Eu entendia cada vez menos tudo o que se passava. Depois de praticamente me salvar de Madame M., Jin e eu estabelecemos uma
espécie de rotina. Diariamente ao meio dia, eu batia naquela porta. Dentro do seu apartamento éramos um só, nos descobrindo de todas as formas possíveis.Eu precisava lembrar constantemente que aquilo era um trabalho e que Jin estava apenas me deixando à vontade de propósito. Não demoraria muito para eu ter que dormir com o Sr. Attwood. E disso eu não teria como fugir.
Uma tarde, ainda ofegante depois de transar pela primeira vez estando por cima, deitei ao seu lado e o observei tentando criar coragem para fazer uma pergunta. Jin era muito educado, mas não dava muita abertura para
conversas triviais, mesmo me sentindo um pouco mais à vontade, ainda o achava muito intimidador.– Consigo ouvir seus pensamentos daqui, garota, o que você quer saber?
Prendi o ar, ele ser assim tão observador não ajudava em nada. Mas resolvi tirar uma dúvida que me intrigava há um tempo.
– Por que você usa esse relógio?
Ele franziu a testa e olhou para o pulso.
– Para ver as horas eu acho – respondeu muito sério e eu caí na gargalhada o que o fez franzir a testa ainda mais.
– Você é engraçado, leva tudo ao pé da letra. O que eu quis dizer é que esse relógio apesar de lindo, não combina com o seu estilo, tenho esscuriosidade desde a primeira vez que vim aqui.
– Ah! – ele disse e um sorriso brotou em seus lábios – meu pai tinha uma barbearia e fez muitos sacrifícios para que eu estudasse, quando eu me formei em Harvard, ele gastou quase todas as economias para me dar um
presente. Dizia que eu tinha que estar à altura das empresas que trabalharia dali em diante. Esse é mesmo um modelo mais simples, mas além de ser um Patek Phillipe original, para mim é a coisa mais valiosa que eu tenho. Alguns dias depois da minha formatura, meu pai morreu e desde então esse relógio nunca mais saiu do meu pulso.Eu não sabia o que era um Pattek Phillipe original, mas nem em um milhão de anos, imaginei que Jin tivesse uma origem humilde e muito menos tanta sensibilidade dentro de si.
O abracei e seu corpo ficou tenso, porém não me importei e já que eu tinha criado coragem para fazer perguntas, continuei. Eu sofria desse problema, não tinha filtro na língua e não sabia a hora de parar de falar.
– Jin, por que você ligou para Madame M.?
Meu coração bateu como um tambor à espera da sua resposta. Ele respirou fundo antes de começar a falar.
– Como te disse, meus pais não eram ricos e construí tudo que tenho do zero. Attwood e eu fizemos Harvard juntos, desenvolvi um programa. Ele entrou com o dinheiro, mas então roubou tudo que eu tinha – seu maxilar
tremeu quando disse isso. – Eu era uma pessoa menos controlada nessa época, fiquei transtornado pela... traição. Então cometi um erro bobo: não consegui deixar por isso mesmo e, agora que foi provocado, veio com tudo...