Vejo Conrado ficar tenso do meu lado quando Kevin acena para mim. Eu fico em dúvida do que devo fazer, mas mesmo assim dou uma rápida olhada para o irritadinho do meu lado e então vou conversar com Kevin. Ele me cumprimenta com um beijo no rosto.
- O que você está fazendo aqui? – eu pergunto.
- Eu vim ver seu ensaio – ele fala. – Espero que não tenha problemas.
- Acho que não.
- Bom – ele continua. – E eu estava esperando que você quisesse sair comigo depois da aula...
Eu sabia que essa pergunta logo viria. Kevin é insistente.
- Eu não posso faltar as outras aulas – eu falo. – E eu já falei que vou sair com você no sábado.
Kevin suspira, triste.
- Está bem – ele fala fazendo beicinho. Eu dou uma risada.
- Você vai ficar namorando ou vai vir fazer seu trabalho? – Conrado grita para que eu e todos os outros possam ouvi-lo.
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No sábado eu estava ansiosa demais para ver Kevin. Eu sei que preciso me controlar e que não posso esquecer que ele já quebrou meu coração mais de uma vez, mas o fato é que eu realmente gosto dele, apesar de tudo. É fácil estar com ele, porque não precisamos de cerimônias ou de tentativas para impressionar. Tudo isso já acabou há dois anos.
Ainda faltam cinco horas para que ele venha, mas eu não consigo tirar os olhos do relógio, como se as horas fossem simplesmente saltar de um minuto para o outro.
Escuto a porta da frente se abrir e em seguida se fechar com força. Eu saio do meu quarto para ver quem é e esbarro com Conrado no corredor. Ele se assusta quando me vê e em seguida vira seu rosto para que eu não o veja. Seus olhos estão inchados e seu rosto está um pouco vermelho, como se ele tivesse acabado de chorar. O que está acontecendo?
- Conrado? – eu pergunto, me aproximando um pouco.
- Não posso lidar com você agora – ele me diz, ainda encarando a parede e fazendo sinal com a mão para eu parar.
- Você está bem?
- É claro que eu não estou bem! – ele fala, e consegue passar por mim, indo para seu quarto. Antes que ele bata a porta atrás de si, eu entro no quarto com ele, porque está me incomodando não saber o que está acontecendo.
- Conrado, fale comigo – eu digo, sentando-me na beirada da cama. Ele está deitado no meio, com os braços sobre a cabeça.
- Eu já disse que não quero falar com você agora – responde. Sua voz é fria e indiferente.
Eu respiro fundo. Eu não o deixaria me irritar, porque sei que precisa de mim agora.
- O que aconteceu?
Conrado não me responde, mas uma respiração entrecortada escapa de sua garganta. Ele estava chorando? Eu não conseguia ver seu rosto, porque ele me impedia. Ai, meu Deus. O que se faz quando um cara desse tamanho quase chora na sua frente? Eu fechei os olhos por um segundo, tomei coragem e então me aproximei mais dele. Eu confesso que já estava preparada para ser empurrada para fora da cama, mas isso não aconteceu. Ao invés disso, quando eu o toquei, ele se virou para mim e deitou a cabeça em meu colo.
- Está tudo bem agora – eu digo a ele, passando minhas mãos por seu cabelo macio.
Ele está com os olhos firmemente fechados e sei que está se controlando para ficar calmo. O que o tinha incomodado tanto? De uma coisa eu tinha certeza: todas as vezes em que ele sumia, voltava furioso. Dessa vez, voltou devastado. Por que ele não me contava o que estava acontecendo?
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707
RomanceA vida de Zahara estava de cabeça para baixo: menos de um mês antes de mudar de cidade, seu namorado a deixou, após dois anos de relacionamento. Convencida de que a faculdade de Artes Cênicas seria boa para ela, Zahara não esperava se meter em um pr...