Capítulo 03 - Filhos

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Voltando do culto, uma pastora de nome Juvelina chegava em casa. Os ecos da pregação ainda reverberavam em sua mente. Ao abrir a porta de casa, um barulho inusitado chamou sua atenção. Com passos cuidadosos, aproximou-se do quarto da filha.

— Pretinha? — chamou com a voz quase um sussurro.

Ao empurrar a porta, encontrou Pretinha na cama, acompanhada de Almeida.

— Misericórdia! — exclamou, levando as mãos ao coração. — Pretinha?!

O susto de Pretinha foi instantâneo, e ela começou a se arrumar de forma apressada, enquanto Almeida tentava manter a compostura.

— Dona Juvelina? — disse Almeida, tentando suavizar a situação.

— Minha mãe! Meu Deus do céu, Almeida, meu pai eterno... — gaguejou Pretinha, em pânico.

— Sangue de Jesus tem poder! Em pleno Ano Novo! — Juvelina exclamou, fechando os olhos por um instante, como se a oração pudesse apagar a cena horrenda que acabara de testemunhar. — Dona Preta, estarei na sala à sua espera!

Ao passar na cozinha, Juvelina tentava se acalmar, bebendo água. O coração ainda acelerado quando Pretinha entrou.

— Mainha? — chamou, fazendo Juvelina se sobressaltar.

— Ai, meu Deus! — Juvelina exclamou, colocando a mão no peito. — Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo...

— Dona Juvelina! — interrompeu Pretinha, com um grito que fez a mãe pular.

— Ô minha mãe? Me desculpe, eu pensei que o culto ia ser demorado! — a filha disse, tentando se justificar.

— Tu ainda dizes isso assim na minha cara, Preta? Esse mundo está perdido mermo! — Juvelina retorquiu, indignada. — Já dizia Êxodo 20:12: Honra teu pai e tua mãe a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.

— Eu e Almeida nos amamos, minha mãe, e a senhora sabe! — declarou Pretinha, firme.

Juvelina se levantou e a expressão de preocupação estampava seu rosto.

— Não, não sei de nada não e nem quero saber dessa pouca vergonha! Deitar-se com um homem antes do casamento... eu não te tirei da rua pra tu me fazeres uma desgraça dessa, Pretinha...

— Me devolva pra rua então... — Pretinha fez drama, como se estivesse prestes a chorar.

— Pretinha, minha filha, não foi isso que eu quis dizer... é que... e se esse povo aqui de Marajó começa a falar de você? E quando eu não puder mais pregar na igreja? Eu tenho que preparar você para ser a pastora no meu lugar!

Pretinha, em tom cômico, respondeu:

— Deus é mais, minha mãe, quero ser pastora não...

Juvelina, dramatizando, fingiu desmaiar, mas ninguém notou.

— Quero viajar o mundo com Almeida, mas primeiro preciso passar em um concurso para trabalhar como policial ao lado dele... — Sonhou a jovem, seus olhos brilhando de esperança.

Nesse instante, Almeida apareceu. — Pretinha!

Juvelina, saindo de seu fingimento, virou-se rapidamente para o casal.

— E você ainda está aqui? Vá embora antes que eu solte os cachorros em cima de você...

— A senhora vai cometer o pecado da morte com meu Almeida? Matar é pecado, mainha, e a senhora sabe disso... — Pretinha comentou, tentando manter a leveza da situação.

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