Eu saí da cozinha e o som da conversa com Laura ainda vagavam na minha mente, mas, assim que me aproximei da sala, fui surpreendida pela figura de minha mãe sentada na escada. Ela estava lá, com aquele olhar fixo que sempre fazia meus nervos ficarem à flor da pele. Não pela forma como me olhava, mas pelo que vinha depois. Eu já sabia que, quando ela se postava assim, com os dedos entrelaçados no colo e um sorriso meio vago no rosto, algo inusitado estava por vir.
- Você sabe que eu escutei tudinho, né? - A voz dela veio suave, mas carregada de um tom maroto, como quem se diverte à custa de algo que ninguém mais está entendendo.
Meus olhos rolaram automaticamente.
- Não acredito que você estava espionando minha conversa com a Laura, mãe.
- Espionando é uma palavra forte, querida - Ela fez uma pausa dramática, inclinando a cabeça e fazendo o cabelo castanho com bastante fios brancos cair sobre os ombros, parecendo uma criança que acaba de ser pega no flagra. - Eu estava... investigando.
Suspirei, lutando contra um sorriso que insistia em aparecer. Minha mãe e suas excentricidades. Ela sempre foi assim, meio fora do eixo, com os pés às vezes longe demais da realidade, mas era isso que a tornava única, de certa forma.
Ela era minha responsabilidade e, mesmo com seus episódios de loucura, eu a amava profundamente. A casa não seria a mesma sem suas observações absurdas.- Certo, detetive. O que você descobriu? - Me aproximei, cruzando os braços, já me preparando para uma resposta que, com certeza, me faria rir.
- Descobri que hoje eu só quero paz! - Ela respondeu, se levantando de repente, como se fosse anunciar algo importante. Seus olhos estavam brilhando de empolgação. - Por isso, nós duas vamos ter um momento de leitura. Eu tenho um livro incrível pra você!.
Aqui vamos nós.
- Ah, não... - Resmunguei, passando a mão pelo rosto.
Ela sempre aparecia com algum livro estranho, algo que, de alguma forma, fazia questão de associar à minha vida, fosse pela coincidência da trama ou por sua própria interpretação delirante.
- Sim!. O nome é: entre flores e segredos. A protagonista é dona de uma floricultura, assim como você!. Só que é um pouco enigmático, meio misterioso... me lembra tanto você - Ela apertou minhas mãos, sorrindo de orelha a orelha.
Eu ri, meio sem jeito. A semelhança era estranha, mas até soava interessante. Claro que ela encontraria um jeito de me convencer.
- Depois, mãe. Eu prometo que leio depois. Agora... agora eu estou com uma dor de cabeça horrível. Preciso de um tempo para ficar quieta e o efeito do remédio vir - Menti.
Ela fez uma careta, como se não quisesse aceitar, mas, como sempre, sua mudança de humor foi rápida. Com um sorriso animado, ela disse.
- Deixa comigo!. Eu vou preparar tudo. Chocolates, almofadas, uma manta... Você só precisa se sentar e relaxar.
Enquanto ela desaparecia escada acima, eu me afundei no sofá. Meus ombros estavam pesados, o peso de tudo começava a me derrubar. Fechei os olhos, tentando controlar meus pensamentos. Podia ouvir o som distante de portas batendo e a voz animada da minha mãe cantando algo que eu não conseguia identificar.
E então, ouvi passos. Caius.
Ele estava subindo as escadas, mas, ao me ver no sofá, parou. Seus olhos passaram por mim, analisando, como sempre fazia. Havia algo nele... Algo que sempre me fazia sentir dividida, como se eu estivesse entre a luz e a sombra, entre a cruz e a espada.
Ele se aproximou lentamente, ajoelhando-se diante de mim, e seus olhos encontrando os meus.
- Calliope... - Sua voz saiu suave, carregada de algo que eu não conseguia definir, algo que me puxava para ele, mesmo quando eu tentava resistir.
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ENTRE FLORES E SEGREDOS
RomanceDARK ROMANCE | +18 A vida pacífica de Calliope Lewis na floricultura da família é virada de cabeça para baixo quando ela recebe uma fita cassete e uma carta misteriosa. Envolvida em um jogo psicológico de gato e rato, ela enfrenta uma perigosa batal...