Capítulo seis

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Eu passei a noite em claro, guardando minhas roupas nas malas. Doía meu coração ter que deixar Lola sozinha e morar com Conrado. Esse pensamento me fez rir e pouco depois eu estava gargalhando. Eu estava mesmo indo morar com Conrado? Isso parecia ridículo! Ninguém casa com alguém que odeia. Ou pior: ninguém casa com alguém que conhece há menos de uma semana. Não tenho como saber se ele é um maluco ou não. Embora ele provavelmente seja pirado, já que armou essa mentira.

E eu não havia como fugir disso. Já fugi de muitos problemas. Fugi de um namoro ruim e de amizades perturbadas. Mas não há como eu fugir disso, porque Conrado me colocou nessa. Eu não posso, agora que já me apresentei na sala do coordenador, dizer que era tudo uma brincadeira. Eu poderia ser expulsa por causa dessa "brincadeira"!

Por sorte, nessa noite Lola fora dormir no apartamento de Danilo. Eles têm passado bastante tempo juntos nessa semana. Gosto de Danilo e o acho muito bom para ela. Isso me faz feliz e tira um pouco a culpa por eu estar a deixando.

Quando paro de rir, percebo que estou chorando. Eu não havia sentido as lágrimas até que uma pingasse em minha mão enquanto eu dobrava as roupas e as recolocava em minha mala. Isso seria muito difícil. Minha vida universitária não estava sendo nada como eu queria que fosse.

Eu estou parada em frente ao apartamento de Conrado. Nós nos casamos há 30 minutos e eu ainda não consigo acreditar que eu estou nessa enrascada. Minha mãe vai me matar.

Fomos até o cartório, Conrado levou quatro testemunhas contratadas para que ninguém soubesse de nada, e nós nos casamos, pegamos nossa certidão de casamento e demos o fora. Ele vestiu roupa social; eu jeans e tênis. Dizem que o dia do casamento é o dia mais feliz da vida de uma pessoa, mas no meu caso, foi o dia da minha condenação. Por seis meses, eu estou casada com Conrado Montez. Isso faz de mim Zahara Montez. Ai, que porcaria.

Eu me esforço para tirar minhas duas malas do porta malas do carro. Eu estou decidida que conversarei com Conrado apenas enquanto estivermos em aula e ele for meu professor, não meu marido. Eu dou uma risada. A palavra marido é engraçada para mim, que nunca terei um de verdade. Quero dizer, eu não tenho o menor interesse em casar. Sou uma pessoa que não precisa de outra pessoa para ser feliz.

Eu preciso parar de ser chorona. Não há saída dessa, seja uma mulher, Zahara.

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- Pode deixar que eu levo as malas – a voz séria de Conrado veio por trás de mim. Ele se debruçou sobre mim para pegar as malas de minha mão. Eu odeio quando me impedem de fazer qualquer coisa. – Não sou tão idiota.

Eu teria falado qualquer coisa naquela situação para impedi-lo, mas senti seu perfume amadeirado quando ele se aproximou de mim e eu me afastei imediatamente.

- Tem certeza? – perguntei ironicamente, levantando uma sobrancelha.

- Sim, eu posso levar.

E então ele entendeu que eu havia, na verdade, perguntado se ele tinha certeza de que não era idiota. Seu olhar ficou ainda mais sério e ele soltou as malas no chão, irritado.

- Dê um jeito nelas você mesma – disse, e então deu as costas para mim e começou a caminhar na direção do prédio. – Sétimo andar, apartamento 707.

Por sorte, a parte mais difícil ele já tinha feito, que era retirar do carro. Eu levantei as alças da minha mala de rodinhas e as arrastei atrás de mim. Se ele pensava que eu demoraria muito tempo para conseguir chegar ao apartamento, estava enganado. Um prédio como aquele deveria ter elevador, diferente do meu dormitório, que tinha vários lances escuros de escada. Um terror.

707Onde histórias criam vida. Descubra agora