Segunda Parte - Capítulo 3

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                Capítulo 3

Depois daquele ataque mamãe contou que a aldeia entrou em estado de alerta e todos permaneciam esperando o pior, a chegada do exército, das nuvens roxas, da própria morte, mas nada aconteceu, pelo menos não naqueles dias.

Pelo que sei e me lembro cresci normalmente, a não ser pelas minhas manipulações, claro. Comecei a perceber que algo estava errado comigo quando comecei a frequentar a escola, nas disciplinas mentais eu me dava super bem, me lembro de sempre me sair bem nos trabalhos de Impressão de linguagem, Numerologia, História, histórias e lendas e a parte teórica das energias, mas a coisa ficava feia na parte prática.

Me lembro de um dia na escola, se não me engano eram um dos primeiros dias de aula, e se não era, era uma das primeiras lições no campo, uma espécie de arena oval não muito grande do lado da escola, onde o instrutor dava as lições de rua, enquanto dentro do prédio quem comandava as lições teóricas era a professora.

Mamãe disse que esse sistema era seguido em todas as tribos, como se fosse um padrão incorporado por todas antes da guerra, o que eu acho interessante, porque pelo que pude perceber nosso sistema educacional funciona bem, pelo menos com as outras crianças.

Enfim, não me lembro de que dia era, nem minha idade ou de meus colegas, mas me lembro de cada parte da lição daquele dia. Quando tínhamos lições de manipulação, passávamos um horário com a professora, vendo como tudo funcionaria, e o outro com o instrutor no campo menor, fazendo a coisa toda funcionar.

Aquele dia a professora nos ensinou sobre a condução da energia de nossos corpos, um dos primeiros princípios da manipulação, nos explicando como deveríamos fazer, como nos concentrar e como reagir se algo desse errado.

— A condução de energia nada mais é do que juntá-la dentro do nosso corpo, como vocês já fizeram, e fazer com que ela se mova por ele, por nós mesmos, mas não precisam ter medo, sentimos apenas um formigamento por onde ela passa. Então nos concentramos nas nossas mãos e fazemos ela ir do indicador de uma até o indicador de outra. Muito simples!

Alias a primeira coisa que me intrigou na manipulação, antes ainda dela se tornar prática, foi a parte de sentir a energia dentro de nós, essa sim tinha sido a primeira lição que tivemos, e depois aprendemos a senti-la e concentrá-la, mas desde aquela aula eu percebi que eu era diferente.

Lembro que naquele dia estávamos todos em um semicírculo no campo menor e o instrutor estava nos mostrando como concentrar a energia dentro de nós. Fechar os olhos, se concentrar, respirar bem fundo, sentir a energia a nossa volta, dentro de nós, e fazer como uma esponja, lembro dele ter feito essa comparação, fazer como uma esponja e sugar a de fora para dentro, mas sempre deixando ela sair se quiser ou se tiver demais.

Então ele fez uma vez e disse que sentiríamos um forte formigamento no peito, depois nas mãos e pés e depois no corpo todo, disse que era a energia que fazia isso, mas que não doía nada, que as vezes até fazia cócegas, mas se ríssemos e nos desconcentrássemos ela iria embora.

Depois que todos nós havíamos entendido a lição começamos a praticar, tentar fazer como a professora havia nos explicado e o instrutor nos mostrado, e todos conseguiram, todos sentiram o formigamento, cada parte do corpo tremendo com aquela energia vibrante que a Quarta dominava, mas eu a senti diferente, não sentia formigamentos, sentia como se algum animal rastejante passasse por mim, mas não era algo desconfortável, era como se meu próprio corpo fosse um animal rastejante, contraindo e esticando o próprio tecido, foi assim que senti, e foi como o instrutor disse, primeiro no peito, depois nos pés e nas mãos e depois no corpo todo, mas não fazia cócegas, vi uns quantos coleguinhas meus caírem na gargalhada e terem que começar tudo novamente, mas eu não estava sentindo o mesmo que eles.

A NONA TRIBOOnde histórias criam vida. Descubra agora