Capítulo 11

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BIANCA MONTANARI

-Alinhe melhor os punhos.

-Estou fazendo o que posso. - Resmungo a contragosto, tentando alinhar os punhos pela sétima vez nos últimos dez minutos - Eu disse que não sou uma pessoa atlética.

-Isso não está relacionado a ser atlético ou não. Trata-se de autodefesa e proteção. - Luca mais inclina a cabeça, finalmente mostrando todo seu rosto que estava escondido antes atrás do saco de boxe - A sua proteção.

-Eu sempre carrego spray de pimenta na bolsa.

-Spray de pimenta serve para te dar alguns segundos de vantagem em uma corrida, autodefesa te permite chegar a um lugar seguro.

-Eu não sei bater nas pessoas. Você já viu o meu tamanho? Eu não intimido ninguém!

Suas maravilhas azuis, também conhecidas como olhos, percorrem lentamente meu corpo em minha roupa de ginástica. Uma legging, um top e uma blusa, cabelo preso em um rabo de cavalo e bastante suor para ostentar. Devo estar uma coisa terrível de vista, mas Luca me olha com tanto interesse e fome que preciso me remexer sob sua minuciosa avaliação.

-Seu tamanho é uma graça e seu corpo é uma porra de tentação. É isso que você precisa usar ao seu favor, as pessoas não esperam que coisinhas pequenas sejam perigosas ou intimidantes. É a sua chance para quebrar o pescoço de alguém.

-Você é obcecado com quebramento de pescoços, sabia disso?

-Há melhor garantia de que alguém não voltará a causar problema do que quebrando seu pescoço? Antecipar a passagem de alguém para o inferno deveria ser considerado um favor à sociedade.

-Tudo bem. - Suspiro derrotada e paro essa tentativa ridícula de soco, apoiando minhas mãos enluvadas no quadril - Não há uma maneira mais fácil? Como vou quebrar o pescoço de um homem do seu tamanho? Escalando? Subindo em um banquinho?

Luca contorna o saco de pancadas e para entre mim e a grande coisa preta pendurada no teto. Ele cruza seus braços sobre o peito magnificamente esculpido pelos deuses do Olimpo e flexiona seus incríveis olhos azuis para mim. Seu cabelo está desalinhado e algumas mechas caem sobre os olhos, emoldurando seu rosto ridiculamente bonito. A Natureza é tão injusta.

-Vamos tentar novamente. - Suas mãos tomam meu braço e me libertam da luva de boxe antes de fazer o mesmo com o outro.

Eu deveria mostrar um pouquinho de dignidade e não olhá-lo com olhinhos apaixonados de cachorrinho, mas sou uma mulher falha e não tenho essa resistência toda. Ajudaria me iludir e dizer que tenho algum ódio por ele se não tivesse encontrado esse raro exemplar de beleza masculina adormecido na minha cama hoje. O homem é tão bonito que consegue me deixar perturbada enquanto dorme, quem consegue ser belo enquanto está adormecido? Por Dio, minha irmã é provavelmente a pessoa no mundo que mais coleciona fotos minhas dormindo de boca aberta ou em alguma pose humanamente impossível.

-Vamos aceitar que sou a garota do spray de pimenta? - Questiono com uma esperança fingida, lutando para não permitir que meus pensamentos caóticos desviem minha atenção. Se bem que Luca estar usando uma camisa regata não é um bom exemplo de concentração também. Tudo bem, alguém já pode estapear meu rosto na esperança de me lembrar que eu deveria ter alguma dignidade.

-Disse que vamos tentar novamente, não que vamos aceitar esse spray de merda.

-Não ofenda meu spray assim, ela foi muito útil quando precisei.

-Claro. - Resmungou enquanto massageava meus dedos. Eles não estão doloridos nem nada do tipo, mas ter um homem sexy relaxando meus dedos dessa maneira é o suficiente para fazer minha mente criar pensamentos indevidos.

Onde está aquela coisa toda de ser uma dama? Uma moça de família, Bianca. Me ajude a te ajudar, garota!

