27| A marca

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Lilith despertava lentamente, como se estivesse emergindo de um poço de escuridão que a mantivera presa por semanas. Seus sentidos voltavam um a um, intensos, desordenados. A morte da antiga matriarca havia liberado uma onda de magia ancestral que agora pulsava dentro dela, descontrolada e voraz. Lilith podia sentir cada fio dessa energia tumultuada correndo em suas veias, e o sabor metálico de poder em sua língua deixava claro que algo estava terrivelmente errado.

Ela abriu os olhos. O quarto estava envolto em penumbra, mas cada detalhe parecia etéreo, cintilante. Havia algo no ar — uma eletricidade quase tangível que dançava ao seu redor, aquecendo sua pele e agitando seus sentidos. Lilith colocou os pés descalços no chão frio, e o contato a fez estremecer. Seus olhos brilharam em um tom vermelho profundo, visceral, uma manifestação de sua magia interior em fúria. 

Seu vestido preto flutuava levemente, como se fosse sustentado por uma brisa invisível. Ela se ergueu, cambaleante, mas guiada por algo instintivo, algo primitivo. O fluxo caótico de sua magia exigia equilíbrio, exigia controle. Ela sabia que Chloe, por capricho ou ignorância, havia se recusado a aceitar a magia da matriarca — uma responsabilidade que era tanto um fardo quanto uma bênção. Sem essa conexão, a magia de Lilith estava à beira de consumir tudo ao seu redor. 

Lilith inspirou fundo, tentando silenciar o turbilhão em sua mente, mas os ecos da magia ancestral eram ensurdecedores. Ela fechou os olhos e sussurrou uma prece à Grande Deusa, agradecendo que Max não estivesse por perto para testemunhar seu estado. Ou coisa pior.

Mas uma preocupação maior a consumia: se houvesse vampiros ou lobos próximos, eles seriam atraídos pela energia que ela irradiava, como mariposas em direção à chama.  Embora soubesse qual dos lobos seria atraído até ela.

(...)

Jacob se vestia rapidamente após a patrulha com Seth e Collin. Eles haviam concluído mais uma ronda sem grandes incidentes, e o humor no grupo era leve. 

_ Vamos na frente ou você quer ir junto? - Seth perguntou, referindo-se ao chá de bebê que Emily e Sam estavam organizando. 

Jacob estava prestes a responder quando um cheiro diferente alcançou seu nariz. Era doce, mas carregado de algo selvagem e desconhecido. Ele franziu o cenho e olhou ao redor, como se tentasse localizar a origem daquilo. 

_ Vão na frente... preciso resolver uma coisa. - Sua voz saiu firme, mas sua mente já estava tomada pela inquietação. 

_ A gente pode ajudar - ofereceu Collin, sempre disposto a provar seu valor. 

_ Não precisa - Jacob cortou, já se movendo para o lado oposto. - Eu lido com isso sozinho. 

Os dois jovens se entreolharam, hesitantes, mas acabaram obedecendo, partindo em direção à casa de Emily. Jacob, por outro lado, seguiu o rastro da energia estranha que preenchia o ar. 

A visão de Lilith o atingiu como um soco no estômago. Ela estava de pé no centro da clareira, com o vestido preto colado ao corpo e os cabelos soltos flutuando como se estivessem sendo acariciados por mãos invisíveis. Seus olhos, vermelhos como brasas, o encararam com uma intensidade quase hipnótica. O vento parecia girar em torno dela, carregando folhas e poeira em uma dança lenta e sinistra. 

_ Lilith... - Jacob murmurou, dando alguns passos hesitantes em sua direção. Ele sentia a magia dela pulsando no ar, caótica e poderosa, como uma tempestade prestes a explodir. - Lilith! 

Ela virou o rosto para ele, mas parecia não reconhecê-lo. Seus lábios moveram-se em um sussurro incompreensível, e de repente o mundo ao redor mudou. Uma onda de energia invisível se espalhou pela clareira, engolindo tudo em um silêncio sufocante. 

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