ENTRE FLORES E SEGREDOS

CAPÍTULO 39 | SERÁ QUE AINDA DÁ TEMPO?

Enquanto o sol tingia o horizonte de dourado e laranja, um suspiro escapou dos meus lábios ao me espreguiçar, sentindo os músculos relaxarem lentamente. O calor do peito de Caius ainda contra o meu foi a última âncora de conforto antes que eu me obrigasse a levantar, quebrando aquele instante quase mágico. Ele me acompanhou, pegando a toalha com cuidado e juntando as outras coisas que havíamos trazido.
De longe eu percebia seus olhos me acompanhando de relance, como se quisesse garantir que eu estava bem.

Fiquei de pé, sentindo a grama macia sob meus pés e o vento mais frio beijar meu rosto, trazendo um arrepio e uma lembrança inegável, a realidade estava nos chamando de volta. O aroma fresco da montanha se misturava com o sutil perfume de Caius que o vento insistia em trazer para mim.

Olhei ao redor uma última vez, gravando cada detalhe, o céu tingido de fogo, as sombras das árvores dançando sob o vento, o som distante de folhas sendo agitadas. Aquele momento, ali, parecia algo que deveria ser guardado em uma caixinha, como um segredo precioso.

Mas agora, era hora de descer. Ajustei os cabelos que o vento insistia em bagunçar e me preparei para deixar aquele pedaço de paz para trás.

- Hora de voltar ao mundo real e descer a montanha mágica - Disse Caius, se ajeitando e colocando a mochila em seus costas.

- Eu não sei se consigo voltar ao "mundo real" depois desse piquenique - Murmurei, colocando a mão no estômago e fingindo uma expressão de sofrimento. - Honestamente, acho que vou descer a montanha rolando. Comi tanto que mal posso andar.

Caius soltou uma risada baixa. Ele me olhou ainda sorrindo.

- Se você começar a rolar, vai acabar levando a montanha inteira com você - Ele ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo com minha queixa. - Isso seria bem épico, mas vamos evitar o desastre, tá?.

_ Você diz isso porque ainda tem energia - Retruquei, esticando meus braços como se estivesse me preparando para uma grande maratona. - Eu estou prestes a explodir.

Ele se aproximou e passou um braço ao redor da minha cintura, me puxando de leve.

- Eu te carrego se precisar.

Aquela proximidade, o toque dele, fez meu coração dar um pequeno salto, mas eu mantive o tom leve. Mas no fundo eu estava como uma adolescente quando tem seu primeiro contato com o crush.

- Só se você quiser quebrar as costas, porque eu não sou tão leve assim, especialmente depois de todo aquele queijo.

Caius soltou um suspiro fingido, o que me fez rir ainda mais.

- Acho que você subestima meus poderes de carregador de piquenique.

- Eu não subestimo, não. Eu só conheço as limitações do ser humano - Eu dei uma leve cotovelada nele e comecei a descer o primeiro trecho da trilha.

A descida da montanha era menos cansativa que a subida, claro, mas a gravidade fazia seu trabalho, e eu tinha que me concentrar para não tropeçar em uma pedra ou escorregar em alguma parte do terreno mais solto.

- Você já fez isso antes? - Perguntei, quebrando o silêncio, tentando manter a conversa leve enquanto caminhávamos juntos pela trilha.

- Piqueniques?, ou descer montanhas com mulheres que comeram demais? - Ele respondeu com um sorriso de canto, sem olhar diretamente para mim.

- Ambos - Brinquei.

Caius balançou a cabeça.

- Piqueniques, talvez. Mas esse é um cenário novo para mim - Ele olhou de relance para mim, o olhar de quem estava refletindo sobre algo. - Acho que nunca tirei um dia só pra relaxar, pra não pensar em nada.