7 anos. Uma sessão de cinema. Dois colegas e uma verdade: eu não amava você.

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7 anos. Uma sessão de cinema. Dois colegas e uma verdade: eu não amava você.

Terça Feira estressante. Saí cedo do trabalho e resolvi ir para o cinema. Sozinha. Faço isso com frequência.

O filme é ótimo. Ao sair da sala, dou de cara com um colega dos tempos de ensino médio.  Muito tempo. Sete anos atrás.

Nos cumprimentamos, felizes desse reencontro tão inesperado. Eu saí daquela cidade pequena e nunca mais pensei em voltar,  ele sequer mora ainda no país.  Estava a passeio, resolvendo algumas pendências quando resolveu assistir o filme.

Ele me convidou para jantar e insistiu que era por conta dele, porque eu vivia dividindo o lanche que comprava com ele e agora, ele queria recompensar. Aceitei.

Chegamos à um restaurante bonito. Simples e bonito. Pedimos massa. Vinho.

Começamos a conversar trivialidades. O que cada um está fazendo, as histórias mais engraçadas de cada um, compartilhando erros, acertos e risadas.

Na segunda taça de vinho ele falou: Sabia que eu passei dois anos do ensino médio pensando que eu amava você?

Eu pergunto o porque do assunto, ele me responde:

-Porque eu amadureci o suficiente para entender que o que eu achava que eu sentia não era amor. Eu não amava você. Amava uma visão minha de você.

Eu rio para tentar disfarçar o momento estranho.

Ele me olha sério e mais uma vez solta uma bomba: Eu queria ter amado você.

Eu respondo: Para quê?  Eu era comprometida na época,  gostava de outra pessoa.

Ele diz: Não estou falando que aconteceria algo, estou dizendo que eu queria ter sentido algo real. Aí eu poderia falar: Sabe essa garota brilhante? Então,  eu amei ela por um tempo.

Eu digo que isto foi algo muito doce para se dizer.

Ele responde: Só amei pessoas erradas. Mas não fui errado de ama-las. Eu só queria, sei lá... Parece muito confuso agora.

Rimos. Rimos muito.

Eu falo: Nós nunca escolhemos o amor.

Ele diz: E eu não sei? Se eu pudesse escolheria.

Eu insisto em saber o porque do assunto,  porque falar de algo que aconteceu a 7 anos atrás.

Ele responde depois de um curto silêncio: Porque parece que eu não tive escolha novamente. Quando eu percebi, estava amando uma pessoa. Por isso entendi que eu não amava você.  Eu te admirava, gostava, eu escolhia você como dona de um afeto meu. Amor não dá escolha.

Eu pergunto: Porque você não fala com a pessoa?

Ele olha diretamente para mim e tem lágrimas no olhar:

-Porque ela ama outro e escolheu subir ao altar com ele. Daqui a dois dias.

Eu me levantei da cadeira e abracei ele o mais forte que eu pude. Ainda abraçados ele olha para mim e tenta um meio sorriso. Eu falo:

-Bem, ainda temos massa, vinho e eu nem comecei a te contar meu novo arsenal de piadas idiotas. Elas estão péssimas.

Ele sorri. Volto ao meu lugar.

Terminamos o jantar com assuntos leves.

Quando o táxi chega ao metrô,  nos despedimos.

-Foi ótimo falar com você Ruth.

-Eu também gostei. Quando eu for visitar Portugal,  eu vou na sua casa comer pão com azeite.

Nos abraçamos e partimos. Eu, rumo à minha casa. Ele, rumo ao desconhecido.

Teorias do Imaginário #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora