A sala estava mergulhada em silêncio, exceto pelo som suave do vento lá fora. Serena estava sentada no sofá, os pés descalços repousando sobre o tapete, enquanto V estava de pé junto à janela, com os braços cruzados e o olhar perdido na escuridão além do vidro. A luz fraca da luminária no canto deixava a atmosfera ainda mais densa. Eles estavam ali há um tempo, cada um imerso em pensamentos, mas sem coragem para quebrar o silêncio.
Serena, finalmente, ergueu os olhos para ele. Ela parecia cansada, mas havia uma determinação em seu olhar.
— V, o que está acontecendo com a gente?
V demorou alguns segundos para responder, sem desviar o olhar da janela.
— Você realmente quer falar sobre isso agora?
Ela respirou fundo, tentando conter a frustração.
— Quero. Não dá mais para fingir que está tudo bem.
Ele se virou lentamente, os olhos escuros encontrando os dela.
— Talvez porque não está.
As palavras atingiram Serena como um golpe. Ela se levantou, cruzando os braços.
— Então você admite.
V deu de ombros, o rosto uma máscara de indiferença.
— Admitir o quê? Que estamos presos em algo que não funciona mais? Que estamos tão distantes um do outro que mal reconheço quem você é agora?
Serena sentiu um nó se formar em sua garganta, mas se recusou a deixar as lágrimas caírem.
— Eu não mudei, V. Pelo menos não sozinha. Você se afastou de mim. Eu tentei... tentei tanto segurar isso.
Ele deu um passo à frente, a voz mais baixa agora, mas não menos firme.
— E eu? Acha que não tentei? Que não me desgastei tentando alcançar você?
Ela balançou a cabeça, exasperada.
— Não pareceu. Você parou de falar comigo. Cada vez que eu queria resolver as coisas, você encontrava uma desculpa para fugir.
V suspirou, esfregando o rosto com as mãos antes de encará-la novamente.
— E toda vez que eu ficava, era como se falássemos idiomas diferentes, Serena. Como se nada do que eu dissesse chegasse a você.
Ela deu um passo para trás, como se as palavras dele tivessem empurrado seu corpo junto com o impacto emocional.
— Então é isso? Você já desistiu?
Houve um momento de hesitação, um segundo onde o silêncio foi mais ensurdecedor que qualquer coisa dita antes.
— Não sei... — ele respondeu, a voz baixa, quase um sussurro.
Serena sentiu algo quebrar dentro de si.
— Se você não sabe, V, talvez eu saiba. Talvez já tenhamos cruzado esse abismo há muito tempo, mas nenhum de nós teve coragem de admitir.
Ele ficou em silêncio, o olhar preso nela. Serena esperou por uma resposta que nunca veio. Com o coração pesado, ela pegou suas coisas e caminhou em direção à porta, parando apenas por um instante antes de sair.
— Eu te amo, V. Mas amor sozinho não constrói uma ponte. — Serena fez menção em sair, mas parou na porta, a mão no trinco, mas algo dentro dela queimava. Ela respirou fundo e virou-se para encará-lo novamente, o olhar determinado e carregado de mágoa. — Você quer saber o que realmente nos afastou, V? Porque a verdade é que eu não posso competir com alguém que nem está mais aqui.
Ele franziu a testa, confuso.
— Do que você está falando agora?
— Sooyan — respondeu Serena, o nome saindo como uma lâmina. — É sempre sobre ela, mesmo quando você diz que não é.
V deu um passo para trás, como se tivesse sido atingido.
— Não começa com isso, Serena. Não agora. É exatamente por isso que a gente não consegue resolver as coisas. Você sempre tenta colocar a culpa nela, sendo que Sooyan nem está aqui.
— Talvez ela não esteja aqui fisicamente, mas não sai da sua mente, não é? — Serena retrucou, avançando em sua direção. — Eu vejo, V. Vejo cada vez que o nome dela surge, ou pior, quando o nome dela não surge, mas está ali, no silêncio, entre nós.
V passou a mão pelos cabelos, irritado.
— Isso não é verdade. Você está se agarrando a algo que já morreu há muito tempo.
— Morto? — Serena riu, amarga. — Não pareceu tão morto no casamento do Jin.
Ele arregalou os olhos, surpreso com a menção.
— Você jurou que não tocaria mais nesse assunto.
