– O cheiro dele... está em você toda – A voz sussurrou agora, carregada de desprezo. – Por você... pelo ar... é insuportável.
Foi aí que eu senti. Uma respiração quente no meu pescoço, algo tão real que fez cada fio de cabelo na minha nuca se arrepiar. Meu corpo inteiro ficou tenso, e por um segundo, eu voltei a minha consciência. Não era a minha imaginação.
– Caius gostou do presentinho que dei para ele? – Perguntou
Virei o rosto lentamente para a esquerda, cada movimento parecia arrastar o tempo consigo, enquanto o pavor se enraizava em mim como uma planta venenosa. E ali, tão perto que meu desespero quase gritava para fechar os olhos, estava aquilo que nunca poderia esquecer.
O azul. Não era o azul do mar, nem o azul tranquilo de um lago em um dia de sol. Não. Eram olhos azuis. Um azul que pulsava medo, que arranhava a alma. O azul da morte.– O q.... – As palavras se esvaíram dos meus lábios, incapazes de encontrar o caminho até a minha mente.
– O presente que eu dei – Ele respondeu, inclinando a cabeça ligeiramente. – Para ele dormir melhor.
Nesse momento, a verdade me atingiu em cheio. Caius só tinha pegado no sono por causa desse desgraçado.
O que ele tinha dado para meu marido?.
– Você... o que você deu para ele? – Finalmente consegui articular,
– Boa noite cinderela. Mas não se preocupe, foi um pequena dose.
Ele não disse mais nada. Apenas ficou me olhando, como se a situação não tivesse importância alguma.
Percebi seus olhos vagaram lentamente pelo meu corpo, depois pousaram na garrafa de vinho ao meu lado, e por fim, no chalé ao fundo. Ele bufou, antes de voltar a me encarar.Repentinamente, se inclinou sobre mim, e deu mais uma fungada profunda, quase como um animal farejando sua presa, enquanto seus olhos escuros pareciam ler cada fragmento da minha alma, enquanto um sorriso cínico surgia nos cantos dos seus lábios.
– O cheiro de Caius ainda está em você, Calliope... e isso me deixa puto.
Meu corpo congelou. Não podia ser real. Era a bebida me pregando peças, a escuridão brincando com meus sentidos. Eu estava bêbada, cansada, frustrada, excitada. Só isso.
Mas aquela respiração no meu pescoço, quente e firme, não era fruto da minha imaginação. Não podia ser, eu não poderia ser tão criativa e pouca a esse ponto. Tentei afastar o pensamento, mas a presença ao meu lado se tornava cada vez mais sólida, cada vez mais verdadeir.
– O que você quer? – Perguntei, minha voz tremendo enquanto meus olhos tentavam capturar mais fragmentos daquela pessoa. – Quem é você?.
Eu podia sentir o calor dele, estava uma figura negra. Encapuzado, envolto em sombras. Ele estava perto demais, o rosto escondido pelas sombras de seu capuz, mas o suficiente para eu saber que aquilo não era um delírio.
Senti uma onda de indignação e tristeza invadindo meu ser. Como ele pôde fazer isso?. Como ele conseguiu fazer isso sem que eu percebesse?. O peso das consequências do ato dele pressionava sobre os meus ombros, e a dúvida e a raiva começaram a se entrelaçar em uma dança mortal dentro de mim.
– Você Já sabe quem eu sou, minha flor – A voz sussurrou. – Eu sou o que você tenta ignorar, o que você sente nas sombras. Sempre aqui... sempre observando.
Meu coração batia como um tambor no peito. A cada segundo, a realidade daquela situação se tornava mais inegável. Minha garganta secou, e eu senti minha pele esquentar, uma mistura de medo e... confusão.
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ENTRE FLORES E SEGREDOS
Storie d'amoreDARK ROMANCE | +18 A vida pacífica de Calliope Lewis na floricultura da família é virada de cabeça para baixo quando ela recebe uma fita cassete e uma carta misteriosa. Envolvida em um jogo psicológico de gato e rato, ela enfrenta uma perigosa batal...