0
                                    


Capítulo: Se passava no noticiário

A luz trêmula da manhã entrava pelas cortinas mal fechadas, mas o foco de Lena estava inteiramente na tela fosca de sua velha TV tubo. O programa matinal, com suas cores desbotadas e narrador monocórdico, tinha acabado de dar lugar a uma reportagem especial. Ela sequer havia notado quando o tom da música de fundo mudou, anunciando algo grave. Estava distraída com o café frio em mãos, os olhos fixos, mas vazios, no que passava na tela.

Foi o som de um nome, Pierce, que trouxe sua atenção de volta à realidade. Seu coração vacilou, como se fosse capaz de prever o impacto daquilo que viria.

"Na madrugada desta quarta-feira, uma tragédia abalou a comunidade local. Charles e Eleanor Pierce, conhecidos por sua presença no setor automotivo e em eventos da alta sociedade, foram encontrados mortos em circunstâncias que ainda estão sob investigação. O caso... envolveu sinais claros de violência..."

Lena largou a xícara com um baque surdo no chão de madeira, ignorando o café derramado que começava a se espalhar.

As imagens começaram a piscar na tela: o portão de ferro forjado que ela conhecia tão bem, o jardim impecavelmente aparado que outrora era seu lar, agora cercado por faixas amarelas. Policiais entravam e saíam, carregando pastas e máquinas fotográficas. Então, uma foto de seus pais em um evento, sorridentes e brilhantes.

Uma lágrima quente escorreu por seu rosto. Quando a câmera cortou para o corredor de mármore, onde uma sombra manchada denunciava a cena do crime, algo dentro dela se rompeu.

Ela caiu de joelhos, as mãos cobrindo os lábios trêmulos. O ar parecia pesado, e respirar tornou-se difícil.

Charles e Eleanor Pierce. Seus pais. Assassinados.

"Por quê?"

O silêncio da casa foi quebrado por um som estridente. O telefone na pequena mesa ao lado da poltrona tocava insistentemente. Lena, ainda em choque, tentou recuperar o controle. Enxugou as lágrimas com a manga da blusa e rastejou para alcançar o aparelho.

"Alô?" Sua voz soou fraca, hesitante.

"É a senhorita Pierce?" A voz do outro lado era seca, protocolar.

"Sim. Quem está falando?"

"Meu nome é detetive Harris, estou investigando o caso envolvendo seus pais. Precisamos que você compareça à delegacia para algumas perguntas. Há questões que exigem sua presença."

O chão pareceu se abrir sob Lena. Suas mãos suavam, e a cabeça girava. O homem continuava falando, mas as palavras soavam distantes, como se ele estivesse do outro lado de um túnel.

"Desculpe, detetive... eu..." Ela tentou dizer algo, mas a linha ficou muda. Ele havia desligado.

A imagem do portão de sua antiga casa não saía da cabeça de Lena enquanto ela se sentava no pequeno sofá. As memórias invadiram sua mente como um maremoto. O pai, rígido e distante. A mãe, com um sorriso que escondia mais do que mostrava, perdida entre taças de vinho e conversas vazias de festas. É claro, drogas.

Apesar das mágoas e da fuga, eram seus pais. Eles pertenciam a um mundo que ela odiava, mas que também moldara sua existência. A ideia de que não estavam mais lá, de que nunca mais ouviria a voz deles, era um golpe que ela não sabia como suportar.

O peso da notícia começou a sufocá-la, e ela fez a única coisa que sabia fazer: saiu. Precisava caminhar, respirar, encontrar alguma forma de processar aquilo.

As ruas estavam frias e agitadas, mas Lena não notava. Caminhava sem rumo, os pensamentos embaralhados. No meio do caos, sentiu um calafrio subir pela espinha. Um pressentimento, um aviso que ela não podia explicar.

YOU ARE MINE, LENA - Nicholas Alexander ChavezOnde histórias criam vida. Descubra agora