Segunda Parte - Capítulo 5

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                Capítulo 5

Era noite quando seu pai chegou em casa com toda aquela história de exército, ele se lembrava bem, lembrava porque no mesmo dia havia ido até a casa do instrutor da escola para tentar ser seu sucessor, ele sempre gostara das aulas no campo menor e achava o trabalho de instruir os alunos simplesmente fascinante.

Primeiro seu pai queria que ele continuasse nos negócios da família, se é que dava realmente para chamar a fabricação de instrumentos em metal em uma ferraria de negócio, mas ele não queria isso, queria algo mais importante do que passar o dia todo fabricando facas e enxadas, e quando ouviu o instrutor da escola mencionar que queria um sucessor, pois abandonaria o cargo em breve, alegrou-se em encontrar o que estava procurando.

Sempre fora bom na manipulação, sempre era o melhor da turma, lembrava de ter ganhado algumas medalhas em alguns exercícios na escola e achava que seria um total desperdício de seu talento com a energia se ficasse o resto de sua vida moldando metais em um galpão velho de madeira na frente de sua casa.

Não que ele se achasse muito bom para fazer isso, ele não era orgulhoso, sempre tentando ajudar as pessoas e fazer a diferença na aldeia onde morava, mas achava que tinha que fazer mais que ferramentas, ele podia fazer mais e queria ter a chance de mostrar que podia, o que nem sempre era fácil.

Ele não queria criticar as aldeias da Quarta, de longe isso, mas sempre achara o sistema de funções da tribo muito limitado. Ele era todo baseado em Se sua família faz plantações, você vai fazer plantações, se cultiva animais, será cultivador de animais, e assim por diante, sem dar brechas para novos caminhos ou sonhos, que era seu caso.

As únicas chances que tinha para poder fazer diferente era encontrar alguém que acreditasse que ele seria capaz de fazer outra coisa e que o ajudasse nisso, ou se alistar no exército, o que ele simplesmente não queria.

Então quando encontrou o instrutor dizendo que precisaria de um sucessor, e quando conversou com ele e viu que ele o ajudaria a ser esse sucessor, ficou muito feliz, pois era quase impossível encontrar alguém de outra função que ajudasse um desconhecido, um tecelão ajudando um carpinteiro a deixar de ser carpinteiro e ser tecelão também, por exemplo.

Mas naquela noite, quando seu pai entrou em casa, os olhos vermelhos de raiva, os músculos tensos, quando ele bateu em sua mãe com um soco no rosto, quando trancou seu irmão menor no quarto e quando lhe disse que iria se alistar no exército segurando um pedaço comprido de madeira nas mãos, ele não pode recusar, não tinha como recusar, e acabou aceitando.

Seu pai sempre fora assim, trabalhava o dia inteiro na ferraria, conseguia alguns grãos trocando algumas ferramentas e à noite trocava tudo na taverna por bebida fermentada, chegava em casa bêbado, descontrolado, e descontava tudo em sua mãe, nele e em seu irmão menor, que provavelmente iria precisar de anos para superar aquilo tudo.

Por causa disso quem sempre colocava a comida na casa, e quem também acabava conseguindo praticamente tudo que precisavam para manter a família, era sua mãe que lavava roupas para os vizinhos, seu irmão menor ajudava, quando não estava na escola, e ele tinha que ajudar seu pai.

Não podia dizer que a convivência com seu pai era difícil, até porque não existia a menor convivência entre os dois, na ferraria a relação era de patrão e empregado, limitada a um vocabulário completamente profissional, e em casa os dois nunca se encontravam, ou pelo menos nunca os dois sóbrios.

Um dia ele quis beber também, tinha uns quatorze anos, lembrava que tinha que fazer uma encomenda de utensílios para uma família rica do vilarejo na ferraria e que não tinha conseguido acabar tudo no prazo, por isso a família cancelou o pedido. Seu pai havia ficado muito bravo, realmente muito bravo, e descontara tudo nele.

A NONA TRIBOOnde histórias criam vida. Descubra agora