Capítulo 23 - A Lista

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Na delegacia, Guinzé respirou fundo e continuou a revelar o que sabia.

— Doutora, a minha mãe está profundamente envolvida com a Ávila e a Capital. Elas estão por trás de várias atividades ilegais em Marajó, e a influência dela na comunidade é enorme. Muitos não percebem, mas ela usa a igreja como fachada.

Aymeê e Almeida se entreolharam, percebendo que cada palavra de Guinzé era um cadeado se abrindo, revelando uma rede de corrupção e manipulação.

— E tem mais — continuou Guinzé, agora com mais confiança. — Eu ouvi conversas sobre um plano específico que eles estão arquitetando. Algo que pode afetar não só a nossa ilha, mas toda a região.

— O que você ouviu? — perguntou Aymeê, inclinando-se para frente, atenta.

— Eles falam sobre um transporte de drogas disfarçado de ajuda humanitária. A minha mãe sempre faz questão de participar de campanhas sociais, mas é tudo parte do plano. Elas estão usando a boa vontade das pessoas para encobrir o que realmente fazem.

A sala estava em estado de choque, enquanto Guinzé continuava a expor os segredos que poderiam desmantelar a organização. Os cadeados da verdade estavam começando a se abrir, e a delegada sabia que aquele poderia ser o ponto de virada na investigação.

— Desde que nosso pai morreu, nossa mãe se empenhou em cuidar da igreja que é dela e também pastora. Ele deixou muitas dívidas, e nós não podíamos pagar. Então, eu decidi ir embora para trabalhar. Já era maior de idade, e Pretinha só tinha 15 anos. Fui enfrentar tudo para tentar ajudar nas despesas — continuou Guinzé com a sua voz tremendo levemente.

— Mas não demorei muito por lá. Pretinha cresceu desconfiando de algumas coisas e sempre me mantinha informado. Um dia, minha mãe reformou a igreja e começamos a ter uma vida estável. Pensei que seria fruto de muito trabalho e dedicação, mas com tantas dívidas, só um milagre poderia nos ajudar.

Ele parou por um momento, respirando fundo antes de continuar.

— Então descobri como minha mãe ganhava tanto dinheiro. Ela me convenceu a voltar e fazer parte da "Capital", mas eu não fazia o que ela fazia... — Guinzé hesitou, a culpa evidente em seu olhar. — Eu não queria me envolver, mas a pressão era enorme. Ela estava fazendo algo muito maior, e eu não tinha ideia do quanto estava arriscando.

Aymeê e Almeida estavam em silêncio, absorvendo cada palavra, percebendo a profundidade da situação. A revelação de Guinzé não apenas abria os cadeados da verdade, mas também mostrava o dilema moral que ele enfrentava.

— Quando voltei de viagem, não sabia ao certo como seria meu trabalho. Foi então que minha mãe mandou eu falar com o seu ex-marido, o senhor Tenébrio Ferrari. Ele me propôs um esquema: existe uma rede de aplicativos de encontros criada pela organização chamada: "Capital encontros". Eles faziam perfis falsos que atraíam os clientes. Ficavam responsáveis por marcar encontros, e era quando tudo acontecia...

— O que acontecia? — Aymeê perguntou, seus olhos fixos em Guinzé.

— Nos encontros, tínhamos que fazer com que os clientes bebessem pelo menos uma taça de um espumante que eles nos davam. Sempre era um diferente, de marca cara, mas não era apenas espumante. Depois da primeira vez, deduzi que havia alguma substância que fazia a pessoa dormir. — Meu trabalho era roubar os pertences, cartões e as contas bancárias dessas pessoas enquanto elas dormiam — completou Guinzé, a voz tremendo de nervosismo. E logo após, tínhamos que tirar fotos delas nuas para que a "Capital" pudesse ameaçá-las a não contar à polícia!

A sala ficou em silêncio e a gravidade do que Guinzé revelava se instalava entre eles. Aymeê e Almeida trocavam olhares, cientes de que estavam diante de um testemunho crucial para desmantelar a organização criminosa.

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