Segunda Parte - Capítulo 4

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                Capítulo 4

Naquela noite, depois daquele exercício, todos comeram e logo foram descansar, algumas enfermeiras ainda perambulavam pelo quarto fazendo curativos em alguns recrutas para evitar futuras preocupações, mas ninguém tinha realmente se machucado, pelo menos nada que fosse realmente grave.

Até mesmo Kurt tinha muitas escoriações e manchas roxas pela pele, mas não era nada de mais, e finalmente o exercício tinha acabado então não precisavam mais se preocupar com isso.

As camas no alojamento eram todas metálicas, coisa de primeira linha levando em conta que nos vilarejos os móveis eram todos de madeira, provavelmente todos os móveis do quartel haviam sido trazidos da terceira tribo, a qual tinha grandes habilidades com metais.

Os colchões, alguns de palha outros de penas, eram todos cobertos com panos e cobertores brancos, o que às vezes era meio exagerado, e para cada cama havia um criado mudo ao lado e um baú aos pés, no fundo do prédio um amontoado de armários dava a cada recruta um lugar para guardar suas coisas.

Kurt havia escolhido uma cama mais no meio da fila da esquerda, sendo que as camas estavam dispostas em duas filas opostas no espaço, com as cabeceiras sempre viradas para a parede, e perto dele se assentaram seus cinco colegas de carruagem da viagem, talvez eles também sentiam o mesmo que ele, que eram as únicas pessoas que realmente conheciam.

Na verdade Kurt não conhecia nenhum deles antes da viagem, dois vinham do mesmo vilarejo que ele e três eram de sua casa, mas todos se desconheciam até então, assim durante a viagem conversaram bastante sobre quem eram, o que queriam ali e como eram suas vidas antes do alistamento.

Mas parecia que nada daquilo importava ali, no exército, não que eles esquecessem a que vieram, mas ali a situação de igualdade era a realidade, todos fazendo as mesmas coisas pelo mesmo motivo, por isso ninguém mais falava sobre seu passado ou o que os trouxera, só o que importava era o dali em diante.

Naquele dia ninguém foi dormir tarde, até porque todos estavam completamente cansados e a própria rotina do exército não permitia isso, mas quase sempre os recrutas ficavam acordados algumas horas depois do toque de recolher conversando, imaginando o futuro e repondo suas energias.

Kurt se lembrava de que a parte mais difícil do treinamento, pelo menos para ele, fora a reposição de energia interna, nunca chegou a comentar isso com os colegas nem com nenhum oficial, mas sentia que era no que ele mais tinha dificuldade.

Em uma das noites, quando se deitou e se concentrou para voltar ao normal, se lembrou de uma aula que tivera com a professora na escola da Quarta.

— Como vocês já sabem a energia que manipulamos é parte de nós, ela existe dentro de nossos corpos e sem ela não sobreviveríamos, mas o que ainda não sabem é que toda vez que manipulamos a energia a nossa volta doamos parte de nossa própria energia para o espaço, para que a manipulação seja possível. Se manipularmos uma grande quantidade de energia durante muito tempo nos sentiremos cansados e às vezes não conseguiremos mais manipular por um tempo, mas é só ficar em repouso e descansar que nosso corpo recupera essa energia sozinho. O que vocês não podem fazer, de maneira alguma, é insistir na manipulação quando sentirem que seu corpo não tem mais energia para dar ao espaço, pois se fizerem isso podem acabar com a energia de seus corpos e isso pode ser fatal. Mas não precisam se preocupar, para isso acontecer vocês teriam de ficar horas, quem sabe dias manipulando sem parar.

Sempre que o dia de treinamento terminava ele ia para sua cama, deitava e fechava os olhos, sem dormir, apenas se concentrando, sentindo a energia a sua volta e trazendo-a para dentro de si, o que durava no mínimo uma hora até ele se sentir completo novamente.

A NONA TRIBOOnde histórias criam vida. Descubra agora