Capítulo dezessete

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A aula de teatro foi péssima. Dionísio não poderia ser mais descarado quanto ao fato de que está "fu" da vida comigo. Durante a interpretação eu posso jurar que ele ainda está interessado em mim, mas no instante em que a última fala é dita, seu olhar se transforma e eu posso ver claramente em seus olhos que ele está com raiva de mim.

Ele nem mesmo me deu chance para me explicar, por isso não vou ficar tentando me redimir, quando na verdade a pessoa idiota é ele. Talvez se ele estivesse disposto a conversar, nós poderíamos ter resolvido a situação. Mas não mais. Se alguém não faz o mínimo dos esforços para se reconciliar comigo, eu não vou colocar toda minha energia em uma tentativa de amizade que pode não dar certo.

Pelo menos, agora tudo já acabou e eu posso ir para o restaurante, relaxar e conversar com os meus amigos de verdade, que não são um bando de bocós como o pessoal da minha turma de teatro.

No instante em que eu sentei à mesa, os três pararam de conversar e se entreolharam em silêncio.

- Aconteceu alguma coisa? – pergunto, preocupada.

- Não sei, Zahara. Aconteceu alguma coisa? – Lola retruca. – Não sei, talvez você tenha casado há meses e esqueceu de nos contar? Não? Tudo bem, então, deve ser obra da minha imaginação.

Eu tenho certeza de que estou branca como uma folha de papel. Meu coração está disparado e eu não faço a mínima ideia do que fazer.

- Foi Kevin quem te contou, não foi?

Lola arregala os olhos e ela parece estar a ponto de pular em meu pescoço.

- ATÉ KEVIN SABIA E EU, SUA MELHOR AMIGA, NÃO?

- Não grite! – eu digo. Todos ao redor já estão nos olhando.

- Você é pirada, Zahara! PI-RA-DA! – Lola me insulta e eu começo a sentir meu sangue ferver de raiva.

- Ei! Pode parar com isso, você não sabe o motivo para eu não ter contado.

- Ah, é, não sei mesmo, porque você não me conta nada!

- Meninos, me ajudem aqui – eu imploro, mas eles apenas me lançam um olhar de decepção.

Sinto como se estivesse afundando e as coisas começassem a girar ao meu redor. Estou ficando tonta.

- Eu não acredito que você se vendeu para conseguir o papel! Você casou com ele apenas para ser a principal na peça! – Lola me acusa.

- Lola, eu jamais me casaria com alguém por causa de um papel. Eu juro...

- Então por que você casou com ele? – ela pergunta, quase gritando. – Porque eu tenho certeza de que ele não iria apontar uma arma para a sua cabeça e te forçar a casar.

Eu estou com muita raiva.

- Não posso te contar agora – digo, olhando para os curiosos que nos encaram.

Lola arregala os olhos de novo e balança a cabeça.

- Você é uma mentirosa profissional, Zahara. Espero que saiba disso. Eu sempre soube que você consegue esconder as coisas das pessoas, mas nunca pensei que fosse mentir para mim.

Eu me levanto da mesa, furiosa. Eu poderia muito bem jogar os pratos para todos os lados e nem me importaria com quem estivesse vendo.

- Você é uma droga de uma amiga! – eu quase grito.

O queixo de Lola cai e ela parece ainda mais indignada agora. Ela também se levanta e dá a volta na mesa para ficar de frente para mim. Estamos cara a cara.

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