Capítulo 12 - Cicatrizes

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O sol mal havia rompido a linha do horizonte quando Tita acordou com a respiração ofegante e o corpo coberto de feridas. A luz fraca do hotel iluminava seu rosto sujo manchado de sangue e os vestígios do horror que havia vivido. Com um esforço, levantou-se da cama, sentindo cada movimento como uma punhalada. As cicatrizes falavam. Os ecos da noite anterior ainda reverberavam em sua mente, como sombras indesejadas.

Enquanto se arrumava, sua mente viajava para uma conversa recente com sua mãe, Jane.

"Filha, só me faça uma coisa... não saia de casa hoje, fique aqui comigo!"

As palavras reverberavam em sua cabeça.

"Eu preciso trabalhar, mãe!"

"Filha, eu não estou com um bom pressentimento!"

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Tita ao lembrar do aviso de sua mãe. Se ao menos tivesse escutado...

Tita caminhava pelas ruas da ilha, tentando manter a cabeça erguida. Mas a realidade era cruel. Logo, foi avistada por Alê e Pretinha, que a reconheceram imediatamente.

"Égua... aquela é Tita?" murmurou Alê, enquanto os dois corriam em direção à amiga.

"Tita!" gritou Pretinha com a voz cheia de preocupação.

Quando se aproximaram, Alê questionou, com os olhos arregalados: "O que aconteceu?"

"Não foi nada, eu mereci, eu estou bem, eu mereci..." As palavras de Tita saíam entrecortadas com um reflexo da dor e da confusão que sentia.

"Mereceu o quê? O que foi?" insistiu Pretinha com a expressão de preocupação se transformando em indignação.

Alê, percebendo a gravidade da situação, disse: "Acho melhor levarmos ela pra casa."

"Vamos, espero que dona Jane ainda esteja em casa!" respondeu Pretinha, ajudando Tita a se manter em pé.

Ao chegarem na casa de Tita, Jane abria a porta com a expressão alarmada.

"Filha? Minha filha? O que aconteceu? O que fizeram com ela?" seu olhar penetrante buscava respostas.

"Nada, mãe, não foi nada!" Tita tentava se proteger, mas a fragilidade em sua voz denunciava a verdade.

"Eu senti, minha filha! Eu te disse pra não sair de casa, eu não estava errada!" Jane falou com um tom de desespero.

"Foi culpa minha!" Tita respondeu, a voz embargada.

Alê interveio: "Madrinha, a gente a encontrou na rua assim!"

"Não tá dizendo nada com nada, cheirosa!" reclamou Pretinha.

"Obrigada por trazê-la. Agora podem ir meus filhos, eu cuido dela, disse Jane, forçando um sorriso para esconder a angústia.

"Tchau, madrinha!" se despediu Alê.

"Tchau, dona Jane!" completou Pretinha, enquanto saíam, deixando Tita e Jane a sós.

Na casa dos Ferrari, Ávila encerrou uma ligação com um ar de frustração. "Era só o que me faltava!" exclamou, batendo a mão na mesa.

"O que foi?" perguntou Niko, curioso.

"A inútil da Jane vai faltar hoje porque tem que cuidar da filhinha que foi espancada!" respondeu Ávila com desdém.

"Tita foi espancada?" Nikolau questionou, preocupado.

Tita? "Que intimidade é essa com a filha da empregada? Espero que vocês não se misturem com esse tipo de gente, até porque, se foi espancada, deve ter merecido. É isso que dá passar a noite nas balsas vendendo o corpo por mixaria!"

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