O ambiente do quarto em que Tita estava era pesado, quase opressivo, enquanto Tita se via em meio ao caos. O eco da voz de Tenébrio ainda ressoava em seus ouvidos, trazendo uma onda de pânico.
— Corra, pequena Tita, que a polícia já deve estar chegando!
Ela olhou ao redor, desesperada, sussurrando para si mesma.
— Meu Deus, senhor, me ajuda!
Foi então que um jovem surgiu no corredor do hotel, cortando a tensão que a cercava.
— Moça, por aqui, vem! — disse Guinzé, com um olhar decidido.
Tita hesitou com a insegurança transparecendo em seu rosto, mas a urgência a forçou a aceitar a ajuda.
— Quem é você? — perguntou Tita, enquanto se dirigia rapidamente para a saída.
— Desculpa, nem me apresentei. Guinzé! Sou filho de dona Juvelina, irmão de Pretinha.
— Tita! — ela respondeu.
Após conseguir saírem do hotel e um pouco mais tranquila, Tita falou. — Conheço sua mãe. Pensei que você ainda estivesse morando fora!
— Voltei há pouco. Mas, antes que me diga, posso adivinhar o que você estava fazendo naquele quarto!
Ela franziu o cenho, mas a curiosidade tomou conta.
— Como assim?
— Um teste de trabalho, acertei?
A tensão que antes a consumia começou a se dissipar enquanto eles caminhavam pela rua.
— Quem é você? — Tita indagou, tentando compreender a situação.
— Guinzé, eu já te falei, cheirosa. Não se preocupe, eu sei disso porque eu também estava fazendo a mesma coisa! — ele respondeu, rindo levemente. — Só não era com um homem, era uma mulher. Levei o espumante como me pediram, ela dormiu, peguei os pertences dela, encontrei você, fugimos e estamos aqui!
Tita estava perplexa, ainda tentando processar a realidade que a cercava.
— E como você conseguiu esse teste? — indagou.
— Um link que achei na internet. Guinzé sorriu de forma enigmática. Aqui em Marajó, qualquer emprego que aparece não se torna suspeito quando você precisa!
— Mas isso não é perigoso? — perguntou Tita, a preocupação evidente em seu olhar.
Guinzé ergueu uma sobrancelha e, com um sorriso irônico, respondeu:
— Defina perigoso.
Tita hesitou, ponderando. A tensão entre a curiosidade e a insegurança a fazia lutar com as próprias palavras.
— Eu já ouvi falar sobre algumas lendas de Marajó, mas... várias delas são só histórias, não são?
Guinzé estreitou os olhos, o sorriso desaparecendo lentamente.
— Algumas lendas — disse ele, com a voz firme — são mais reais do que você imagina. Elas sobrevivem ao tempo porque carregam verdades que ninguém quer lembrar.Tita sentiu um calafrio correr pela espinha, mas não desviou o olhar.
Guinzé inclinou-se ligeiramente para frente, como se quisesse que cada palavra cravasse fundo na mente dela.
— O mundo está cheio de esquecidos, Tita. Gente que o poder decidiu ignorar. Mas vou te dizer algo: alguns desses esquecidos vivem cercados de cadeados enferrujados. E se um dia as ferrugens desaparecerem, se esses cadeados forem abertos... — Ele fez uma pausa, seus olhos parecendo olhar além, para algo que Tita não conseguia ver. — Bem, digamos que ninguém sairá ileso.
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CADEADOS
Mystery / ThrillerSINOPSE Cadeados é um suspense imersivo e visceral que transporta o leitor para o coração pulsante da Ilha de Marajó, onde riqueza, poder e segredos mortais se entrelaçam em uma teia perigosa e intrigante. A matriarca Ávila Ferrari, comanda uma vast...