Capítulo 4 - São assim que as coisas são.

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Você me chamou várias vezes. Como posso te ajudar?

– Estão invadindo? O que vamos fazer? – Ele parece perturbado.

– Nada. – Digo, ainda tranquila – Meu avô mandou instalar um sistema que tranca todas as portas quando há uma invasão – portas trancadas, a voz anuncia.

– Então, nós e os invasores estamos presos aqui?!

– Bom, nós estamos presos aqui em cima, no meu quarto, e eles lá embaixo. – Hesito – Pelo menos espero.

– E como saímos daqui?

– O sistema é desativado por voz, pela voz do meu avô. Mas a casa liga automaticamente para a polícia e o sistema é desativado com o barulho da sirene.

Falta energia. Imagino que os invasores tenham feito isso em uma tentativa de abrir as portas.

– Não me diga que esse sistema precisa de energia para manter as portas trancadas?

– Não, mas o telefone precisa de energia para funcionar.

– Ou seja, vamos ficar aqui para sempre! – Ele quase grita, mas coloco minha mão em sua boca.

– Óbvio que não. O sistema reinicia depois de vinte e quatro horas. Devo ter o que precisamos para nos manter bem por vinte e quatro horas.

Caminho silenciosamente até a minha cama. Engulo em seco. Está tudo tão escuro. Ficamos um tempo em silêncio, me pergunto se Breno ainda está aqui.

– Já sei! – Ele fala, suspiro de alivio, nem sabia que estava segurando um suspiro – Seu celular?

– Descarregado. – Digo, obvio, claro que eu já tinha pensado em ligar para a polícia do meu celular – E o seu?

– No meu quarto.

Rir de ele ter dito "meu quarto".

– Se você não tivesse me seguido poderia estar no outro quarto e ter ligado para a polícia.

– Isso é impossível, eu provavelmente ainda estaria lá embaixo. E mesmo se eu estivesse no quarto não saberia o que está acontecendo e estaria preocupado com você.

O oxigênio do mundo some por um segundo.

– O que você disse? – Pergunto.

Ele bufa.

Ouço um trovão. Mordo meus lábios para não gritar.

– Medo? – Ele pergunta, provavelmente se sentando no canto da minha cama.

– Claro que não. Não tenho medo de nada. – Digo, mas outro trovão vem para me corrigir.

– Quando eu era criança eu também tinha medo de trovões e...

– Você está me chamando de infantil?! – Interrompo-o.

– Posso terminar de falar?! Quando eu tinha medo, Otavio sempre conversava comigo até o que me provocava medo passar ou eu simplesmente dormir. Podemos conversar se quiser. – Permaneço calada, não sei se quero conversar com alguém, principalmente com ele – Ou – sinto alguma coisa sentando ao meu lado me assusto –, calma, sou só eu – não sei o motivo, mas me afasto um pouco, dando espaço a ele –, podemos ficar apenas calados, ouvindo a chuva.

Engulo em seco, ouço por alguns segundos a chuva até que há um relâmpago, em seguida um trovão, o barulho foi tão alto que imagino que não foi muito longe.

Limpo a garganta.

– Quer conversar sobre o quê? – Sussurro.

Não sei o motivo, mas alguma coisa me diz que ele está sorrindo.

Uma vez em uma lua azulWhere stories live. Discover now