— E como você espera que eu não toque, V? — ela disparou. — Como eu ignoraria o fato de que você largaria tudo, inclusive a mim, para ir embora com ela, se ela tivesse te dado um sinal?
— Mas eu não fui! — ele exclamou, a voz cheia de frustração.
— Você não foi porque ela te recusou! — Serena disparou de volta, a mágoa transbordando em sua voz.
O silêncio caiu sobre eles como um peso esmagador. V ficou parado, sem saber o que dizer. Serena deixou escapar uma risada seca, cheia de incredulidade.
— Você não vai nem negar, vai? — ela sussurrou, os olhos marejados.
Ele tentou abrir a boca para falar, mas nada saiu. Ele sabia que qualquer coisa dita naquele momento seria inútil.
— É isso, então — continuou Serena, recuando alguns passos. — Você pode dizer que tentou, mas a verdade é que nunca esteve realmente aqui.
V finalmente encontrou sua voz, mas era baixa, quase um sussurro.
— Serena...
Ela ergueu a mão, interrompendo-o.
— Não. Não faz isso. Não me pede para ficar, porque eu já estive sozinha por tempo demais, mesmo ao seu lado.
Com essas palavras, ela virou-se novamente, abriu a porta e saiu, deixando V sozinho com o eco do que poderia ter sido.
Do lado de fora, Serena andava apressada pelo corredor, os olhos marejados e os passos ecoando no chão frio. Ela apertava os braços contra o corpo, tentando se proteger da dor que pulsava dentro dela. Antes que pudesse alcançar o elevador, ouviu passos atrás de si e, de repente, sentiu a mão de V segurar seu braço.
Ela parou, mas não se virou.
— Serena, espera... — a voz dele era urgente, quase desesperada.
Ela finalmente se virou, as lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Por quê, V? Me dá um motivo para ficar. Só um.
Ele hesitou, as palavras travando em sua garganta. Pensou em tudo que havia perdido, em todas as vezes que se sabotou por conta de Sooyan. Mas as palavras de JK ecoaram em sua mente: "Você precisa seguir em frente. Ela está tentando, e você deveria fazer o mesmo."
Inspirando fundo, ele segurou o olhar dela e respondeu.
— Porque eu sou o mesmo, Serena. O mesmo cara que encheu o apartamento de plantas e agora não sabe como cuidar delas. E porque eu preciso de você... para me ajudar a mantê-las vivas.
Serena soltou uma risada incrédula, enxugando o rosto com a mão.
— Se eu continuar lá sabendo que você ama outra pessoa... — ela começou, mas sua voz falhou. — V, quem não vai conseguir ficar viva sou eu.
Ele sentiu o coração apertar com aquelas palavras. Por um momento, o impulso venceu a dúvida, e ele fez o que parecia ser sua única saída.
— Serena... — ele disse, a voz baixa e carregada de emoção. — É você quem eu amo agora.
As palavras saíram com um peso que ele não esperava, mas estavam ditas. Serena ficou estática, os olhos arregalados e as lágrimas congeladas no rosto.
— O quê? — ela sussurrou, como se precisasse confirmar.
— É você — ele repetiu, mais firme.
Por um instante, ela ficou parada, como se não conseguisse acreditar no que estava ouvindo. Então, quase por impulso, ela deu um passo à frente e o abraçou, apertando-o com força, como se ele fosse a única coisa que a mantinha inteira.
Ele fechou os olhos, sentindo o calor do abraço dela. E ali, com os braços dela ao seu redor, ele sussurrou próximo ao ouvido dela:
— Eu quero continuar com você. Quero tentar... me curar de todas as feridas. Quero ser inteiro para poder seguir com você.
Serena soltou um soluço, enterrando o rosto no ombro dele.
— Eu só quero que seja verdade, V... eu só quero que seja verdade.
Ele a apertou mais forte, sem responder, porque sabia que ela estava se agarrando à mentira que ele contou. E, no fundo, ele esperava que repetir aquela mentira fosse suficiente para torná-la real.
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v3 - Not Celebrity • Immoral Fame
FanfictionNa nova fase como empresária de sucesso, Tak Soo-yan acaba envolvida além do permitido com um jovem ídol de uma empresa parceira, essa ligação acaba mexendo com sua vida profissional e pessoal, o que acaba afetando seu senso moralista. Seguir em fr...