Capítulo 13 - A Primeira Vítima

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Ávila lembra do dia da morte do seu ex-marido Isaac.

Na penumbra da sala, o som da conversa ao telefone flutuava, como um sussurro que ecoava pelas paredes. Ávila, grávida do seu segundo filho, falava com Iolanda ao telefone, com a voz tensa, revelando alguns segredos obscuros.

— Iolanda, e a carga? — a urgência em sua voz era palpável.

Houve uma pausa, como se a outra parte da conversa estivesse tentando encontrar palavras.

— O cliente quer uma criança de 10 anos! Eles pedem, e a "capital" resolve! — a incredulidade se misturava à frieza das palavras de Iolanda.

— Dê um jeito. Não me importa como vai fazer, só pegue qualquer criança da ilha e leve até o cliente. São 100 mil reais em jogo, 100 mil! Tente atrasar os outros colaboradores e faça o que tem que ser feito! A "Capital" em primeiro lugar!

Ao desligar, não percebeu que Isaac, seu marido, estava ouvindo. A tensão no ar crescia.

— Isaac, meu amor, você está aí há muito tempo? — perguntou Ávila, tentando disfarçar o nervosismo.

— Então é isso Ávila? Eu estava certo sobre a "capital", eu estava certo o tempo todo! — a voz dele era um misto de dor e raiva.

— Meu amor, certo de quê? Sente-se aqui! — ela implorou, mas ele se afastou.

— Ávila, saia de perto de mim!

— Tudo bem, tudo bem Isaac, você me pegou, é isso, fui descoberta. Agora me diz, o que é que você vai fazer?

— Quantas crianças foram traficadas por essa sua organização? "Capital", Não é? Quantos homens se deitaram com essas crianças?

— Não se espante, marido. São muitos que você nem imagina. É a lei da selva, Isaac. É a lei de Marajó! Foi assim que eu aprendi, foi assim que me ensinaram!

— Ninguém ensina bandido a ser bandido! — ele retrucou, a voz elevada.

Ávila riu, uma risada amarga.

— Ninguém ensina bandido a ser bandido? Em que mundo você vive?

— Olha para isso tudo ao nosso redor, Isaac! Olha a dimensão dessa vista! Aqui é Marajó! — gritou Ávila, a voz cheia de fervor.

Ela gesticulava, enfatizando a paisagem que a cercava, como se quisesse que ele realmente visse o que ela via.

— Veja a vista imensa dessa ilha! Você acha que os poderosos se importam com as vidas desse povo? Eles estão tão distantes da nossa realidade, e é assim que funciona e a culpa não é minha!

— É impressionante como isso tudo agora faz sentido... Diz Isaac.

— A, agora faz sentido, faz? Não me diga! Há décadas que nosso sustento é fruto desse sistema, e no fundo você sempre soube.

— Ávila, se soubesse, já teria lhe denunciado! Mas continue. Põe pra fora. Põe pra fora e mostra quem você é!

— E eu não estou sozinha! Ou você não percebeu que quem desfruta desse grande exército são os grandes? Os da ilha e os de fora dela... justamente aqueles que você insiste em colocar num pedestal! — Ávila disparou com a indignação em sua voz.

Ela olhou para Isaac, desafiando-o a reconhecer a verdade que ela via.

— Eles são os que se beneficiam do sistema. Enquanto nós, os que nasceram aqui, tivemos que lutar para sobreviver. Não dá mais para ignorar essa realidade!

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