A Sapatilha Azul - Setembro Amarelo

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As crises de ansiedade
são capazes de transfiguração
Um dia são como vaga-lumes na palma de um urso
No outro, elas são como o urso.

Uma vez, ouvi essa poesia acima
da escritora Sabrina Benaim
explicando sua depressão para a mãe,
Faço dela as minhas palavras para explicar
sobre as crises de ansiedade.

A ansiedade é capaz de me deixar na cama por um dia inteiro
Eu me sinto mal por tentar fazer algo
que eu sei que vai ser mal feito
E eu me sinto mal por não tentar fazer algo
E não importa muito o que aconteça
Eu me frusto e a ansiedade por estar frustada, aumenta.

Alguns dias, é impossível distinguir os sons
e as ideias dentro da minha cabeça
É como uma construção ou uma bolsa de valores
Onde todos estão gritando e clamando por atenção
E exigindo ações ou planos futuros ou até mesmo
Distribuindo a culpa pelo passado, tudo ao mesmo tempo.

As vezes tudo o que eu preciso é de um lugar quieto
para deitar no escuro e na inércia até conseguir uma bóia
que não deixe eu me afogar nesse mar de confusão
As vezes chorar copiosamente, as vezes gritar
Mas quase sempre não tenho lugar ou privacidade
ou tempo e oportunidade para isso

Então, eu faço o de sempre: finjo que está tudo bem

Porque na minha cabeças as pessoas ao meu redor:
~Não entenderiam as crises sem sentido para elas
~Não devem se preocupar com isso, já que elas já tem problemas suficientes em suas vidas
~Não aceitariam que isso acontecesse
E outras mil variantes que sempre estão presentes quando eu começo a pensar no assunto.

Já faz alguns anos que comecei a trancar as crises
esses tornados violentos dentro de mim em caixas
e tranca-las com cadeados que não fazem muito sentido
para ninguém além de mim.

A caixa está trancada e permanecerá assim se eu usar apenas algumas peças de roupas. Então para não errar, eu tiro todas as outras dos cabides para que eu não possa utiliza-las
Deixar essa bagunça faz com que eu me sinta também ansiosa
Mas é um vento mais fraco que o tornado que eu estou tentando mascarar. Com esse pequeno eu posso conviver, mesmo sem saber direito como lidar.

A caixa está trancada e permanecerá assim se eu não responder todas as pessoas que mandam mensagem. Então, as vezes, eu sumo das vidas de algumas pessoas. Deixar essa lacuna faz com que eu me sinta também ansiosa porque eu sei que estou provavelmente perdendo uma possível amizade. Mas, é um vento mais fraco que o tornado que eu estou tentando mascarar. Com esse pequeno eu posso conviver, mesmo sem saber direito como lidar.

A caixa está trancada e permanecerá assim se eu usar sempre a sapatilha azul para sair. Então, para não me confundir, eu faço com que não seja possível usar nenhum outro sapato. Deixar esses limites sobre mim faz com que eu me sinta também ansiosa, Mas, é um vento mais fraco que o tornado que eu estou tentando mascarar. Com esse pequeno eu posso viver, mesmo sem saber direito como lidar.

E assim vou tentando dia após dia
continuar a respirar e não me afogar
Mas toda vez que parece que o mar está calmo
e que vou sair dele, vem uma onda para me testar.

Mas como dizem, mar calmo não faz bom marinheiro.

Eu olho pra baixo e estou vestindo pijamas ainda
e a sapatilha azul está nos meus pés
e mesmo que seja uma ilusão ou por alguns minutos
é como se eu pudesse explicar tudo o que acontece.

Eu sei, não tem final feliz
Eu sei, parece poesia mas nem rima tem
Isso tudo é só para exemplificar e te pedir
Seja gentil com todos ao seu redor
As menores coisas, podem ser a unica chance
da batalha que eles estão travando dentro de si...

Teorias do Imaginário #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora