Capítulo dois

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Nossa primeira parada do Tour-da-Lola, como ela intitulou nosso passeio, foi em uma cafeteria, que ficava a menos de trezentos metros da residência estudantil. O lugar era bonito, aconchegante e movimentado. Tinha um ar jovem, que com certeza vinha das dezenas de estudantes universitários que estavam sentados nas mesas, abusando do wi-fi grátis, óbvio.

Nós entramos na fila para pegar alguma coisa para beber. Eu olhei para os lados, me sentindo apenas um pouco desconfortável rodeada por tantas pessoas de uma só vez. Minha mãe diz que eu não gostar tanto de pessoas é um problema, já que eu quero ser atriz (e porque eu também sou uma pessoa). Eu não me importo, porque consigo disfarçar muito bem minha falta de habilidade social sob a alegria de Lola.

- Eu preciso ir ao banheiro – ela sussurra em meu ouvido para ninguém mais ouvir, como se fazer xixi fosse crime. – Quero um café gelado com bastante leite, sem açúcar.

Eu balanço a cabeça, concordando, e dou um passo à frente para fazer o pedido, porque chegou minha vez. Peço o café gelado de Lola e um milk-shake de baunilha para mim, torcendo fortemente para que tenha o que eu pedi. O atendente (muito bonito, por sinal) dá uma piscadela cheia de flerte, que me pega de surpresa, e se vira para fazer nossas bebidas. Eu já estou com o dinheiro na mão quando ele me entrega os dois copos.

- Caloura? – ele me pergunta sorrindo. Seus olhos têm cor de mel.

- Sim – respondo, retribuindo seu sorriso, mas confesso que estou completamente sem jeito.

Passar dois anos com o mesmo garoto me tirou completamente do jogo e agora eu não sei mais como é que funciona o mundo da paquera. As pessoas se referem a isso como paquera? Eu não sei.

Fico quieta, porque tenho medo de que ele escute meus pensamentos.

- Legal te ver por aqui – ele fala, virando-se então para atender o próximo cliente.

Por algum motivo ridículo, eu estou um pouco nervosa quando dou um passo para o lado e esbarro contra uma parede. Pelo menos eu acho que foi, porque fechei meus olhos na hora do impacto. Sinto o café gelado e o milk-shake escorrerem por minha camiseta branca, me causando arrepios porque, obviamente, está muito gelado. Abro os olhos para ver que não esbarrei em uma parede, mas sim em um cara que poderia facilmente se passar por uma. Ele não era tão alto, deveria ter 1,90 de altura, talvez, pelo menos vinte e cinco centímetros maior que eu... Ok, ele era alto.

Minha mente grita para que eu o insulte e o chame de babaca, mas eu respiro fundo e decido ser calma quanto a isso, já que eu não quero chamar mais atenção do que minha blusa manchada chama.

- Garota estúpida – ele murmura sob sua respiração enquanto passa os braços por sua camisa social branca arruinada. Há uma bola de sorvete de baunilha pendurada em sua gravata.

Eu estreito meus olhos, instantaneamente irritada. Só porque ele tinha esse cabelo castanho sedoso e perfeito e olhos cinzentos (não do tipo azul cinzento, mas sim totalmente cinza, tão claro a ponto de eu ficar em dúvida se aquilo era mesmo uma cor) ele achava que tinha direito de falar comigo daquele jeito?

- O que é que você falou? – eu pergunto, olhando firmemente em seus olhos ridiculamente bonitos.

- Sou eu quem faço as perguntas aqui – ele me responde em seguida, tirando a gravata de seu pescoço. Que cara atentado. – Por que você não olha por onde anda?

- Eu posso te fazer a mesma pergunta – digo, furiosa. – Você é um imbecil, como é que não viu que eu tinha acabado de pegar duas bebidas?

707Onde histórias criam vida. Descubra agora