(Parte 1)
Algumas vezes minha mente me prega peças e começo a pensar sobre os começos.
Vez ou outra penso em como o mundo foi criado, sobre o que realmente havia antes da humanidade e sobre o que pode vir a existir depois da gente.
Também penso em quando comecei a minha primeira faculdade e em como fiquei frustada pela primeira vez com esse curso.
Mas sempre, sempre penso na gente. E é inevitável não me prender aos detalhes que nós fizeram ser assim.
Nosso começo caótico, nosso começo arrogante e talvez errado.
Nosso começo que não quero que tenha fim.
Desliguei o celular abruptamente e suspirei. Não foi um suspiro daqueles aliviados, de quando algo ruim parece que vai acontecer e não acontece. Foi um suspiro do jeito ruim, de quando nos irritamos com algo e preferimos simplesmente soltar o ar que está em nossos pulmões a falar algo incoveniente.Se tem algo que eu odeio, é gente inconveniente. Nesse caso, ignorante.
Rapidamente, vesti um moletom que estava jogado em cima de minha cama e caminhei até a sala, em busca da chave de minha casa para poder buscar floquinho, meu cachorro que não para quieto nem por um minuto.
— Mamãe, você viu as chaves? - grito e espero alguns segundos pela resposta.
— Estão penduradas perto do piano. Aconteceu alguma coisa? Vai sair? - ela pergunta, sua voz se aproxima. Ela está vindo até mim.
— Floquinho está na casa do vizinho. De acordo com ele, o cachorro achou petróleo em seu quintal.
— Como assim? - apertou as sobrancelhas.
— Deve ter cavado um buraquinho de nada e o vizinho surtou. Ele disse que é novo aqui, e essa é a primeira vez que temos reclamações da vizinhança sobre o floquinho. - pego as chaves e caminho em direção a porta. — Eu volto já.
O vento gelado entrou em contato com meu rosto. Quando olho pra frente, já avisto a casa 701 e um garoto alto, que vestia uma regata branca, gritando com meu floquinho.