Capítulo 6
Dor de cabeça era tudo que eu sentia quando acordei na casa de saúde da aldeia, tonta olhei para os lados e vi todas as camas ocupadas, meus colegas e o instrutor as ocupavam, logo me lembrei do que havia acontecido, a demonstração no campo menor, a explosão, todos caindo.
Minha cabeça latejava e minha visão estava meio embaçada, mas lembro de ter visto algumas enfermeiras caminhando pelo quarto e levando remédios e chás para os poucos que estavam acordados.
Naquele momento eu fiquei preocupada, pensei na gravidade do que eu havia feito, eu poderia ter machucado todos, se não os machuquei mesmo, e tudo por causa daquela demonstração, da minha insistência em provar que eu consigo manipular a energia como todo mundo, aliás, como todo mundo não, a manipulação que eu fiz naquele dia — porque parecia que já haviam se passado vários dias — tinha sido completamente diferente do normal, do que os outros faziam.
Finalmente consegui concordar com minha mãe, sim, eu era diferente, e isso não era bom como ela viva afirmando, a minha diferença fizera todos pararem ali na casa de saúde, e talvez poderia ter causado consequências mais graves, sequelas permanentes.
Naquele momento eu não sabia o que havia acontecido com os outros, até porque nem eu mesmo sabia o que havia realmente acontecido comigo, mas sabia que aquilo nunca mais viria a acontecer, ali, deitada naquela cama na casa de saúde, decidi que não voltaria mais para a escola e que nunca mais manipularia a energia.
Provavelmente eu sentiria falta no começo, mas não queria machucar mais ninguém e essa era a única opção que eu tinha, e hoje em dia muitas pessoas viviam sem manipular a energia e nem por isso deixavam de ser felizes ou eram excluídas na aldeia.
Sei que no final, felizmente, ninguém se machucou, as enfermeiras disseram que o grande choque de energia fizera com que todos entrassem em uma espécie de estado de choque, mas que isso poderia ser considerada uma consequência normal frente ao que aconteceu e que ninguém sairia machucado.
Ficamos na casa de saúde somente por algumas horas, e conforme íamos acordando e retomando completamente os sentidos íamos sendo liberados. Quando eu pude sair corri para minha casa, como a casa de saúde ficava perto da minha casa não foi difícil chegar lá rápido, corri até lá e abracei minha mãe o mais forte que eu pude, comecei a chorar, eu me sentia culpada pelo que havia acontecido, e realmente eu era, se eu não tivesse insistido naquela história de provar para todos que eu conseguia fazer o exercício.
Mas eu não podia mudar o que havia acontecido, mas podia escolher o que iria acontece, então falei para minha mãe que não iria mais à escola, não queria mais continuar aprendendo sobre uma coisa que eu não sabia fazer, e que iria ficar em casa a ajudando nas tecelagens que ela fazia, afinal o que era essencial eu á havia aprendido.
Mas as tecelagens com minha mãe me trouxeram mais do que segurança, me trouxeram a solidão, eu passava os meus dias em casa tecendo, claro que até eu pegar o jeito levou algum tempo, para falar a verdade alguns meses, como disse antes uma vez eu tentei tecer tapetes para o palácio do rei, mas não consegui, já agora a situação era diferente, ou eu aprendia a tecer com minha mãe e com minha avó ou teria de lavar roupas para os vizinhos, e é muito difícil trocar de função quando sua família já faz alguma coisa, então era a única coisa que bastava.
Soube também que depois daquele incidente no campo menor o instrutor havia deixado o posto para o filho de um tio dele, eu sabia que havia sido por minha causa, mas nunca soube de nada, as notícias que eu tinha quem me dava era minha mãe, que frequentemente saía até o centro de trocas para trocar peças tecidas por alimento, mas ela também buscava não se envolver muito.
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A NONA TRIBO
FantasyPrimeiro livro da série -A Nona Tribo A Nona Tribo - O Despertar E se o mundo à sua volta e você fossem conectados e se misturassem de uma maneira que um novo e impressionante leque de possibilidades se abrisse à sua frente? Se sua concepção de exis...