Arthdal Warrior | Yangcha

1.1

Mais uma noite sem descanso. Os pesadelos tinham sido frequentes ultimamente e, naquela noite, Jiyeon acordou abruptamente, ofegante, com o coração acelerado. Ela estava imersa numa visão distorcida, de medo e dor. Em seu sonho, um rapaz com o mesmo rosto de Saya, seu irmão, estava lá. Mas não era ele, não podia ser. Os olhos do rapaz, as feições... tudo nele era uma réplica do seu irmão, mas havia algo de estranho na maneira como ele olhava. Ele estava rodeado por fogo e gritos, a tribo dele sendo destruída e capturada, tudo a arder diante dela. As sombras, o caos, o som de seus próprios gritos... Tudo aquilo parecia tão real, como se ela estivesse lá, perdida, impotente para salvar alguém tão próximo, alguém que carregava o mesmo sangue que ela. Os ecos dos gritos, a visão da destruição, ainda estavam presentes em sua mente, atormentando-a. Ela não conseguia respirar normalmente, a sensação de sufocamento tomando conta de seu corpo.

Do lado de fora, Yangcha estava atento, como sempre. Ele estava no corredor, ainda em guarda, quando os gritos da princesa cortaram o silêncio da noite. Sem hesitar, ele entrou no quarto, os passos rápidos mas silenciosos. Quando a viu ali, deitada na cama, a chorar e as mãos a tremer, ele imediatamente aproximou-se, a expressão séria e focada, ainda que sem saber o que fazer. Ela estava paralisada, perdida no pesadelo que ainda a atormentava.

Yangcha observou-a de perto. Ela estava em pânico, mas, por sorte, parecia estar acordando do pesadelo. Ele sentiu a urgência de a acalmar, mas não sabia como fazer isso. Eles não tinham um vínculo emocional claro, apenas o dever de um para com o outro, e ele não sabia como confortá-la da maneira que ela precisava. Ele hesitou por um momento, observando-a com o coração apertado, mas, ao ver os seus olhos perdidos e o seu corpo ainda tremendo, uma sensação de necessidade de a proteger tomou conta dele. Ele se aproximou lentamente, mantendo-se ao seu lado, mas sem tocar nela. Ele não sabia se o toque seria o que ela precisava ou se, ao contrário, seria mais um lembrete de uma intimidade que não podiam ter.

Jiyeon estava ainda ofegante, olhando para ele com os olhos dilatados, como se o reconhecesse, mas ao mesmo tempo estivesse perdida na transição entre o pesadelo e a realidade. Ela tentou respirar fundo, mas as palavras não vinham. A sensação de impotência e medo ainda estava no ar.

Yangcha, observando cada movimento dela com uma atenção desconcertante, finalmente se atreveu a falar, sua voz calma e suave, mas firme:

"Está tudo bem, Jiyeon. Já passou."

Ele estava a tentar convencê-la de que o pesadelo não era real, de que ela estava segura, mas sabia que as palavras nem sempre eram suficientes. Jiyeon ainda não conseguia falar, a angústia do sonho ainda a dominando. Ela fechou os olhos e levou as mãos ao rosto, tentando afastar a sensação de que estava a perder o controle sobre si mesma. Yangcha, sem saber o que mais fazer, sentiu um impulso estranho, algo que o fazia querer agir, não apenas como o guarda que era, mas como alguém que queria, de algum modo, ajudá-la a acalmar-se. Mas ele não podia... não podia ultrapassar a barreira que os separava.

"Precisas de descansar." disse ele, com mais convicção. "Se quiseres, posso ficar aqui até adormeceres."

Ela ainda estava muito abalada para responder, mas a simples presença dele, calma e constante, parecia trazer-lhe algum tipo de consolo. Mesmo que as palavras dele não fossem capazes de apagar o medo que ela sentia, a sua presença silenciosa fazia com que ela se sentisse um pouco mais segura, pelo menos por aquela noite. E assim, eles permaneceram ali, em silêncio, com Yangcha ao lado da princesa, tentando transmitir-lhe com a sua presença o que palavras não podiam dizer.

Amanheceu, mas Jiyeon não conseguiu dormir mais. Os raios da luz suave atravessaram as cortinas do quarto, iluminando o espaço, mas ela ainda se encontrava imersa nos pensamentos tumultuados que o pesadelo lhe havia deixado. Tentou fechar os olhos novamente, desejando apagar o que tinha visto durante a noite, mas o medo e as revelações de Saya pairavam como uma nuvem densa sobre sua mente. Ela sabia que o sonho não era apenas um pesadelo. Era algo mais profundo, algo relacionado com tudo o que estava a descobrir, com tudo o que ainda não entendia sobre si mesma e sobre os outros ao seu redor.