Primeira Parte - Capítulo 13

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Capítulo 13
As quadras que faltavam do beco até sua casa pareceram pequenas devido à velocidade que Lash as percorria, não correu, em nenhum momento se deixou exaltar, pelo menos não deixou que transparecesse, mas caminha a extremamente depressa, fazendo o máximo de esforço que conseguia para não esbarrar em ninguém e não passar por um sinal vermelho novamente.
Sua cabeça estava lotada de pensamentos, estava cada vez mais confuso, cada vez com mais perguntas e com cada vez mais medo. Era extremamente surreal a teoria que bolara para explicar os fatos dos últimos dias, mas era a única coisa que explicava tudo o que estava acontecendo.
Era estranho pensar que as palavras daquele livro eram verdadeiras, mas nada mais explicava aqueles acontecimentos. O homem no beco não poderia ter sido sugado por um túnel metálico no chão como nas Três Espiãs Demais, algo real havia acontecido ali, algo real havia acontecido no refeitório e o colar era real, as visões que tinha eram reais, e isso o deixava com medo. No que estava se envolvendo?
Não estava ficando maluco, disso tinha certeza, até chegou a considerar essa hipótese depois da primeira visão que teve na sala de aula, podia ter sido sono ou nervosismo pela apresentação do trabalho, mas depois viu que não eram coisas de sua cabeça. Considerou até a hipótese de estar participando de algum programa de televisão que pregam peças nas pessoas, mas não teria como terem feito tudo aquilo.
Lembrou de sua casa revirada, as coisas fora do lugar, como poderiam ter conseguido entrar em sua casa? As pessoas com que estava lidando não estavam brincando, e ele não poderia. E também tinha sua mãe.
Ela tinha que saber alguma coisa, qual outro motivo teria para ela ter ficado tão nervosa quando viu o colar? Ele sentia que ela sabia de alguma coisa, bolava mentalmente as palavras que usaria para abordá-la, mas nada parecia decente. Se bem que nada do que estava acontecendo era exatamente decente.
Quando virou a esquina de sua casa um frio percorreu sua espinha, de longe conseguiu ver o carro de sua mão parado na frente da garagem, ela estava em casa. Mas não poderia estar, pelo menos havia dito que não voltaria para casa almoçar, mas ela havia voltado e ele teria de explicar sua ausência.
Atravessou a rua correndo e olhando para os lados, se certificando que nenhum carro estava vindo em sua direção, foi até a frente de casa e pulou os degraus da varanda, como tinha costume de fazer quando estava com pressa, abrindo a porta com força.
Dentro de casa viu sua mãe, ainda vestindo as roupas de trabalho, com um braço cruzado sobre os quadris e o outro erguido enquanto segurava o telefone celular nervosa. Quando o viu tirou o telefone da orelha lentamente e o largou na mesa de centro da sala. Os dois se olharam, Lash ainda com uma cara ofegante e os olhos arregalados pela apreensão.
- Onde você estava?
- Na biblioteca... Eu... Estava lendo alguns livros.
Lash fechou a porta bem devagar atrás de si, quando girou o trinque sentiu o colar pender em seu pulso, colocando rapidamente a mão no bolso da calça.
- Sabe para quem eu estava ligando? Estava chamando a polícia. E se eu os tivesse chamado? E se eles estivessem aqui. Você simplesmente chegaria e diria que estava lendo?
Sua mãe estava nervosa, percebia que era o modo que ela tinha para demonstrar preocupação, e via em seus olhos aquele vazio novamente, um certo desespero, como se tudo estivesse ruindo em um grande terremoto.
- Eu saí da escola e fui direto para a biblioteca pública. Como a senhora havia dito que não viria para o almoço eu achei que não teria problema.
- E você pretendia me contar isso quando eu chegasse?
- É claro que sim mãe!
Ele sentiu o peso da mentira da mentira caindo em sua consciência.
Sua mãe respirou fundo, tentando se acalmar, ela não deixava transparecer o que sentia, como ele, mas ele conseguia ver. Foi até ela e lhe deu um abraço.
- Desculpe mãe. Não queria lhe preocupar a toa.
- Não tem problema, eu devia ter avisado que eu viria. Consegui aprontar alguns negócios no escritório e consegui um tempo para vir almoçar, mas com essa confusão não consegui comer nada.
Lash estava novamente perplexo, não conseguia entender o motivo de toda aquela preocupação e não podia deixar de pensar que talvez tivesse alguma coisa a ver com sua preocupação pelo colar de manhã.
Assim que saiu do abraço de sua mãe colocou novamente a mão no bolso, se ela visse que ele ainda estava com o colar ficaria ainda mais nervosa. Sua mãe se despediu dizendo que comeria algum lanche no caminho e abriu a porta. O corpo de Lash esquentou pelo nervosismo que o tomou, queria perguntar qual o motivo de tudo aquilo, mas não sabia qual seria a reação de sua mãe. Respirou fundo e tomou coragem.
- Mãe! Espere! Por que a preocupação? Afinal eu não demorei mais de quarenta minutos...
Ela o olhou por alguns instantes, podia sentir que estava bolando a resposta certa a ser dada, e não a verdadeira.
- Porque fiquei preocupada filho. Sabe que somos só nós dois nesse mundo e que não me perdoaria se algo acontecesse com você. Consegue entender isso?
- Claro mãe. Eu digo o mesmo se algo acontecesse com você. Mas a senhora nunca se perguntou se realmente estamos sozinhos? Digo, talvez ainda tenhamos algum parente vivo em algum lugar, alguém da família do papai ou até mesmo da sua.
- Já conversamos sobre isso filho e você sabe que não há ninguém mais.
- Aí é que está mãe. E se estiver?
- Não tem Lash! - Ela exaltou um pouco a voz em um rápido descontrole emocional - E você sabe disso. Agora esquece isso e continua sua vida assim como eu vou continuar a minha. Não quero mais que falemos sobre isso. Fui clara?
- Claro mãe!
Ela fechou a porta e saiu, Lash ouviu o barulho do carro ligando, as rodas trabalhando em contato com o chão e o automóvel indo embora. Estava sozinho novamente. Ele e seus pensamentos, pensamentos e dúvidas. Sua mãe havia ficado estranha dês daquela manhã e ele atribuía isso ao colar, e a preocupação exagerada dela com sua ausência deixava claro que ela sabia de alguma coisa, só lhe restava agora esperar o momento e as palavras certas para perguntar.
Foi até a cozinha, pegou uma jarra com água gelada na geladeira e deixou que o líquido o refrescasse, refrescasse sua mente. Depois subiu a escada e foi até seu quarto, ligou o computador, largou a mochila na cama e vagou por algum tempo nas redes sociais, buscando distração.
Já era quase quatro horas da tarde quando resolveu abrir seu e-mail para checar a caixa de entrada. Das vinte mensagens não lidas quase noventa por cento eram propagandas de lojas de roupas, serviços online que prometiam dinheiro fácil e rápido e ofertas de agências de turismo, mas uma mensagem em especial lhe chamou a atenção, era do autor do livro, Alfred Jefferson.
De certa forma Lash ficou espantado com a rapidez em que havia recebido a resposta, mas com a internet não dava pra se duvidar de nada.

