Capítulo nove

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Quando abro a porta eu ainda podia sentir meu rosto corado. Eu não sabia o motivo pelo qual eu não deixei Dionísio me beijar, mas aquilo estava quebrando minha cabeça. Eu me torturaria pelo resto da vida para descobrir o porquê de eu fazer tudo errado.

Levei um susto quando vi Conrado no sofá, dormindo. Uma garota, que eu reconheci como sendo a mesma da festa, estava encostada nele com a cabeça caída sobre seu ombro. Ela também dormia. Eu precisei ordenar a mim mesma que parasse de encara-los.

Coloquei as chaves em cima da mesa e quando voltei para ir em direção ao meu quarto, Conrado estava com os olhos abertos, me observando. Eu não consigo entender a expressão de seu rosto, mas me sinto incomodada com a presença da garota em seus braços. Eu paro de caminhar quando nossos olhos se encontram e por um segundo acho que ele vai dizer alguma coisa. Quando percebo que o silêncio prevalecerá, eu vou para meu quarto.

Eu tiro o vestido e os sapatos com um pouco de raiva. Por que eu estava me sentindo desse jeito? Era óbvio que ele traria sua namorada para o apartamento. Talvez eu estivesse tão irritada porque ele me disse para não sair com ninguém, mas não tinha intenção alguma de parar de ver a sua garota.

Peguei meu pijama e fui para o banheiro, enrolada na toalha. Os dois provavelmente já estariam dormindo, então não me importei. Tomei um banho, lavei meu rosto e penteei os cabelos. Me observei no espelho por alguns segundos antes de sair. Eu parecia cansada.

Para minha surpresa, Conrado estava encostado na porta de seu quarto, de frente para a minha. Eu parei antes de me aproximar. Eu não sabia o que fazer. Afinal, sua namorada deveria estar ali dentro. Seus olhos se ergueram na altura dos meus e ele pareceu confuso. Percebi que ele também estava cansado.

- Como foi o jantar? – perguntou. Sua voz estava baixa. Provavelmente não queria que sua namorada acordasse.

- Bom – digo, tentando não demonstrar como estou irritada.

Ele balança a cabeça.

- Lola ligou.

Então por isso ele estava conversando comigo. Se Lola não tivesse ligado e provavelmente deixado um recado, ele nem mesmo faria o esforço de falar comigo.

- Está tudo bem com ela?

- Sim. Ela disse que precisa falar com você.

- Ah – é tudo o que eu falo.

- Pode usar o telefone, se quiser. É seu também.

- Sim.

E então ficamos sem nada para falar. Quando o silêncio já estava quase alcançando um minuto, eu abro a porta de meu quarto.

- Vou dormir, se você não se importar.

- Não, claro que não – ele diz, parecendo um pouco embaraçado.

O que estava acontecendo com ele?

- Tchau – digo antes de fechar a porta. Eu não obtive resposta alguma.

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Acordei às três horas da tarde. Embora eu estivesse exausta na noite anterior, demorei duas horas para conseguir dormir. Minha mente não me deixava parar de pensar no encontro que tive com Dionísio e nossa despedida horrível. Por que eu não o deixei me beijar?

Levantei da cama um pouco hesitante. Eu não sabia se a namorada de Conrado ainda estaria ali e, com certeza, eu não queria trombar com ela vestindo apenas uma de suas camisas sociais. Talvez isso fosse muito clichê, mas eu não duvido que acontecesse. Minha vida é um enorme clichê.

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