Capítulo treze

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Eu volto para o 707 exatamente à meia noite.

Conrado está sentado no sofá e uma caixa de pizza gordurosa está aberta na sua frente. Eu franzo o cenho e o observo. Era Conrado mesmo? Ou talvez fosse um irmão gêmeo? Talvez ele tivesse sido abduzido e substituído por um ciborgue? Essas foram as únicas explicações que eu pude encontrar para a questão que não queria calar: Por que raios Conrado (leia bem: CONRADO) estava comendo pizza? Onde estavam os brócolis?

Ele escutou quando fechei a porta e se virou rapidamente para mim. Seus olhos estavam cravados nos meus há pelo menos trinta segundos quando eu consegui me mover e deixar as chaves sobre a mesa, como sempre fazia. Eu iria até meu quarto e ignorá-lo, mas quando voltei até a sala ele estava de pé e a televisão já não estava mais ligada.

- Oi – ele me diz, cauteloso. – Eu te liguei hoje. Ou ontem. Não sei. Acho que já passou da meia noite. Deve ter passado, eu estou aqui te esperando há bastante tempo. Perdi o controle sobre as horas...

Ele estava tagarelando. Se não fosse péssimo o fato de eu estar com raiva dele, acharia engraçado Conrado tagarelar como uma garota nervosa perto do cara bonitinho.

- Você está se referindo às vinte e uma ligações? – eu pergunto e minha voz soa mais ácida do que eu gostaria. – Eu sei, foi por isso que desliguei o celular.

Seu rosto está com uma expressão cansada e triste. Aquilo me incomoda, porque sinto que sou apenas mais um motivo para deixa-lo chateado. Sei que Conrado tem algum problema em alguma área de sua vida, porque apenas isso explicaria seus sumiços, e é por esse motivo que me sinto péssima nesse momento. Eu não deveria ter sido rude. Não deveria ter dito que desliguei o celular por causa dele.

- Ah – ele diz enquanto leva suas mãos até o cabelo. Há olheiras profundas sob seus olhos e tudo o que eu desejo nesse momento é perguntar se ele está bem. Mas me contenho.

- Você queria me dizer alguma coisa?

- Eu queria, mas não quero mais – ele fala com um fantasma de um sorriso triste em seu rosto. – Se você se acha boa demais para escutar qualquer coisa que eu tenho a dizer, eu não preciso disso. Eu não preciso de você.

Suas palavras me fazem sentir como se eu estivesse caindo em queda livre, mas sem toda a emoção e a sensação extasiante que a adrenalina traria. Sinto-me apenas perdida.

- Eu nunca disse que sou boa demais para ouvir o que você tem a dizer – eu respondo.

O que me intriga é que nenhum de nós dois está usando insultos ou erguendo a voz. Eu acho que preferia que ele estivesse gritando comigo.

- Não é o que parece.

Eu bufo.

- Por favor, não vamos começar a falar sobre quem está certo ou sobre quem está errado.

- O que você quer dizer com isso?

- Eu te consolei enquanto você estava arrasado e tudo o que você fez foi me largar! – falo, e agora estou com tanta raiva que preciso me forçar a não gritar.

Conrado balança a cabeça em deboche.

- O que você queria que eu fizesse? Queria que eu te deixasse dormindo na minha cama para sempre?

- Não, eu só... – e então paro de falar, porque eu realmente não sei o que eu esperava que ele fizesse.

Talvez tudo o que eu queria era que ele não tivesse me levado para meu quarto para sua namorada dormir na sua cama. Mas eu não podia falar isso. Não fazia sentindo que eu exigisse algo assim de alguém que não gosta de mim. Tudo o que consigo fazer agora é me sentir boba e infantil. Eu sou uma decepção.

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