pânico na cafeteria

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Faltava apenas cinco minutos para o intervalo terminar. Minha amiga July, que não parava de ler "Harry Potter e as relíquias da morte", mastigava a tampa da caneta a ponto de comê-la como se não houvesse comida à sua frente. Sua obsessão por leituras era quase a minha morte. Sendo que July começou a ler ano passado, e seu primeiro livro foi "Dezesseis luas". Não entendo como alguém consegue perder horas e horas lendo, lendo, e lendo. A vida é apenas uma, temos que aproveitar o quanto antes. Mas quando eu criticava alguém que gostava de leitura, July sincera, sempre dizia: "Não consigo entender um garoto beijando outro garoto". E quando não era isso, ela me dizia: "você poderia viver várias outras vidas antes de morrer". Como se eu não tivesse outra coisa pra fazer. Mas nessas indas e vindas, July Cross começou a se apaixonar lentamente por mim. Mesmo sabendo que sou gay. Era meio confuso essa coisa de se apaixonar por um amigo, ainda mais quando esse amigo é gay. July sabia que não tinha chance comigo, e mesmo assim, ainda flertava comigo de vez em quando. Até que eu às vezes, "ÀS VEZES" não conseguia resistir aos seus charmes de garota brasileira se sentindo aventureira. Mas passou. Eram apenas momentos. Momentos que ela e eu sabíamos que poderiam vim a acontecer novamente.

High school Newt, era um colégio bem frequentado. Alunos de famílias ricas que não queriam gastar seus dinheiros com estudos desperdiçados por filhos rebeldes que só queriam saber de bebidas e sexo. Um deles era Cody Lee. Um cara bem, bem, bem grandão. Grandão mesmo. Não era atoa que ele passava a maior parte de suas férias fazendo exercícios físicos na academia de seu pai. Os tríceps de Cody chegava a quarenta e cinco sentimetros. Alguns alunos juravam que era bomba, mas não. Não era. O cara é verdadeiramente um monstro de quase dois metros. Odeio esse cara. Odeio o carro dele. E também o cachorro dele. Odiaria até minha mãe, se me dissesse que Cody Lee é bonito ou sei lá o quê. E falo sério. Usaria reticência até minha morte.

Quando finalmente fomos soltos da prisão colegial de Nova Jersey, July e eu fomos a uma cafeteria que fica próxima a quadra de golfe. Pra variar, no lugar só tinha "NÓS" além da garsonete que era uma velha de cabelos quebrados e Sebosos.

- Acho que uma das bruxas do seu livro acabou de sair da história - disse, prendendo a risada.
- Não enche Isaac. Isso não tem graça. Vamos fazer logo nosso pedido, e voltar pra casa.

Panquecas com muito, muito chocolate, e um copo imenso de Milk Shake de morango. Dividimos o Milk Shake porque estávamos sem grana pra dois copos. Enquanto comiamos as maravilhosas panquecas, um homem entrou na cafeteria gritando "passa a grana ou estouro seus miolos!" meu coração pedia por socorro, pois meu peito quase rasgava de tantas batidas que levava. A velha tirou a grana e passou para o homem, mas não foi só isso que ela tirou. Poderia ser uma das varinhas do mundo de Harry Potter, ou até mesmo uma vassoura, mas não. Ela tinha que ter uma arma. Tiros pela esquerda, tiros pela direita. Vidros no chão, July no chão, eu no chão. Gritos por toda a parte. Ela estava chorando, chorando de tanto medo. Queria poder fazer alguma coisa, mas não poderia fazer nada. Não em um momento como esse. Não sou um herói ou algo do gênero. Sou apenas um adolescente morrendo de medo igual a qualquer um. "Temos que sair da porra desse lugar!" era o que July me dizia, com a voz alterada quase pocando meus tímpanos. Consigo ver luzes vermelhas e azuis. A polícia. Finalmente. Depois que toda a cafeteria fica em pedaços, depois que quase tenho um infarto, depois que a velha morre, a polícia chega.

- meu Deus... Meu Deus... Deus! - era o que July dizia o tempo todo.
- calma. Você vai ficar bem agora. Tudo acabou.
- não. Não, nada estar bem Isaac. Nada. Quase morremos na droga dessa cafeteria, e você acha que tudo vai ficar bem?
- sem drama July. Numa boa. Eu também estou chocado. Tô tremendo até agora. Mas não estou fazendo drama como uma garotinha assustada.

Depois disso, July Cross estapiou minha face. Na verdade, só foi um tapa. E nem doeu. Mas mereci isso.

IsaacOnde histórias criam vida. Descubra agora