"Caro Lashton!
Fiquei espantado em saber que encontraste um de meus livros, eu mesmo achei que já não haviam mais deles em lugar algum, e espantei-me mais ainda em ter dito que tens um colar.
Preciso que entenda a importância do que está se envolvendo, não sei quanto você conseguiu ler ou até onde suas deduções chegaram, mas certamente você deve ter percebido que esse colar não é normal.
Preciso dizer que ele não é seu, e sei de quem possa ser, por isso preciso que me encontre amanhã pela manhã em algum lugar da cidade, pode ser na própria biblioteca em que disse ter encontrado meu livro. Você não pode faltar, é o único horário que tenho vago nas minhas aulas e precisamos resolver isso o quanto antes, o verdadeiro dono do colar precisa dele e ele não pode ficar com você agora.
Espero que entenda.
Alfred Jefferson"

Lash ficou espantado, não esperava as palavras que leu, esperava respostas, talvez até perguntas daquele professor-escritor desconhecido, mas nada parecido com "Me devolva o colar que ele não é seu".
Claro que ele o devolveria se realmente não fosse seu, o que agora parecia fazer mais sentido, ele pode ter caído em seu quarto por acidente pela janela naquela noite, mas devolveria somente se tivesse respostas, assim que conseguisse aquietar sua cabeça e fazê-la parar de pensar naquele monte de coisas que não o deixavam fazer mais nada.
Pensando em devolver o colar ficou de certa forma triste, ele tinha aparecido em seu quarto, na verdade no meio de suas coisas, e depois de sua aparição coisas estranhas aconteceram, coisas que fizeram Lash pensar no motivo de elas estarem acontecendo com ele.
Talvez ele fosse especial, diferente dos demais, mas quão clichê seria se ele fosse, ele não vivia em uma história fantasiosa de mundos mágicos, ele vivia no mundo real, onde coisas reais aconteciam, e isso não parecia ser certo, as coisas que estavam acontecendo não pareciam ser certas.
Se o colar não era dele queria saber de quem era, conhecer o dono, conversar com ele, saber como ele havia ido parar em seu quarto, saber o motivo. Queria saber por que ele estava tendo aquelas visões, por que os homens de terno o vigiavam, por que revistaram sua casa, por que havia conseguido explodir as luzes do refeitório da escola.
Se bem que esse último ponto podia ser explicado, está certo que ele ficou nervoso e talvez por causa disso havia mexido de algum modo com um dos grandes corpos, o que fizera as luzes explodirem, mas também poderia ter sido um curto circuito na fiação do prédio, alguma falha elétrica, ou até mesmo pestinhas querendo pregar peças nos alunos.
A única coisa que sabia é que não sairia daquele encontro na manhã seguinte sem suas dúvidas esclarecidas, nem que tivesse que faltar à escola para isso.

A NONA TRIBOOnde histórias criam vida. Descubra agora