Capítulo sete

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Quando abri a porta da frente do apartamento 707 eu tinha apenas uma certeza: Conrado merecia uma lição.

Eu não estava certa do que fazer, mas a raiva ainda martelava em minha mente como se estivesse me controlando. Na verdade, estava. Eu odeio admitir isso, mas eu não conseguia pensar em outra coisa.

Minha barriga fez um barulho alto e por isso eu decidi comer alguma coisa. Coloquei uma pizza no forno e enchi um copo de refrigerante com muito gelo. Tomei tudo até que minha garganta ardesse. Demoraria mais dez minutos até que minha comida ficasse pronta, então resolvi tomar um banho. Quando voltei, coloquei a pizza de volta na caixa, porque eu já sabia onde é que eu jantaria.

Peguei o pote de sorvete, minha pizza, chocolate e meu mega copo de refrigerante. Eu quase me matei para conseguir carregar tudo de uma vez. Eu acho que poderia trabalhar em um circo depois do lance de equilibrismo que fiz. Precisei abrir a maçaneta da porta do quarto de Conrado com o meu pé.

Uma vez que eu estava dentro, seu perfume ridiculamente gostoso tomou conta de mim. Isso me deixou com mais raiva ainda. Sentei na cama que estava posicionada no meio do cômodo, cercada por dois abajures, de frente para um armário muito bonito.

Coloquei a caixa e a embalagem por cima de seus lençóis brancos bem esticados e só então consegui relaxar. Comi metade da pizza, uma boa quantidade de sorvete direto do pote e (sem querer) derramei um pouco de refrigerante em seus travesseiros. Quando terminei, eu limpei minha mão cheia de catupiry e ketchup da pizza em seus lençóis, porque eu quis.

Eu dei uma risada. Ele ficaria completamente louco quando chegasse em casa. Eu fui até seu armário e observei suas camisas sociais bem passadas e penduradas perfeitamente por ordem de cor. Ah, que raiva! Não sei no que eu estava pensando, mas peguei algumas delas na mão e joguei por cima de sua cama. Aquilo era legal. Bagunçar o mundo de Conrado era legal, assim como ele estava bagunçando o meu.

Abri uma gaveta e ri ao ver vários pares de meia da mesma cor. Não havia nada além de preto. Joguei-as para trás de mim sem hesitar. Infelizmente, uma caiu dentro do meu pote de sorvete que já começava a derreter. Pelo jeito eu deixaria o pote de sorvete em cima da cama, mesmo.

Eu não estou mais zangada. De maneira alguma eu estava irritada. O jantar gostoso e a pequena diversão que eu tivera me distraíram e agora eu nem mesmo consigo me lembrar porque fiquei tão irritada na festa.

Meu coração acelerou quando ouvi a porta da frente do apartamento se abrir. Conrado estava em casa. E eu estava ferrada.

Fechei a porta rapidamente e atravessei o corredor para entrar em meu quarto, que ficava de frente para o seu. Tranquei minha porta, porque ele com certeza ficaria muito irritado. Para falar a verdade, eu estava até mesmo com medo de que ele derrubasse minha porta e me lançasse pela janela. Eu até empurraria um armário contra a porta apenas para garantir minha segurança, mas infelizmente eu só tenho uma cama. E minhas duas malas.

Eu escuto os passos de Conrado se aproximarem e de repente, ele para. Esperei pelos gritos de raiva, mas isso não aconteceu. Então eu ouvi uma batida em minha porta.

- Zahara – ele me chamou. Seu tom de voz era calmo e sereno. Talvez ele estivesse bêbado e por isso não se importou com a bagunça em seu quarto.

Eu não o respondi. Eu não tenho certeza do que estava sentindo. Um pouco de medo, talvez.

- Eu quero pedir desculpas pelo o que aconteceu na festa – ele disse. – Eu sei que você está me ouvindo.

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