No ônibus escolar, July não me deixava nem piscar. Falou durante a viajem toda. Se tem alguém que não se importa com o que as pessoas pensam de uma jovem sempre viver sorrindo, falando, e agindo de modo que não pareça muito normal, esse alguém era July. Talvez seja por ela ser brasileira. Dentre muitas amigas que tenho, July é especial. Não por ela ser uma loira gostosa, mas por ser super sincera e por ter um ótimo caráter. Sempre esteve comigo nos meus momentos tristes e nos felizes. Sempre me ajudou em matemática, e até no dia em que tentei ser jogador de futebol americano. Mas o jogo nunca foi minha praia. Sou bom mesmo é nos desenhos e em pinturas. Sou bom na arte.
No mesmo ano que entrei para High School Newt, July também entrou. Estudamos juntos no primeiro, segundo, e agora no terceiro ano do ensino médio. E pretendemos estudar na mesma faculdade se a vida nos reservar um bom futuro. Espero que sim. Porque viver ao lado dessa garota incrível é uma das melhores coisas da vida. Alegria, deveria ser o segundo nome dela. Se eu fosse hétero, com certeza teria dado uns pegas nela. Fazia ela sentir o meu pau todos os dias. Mas não sou. Então esquece.
Aula de biologia. Sento ao lado de July que está a minha direita. E ao lado de Luna Lee, que está a minha esquerda. Cody Lee chega cinco minutos atrasados e passa por mim como se estivesse em câmera lenta. Vai para o fundo da sala. Joga sua mochila preta no chão, e então noto alguns botons de filmes da Marvel. Thor, Homem aranha, Wolverine, e Lanterna verde. Pelo menos o cara tem um gosto legal. Ele poderia tentar aprender alguma coisa com algum desses heróis. Como o respeito, por exemplo.
Volto minha atenção para a aula.
July me interrompe.
- acho que minha mãe ta gostando do nosso professor de educação física - sussurra ela.
- por que você acha isso?
- sei lá. Ela só me pergunta sobre essa aula. E de como o professor reage comigo.
- nada a vê. Talvez sua mãe só esteja curiosa. Assim como você fica, quando ver o diretor se trancar na sala com a professora Lúcia.
- por que você me lembrou disso, em? Agora fiquei mais curiosa. Tenho certeza de que a professora Lúcia chupa o diretor. Talvez ele tenha um pênis de quarenta centímetro.A conversa para. O silêncio chega aos nossos ouvidos. Olhares de todos os lados nos encaram. Fico vermelho feito uma pimenta, enquanto July desfarça sua vergonha com um simples sorrisinho. Me sinto mais calmo quando o professor Augusto diz:
- talvez toda a classe também queira saber dessa conversa de vocês dois, que deve ser muito interessante, não?
- desculpa! - indago.
- se eu ouvir a voz de um de vocês dois, vão ficar com zero na segunda nota. Entenderam?
- sim proff - brincou July.Durante o intervalo, July e eu sentamos numa mesa que ficava próxima a uma grande janela. Só nós dois. Até ele surgir do nada. Cody Lee. O que ele queria dessa vez? Me xingar? Me bater? Jogar meu lanche nos meus caxos? Não. Ele senta e então começa um discurso que me deixa boquiaberto.
- como assim! - exclama July, toda surpresa.
- estou pedindo desculpas por tudo que fiz com seu amigo - responde Cody coçando o queixo - eu sinto muito. Muito mesmo Isaac. Lembra do dia em que você socou minha cara só no lado esquerdo? Quando cheguei em casa, minha mãe quase surtou. Mas naquele momento, eu soube reconhecer meu erro. Eu soube reconhecer o que era ser um idiota. Um homofóbico. Não disse o nome de quem me fez aquilo. Apenas disse que eu merecia. E foi verdade, eu realmente merecia aquilo. Sinto muito por todo esse tempo eu te fazer sofrer de uma maneira tão... Horrível. Desculpa.- cara? Numa boa, desaparece da nossa frente - diz July - você acha que desculpas vai trazer a felicidade dele de volta? Acha que vai cicatrizar os cortes deles? Acha que a marca que o coração dele tem hoje, vai desaparecer assim do nada com suas desculpas? Você acha isso Cody? Em?
- calma July. Calma.
- não Isaac! - grita ela - você não sabe se defender, então eu te defendo. Esse cara não merece o seu perdão. Não merece!
- Eu mudei. Eu juro. Acredite em mim July, por favor!
- não. Estou muito bem sem acreditar em sua mudança idiota. Por que você não vai balançar os ovos dos seus amigos? Acho que você ganha mais fazendo isso. Imbecil.July se retira. Todos nos olham com olhares de "quero mais". Vou atrás dela, deixando minha resposta em branco. É a primeira vez que vejo July tão brava. Tudo bem que ela só estava tentando descontar tudo o que Cody Lee me fez, mas... Acho que ela não soube dar uma chance ao cara. Como já disse antes, "na vida, tudo tem sua primeira vez". Mas pra isso acontecer, temos que dar uma chance. Uma chance ao erro. Assim, ele vai se corrigir por conta própria.
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Isaac
RomanceVivemos em mundo, onde o preconceito vem à tona, onde a dor precisa ser suportada, para que nos momentos de fraqueza, possamos nos permitir agir de uma forma extremamente agressiva, acorrentado a sensibilidade.