-O que tem em mente? - Mordi meu lábio, repentinamente sentindo-me tímida por sua proximidade. Os olhos de Luca focaram em minha boca quando ele engoliu em seco.

-Muita coisa errada, muita foda e sinceramente muitos gemidos da sua parte. - Luca toma uma grande inspirada de ar, aparentemente frustrado consigo mesmo ou com toda a situação que nos envolve - Vamos focar nos quatro pontos para começar.

-Quatro?

-Sim, os quatro pontos vitais para uma autodefesa básica. Três você consegue aplicar em qualquer atacante, independente do sexo, o quarto é exclusivo para os homens.

-Já posso imaginar o que seja.

-Sim, sim, vamos começar. Faça a pose de ataque. - Coloco meu pé direito para trás e fecho os punhos como Luca havia me ensinado antes - Ótimo, agora foque no ponto um: Olhos.

-Você tem olhos bonitos.

-Ah. Obrigado. - Luca inclina a cabeça e sorri, suas mãos pendendo em seus quadris. Ele é tão adorável... e comestível. Minha santa protetora - Seus olhos também são lindos.

-Se importaria de falar quais são os quatro pontos de uma vez? Gostaria de ter uma prévia antes de começarmos o passo a passo.

-Olhos, nariz, costelas e virilha.

-Costelas?

-Sim, bem aqui. - Ele aponta para uma região delicada, logo abaixo das costelas. Imaginar a dor que um soco bem aplicado pode gerar naquela região me rendeu uma careta.

-Isso é mesmo necessário? - Fiz uma última tentativa.

-Baby, há pessoas lá fora querendo a sua cabeça. A menos que tenha algum desejo obscuro por ser morta, sugiro que pense da seguinte forma: É você ou eles.

-Gosto de estar viva.

-Eu também gosto que esteja. Agora ataque qualquer um dos pontos.

-De qualquer jeito?

-A graça do combate é a diversificação do ataque. Se seu inimigo está prendendo seus braços, o ataque no nariz com a sua testa.

-Então se não posso mexer a cabeça ou os braços tenho que recorrer as pernas?

-Exatamente.

-Certo, isso faz sentido. - Um pouco contrariada e medrosa com o "combate", retomo minha postura e tento socá-lo nas costelas. Digo 'tento' porque Luca desviou do golpe com uma facilidade graciosa.

-Foi um bom movimento, jogue o braço um pouco mais atrás para conseguir mais impulso e força.

-Tudo bem.

-Foque seus olhos em mim. Não importa o que faça em sua vida, sempre encare as pessoas nos olhos. Isso mostra que não está intimidada e que elas não tem poder algum sobre você.

-E se eu estiver intimidada?

-Então guarde o sentimento e não o externe, tente ao máximo manter a postura. Uma aparência conservada pode fazer maravilhas sobre as suas relações, as pessoas estão sempre tentando submeter as outras a sua vontade, sempre buscando se sentir superiores, faz parte da essência humana. Seu trabalho é não deixar que isso te afete.

-Anotado.

Luca sorri e, escolhendo o pior momento possível, seu telefone começa a tocar do outro lado de sua pequena - favor detectem a ironia - academia privada. Observo-o desfilar com toda a sua glória até um aparelho de musculação e resgatar o celular. Mantendo minha péssima habilidade de disfarce, começo a volto a socar o soca de boxe sem nenhum ânimo. Não estou nesse mundo para saber socar alguém, é uma realidade dura e difícil de aceitar, mas é a verdade.

-Santinelle. Já? Não o esperava aqui tão cedo. Oh, sim, isso pode ser um problema. Quão ruim é? Yeah, acho que ele não vai gostar. Tudo bem, dê-me vinte minutos e estarei aí.

-Problemas no paraíso? - Brinco quando ele encerra a ligação e faz seu caminho até mim novamente.

-Reunião de negócios, espero que não se importe.

-Não, tudo bem. Eu preciso voltar para o meu computador de qualquer maneira.

-Terminamos o treinamento quando eu retornar.

-Não posso dizer que estou empolgada com isso.

-Engraçadinha.


O Matador - Contos Santinelle 01Where stories live. Discover now