Simplesmente desapareço

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Me tranco no quarto. Não quero ver ninguém. Não quero ouvir ninguém, não quero que o mundo me veja e me ouça. Fico no meu próprio mundo com meus pensamentos pesados. Minha mãe não me viu chegar, então estou tranquilo. Por enquanto. Não estou chorando. Não estou com raiva. Estou com ódio dessa minha vidinha sem saída. É meio confuso sentir ódio da vida às vezes, mas sentir medo de morrer. Não quero morrer. Mas é só nisso que tenho pensado o tempo todo. Me livro de Cody Lee, mas ao mesmo tempo, Stefan Walter me faz de alvo. Que merda isso. Sou um ser humano como qualquer um, assim como cada um tem suas diferenças. Mas algumas pessoas não se importam com isso e simplesmente brinca com os sentimentos das outras pessoas. Causando medo, mas também ódio.

Uma, duas, três batidas na porta.

- filho?

Minha mãe. Não respondo. Estou deitado na cama olhando para o teto pensando em sair de casa e me atirar na frente de um caminhão. Ela não desiste de bater na porta. Suspiro fundo enquanto me retiro da cama e vou até a porta. Meu coração bate lentamente quase falhando do medo da reação de mamãe, quando ela arregala os olhos e leva sua mão até meu queixo, virando minha cabeça para lado.

- o que é isso nos seus lábios? Alguém te bateu?
- não - respondo olhando para o chão.
- Isaac? Não minta pra mim meu filho, se alguém bateu em você, você tem que dizer.
- ninguém me bateu mãe. Bom, na verdade... Sim. Bateu. Mas não foi de propósito, foi um acidente.
- acidente? Tem certeza?
- tenho. Houve uma briga no corredor entre dois jogadores do time de futebol, e um deles acabou me acertando com um murro quando estava presenciando a briga com July. Eu fiquei muito próximo aos dois. E quando um se desviou, fui surpreendido.
- isso está muito mau contado Isaac. Não gosto de te vê assim, tão abatido como está hoje.
- não estou abatido - defendi.
- ah, está sim. E o motivo não é esse seu ferimento aí não. Tem mais coisa, mas você não quer contar.
- não tem nada mãe. Está tudo bem. Só estou um pouco sem querer fazer nada, apenas isso. Nem tudo tem que ser com sorrisos.
- tudo bem, então. Agora desça para almoçar.
- OK. Vou em um minuto.

Fecho a porta. Vou até banheiro. Passo alguns segundos me olhando no espelho. Procuro uma lâmina no pequeno armário. Encontro. Estico meu braço esquerdo e começo a passar a lâmina no meu pulso. Não faço um corte profundo, então resolvo fazer uns três cortes um pouco a cima do pulso. Faço mais três. Um por cima do outro. O sangue começa a cair sobre a pia branca enquanto continuo me cortando. Tenho cuidado para não acertar uma veia. Não quero morrer. Não ainda. Jogo a lâmina no lixo, ligo a torneira e limpo a pia. Limpo meu braço, lavo meu rosto e minhas mãos. Volto no quarto e visto meu casaco azul escuro, para esconder os cortes.

Não consigo comer nada. Não sinto vontade. Tento comer um pedaço do frango frito com alecrim, mas não consigo comer. O desânimo me abraça forte. Minha mãe não percebe que não estou comendo nada, porque está devorando tudo em seu prato. Me retiro da mesa com o prato na mão. Jogo meu almoço no lixo e em seguida volto para meu mundo. Desligo meu celular para não receber nenhuma ligação ou mensagens de July ou de Nick, e me deito na cama, caindo no sono aos poucos.

Quando acordo, não decido sair da cama. Fico de lado olhando a parede por um bom tempo. São exatamente quatro horas da tarde. Sinto frio. Sinto vontade de chorar. Sinto vontade de me cortar novamente. Mas decido-me ir tomar banho. Vai me fazer bem um bom banho quente. Tiro meu casaco, minha camisa. Tiro o cinto e a calça Skinny. Em seguida, tiro a cueca e fico debaixo do chuveiro, sentindo a água morna cair sobre meu rosto triste e percorrer por todo o meu corpo. Passo o sabonete líquido, e logo depois, lavo meus cabelos caxeados com o shampoo. A água no piso do banheiro fica um pouco avermelhada por conta do sangue dos cortes, mas depois, para de sangrar.

Visto uma bermuda Jeans escura, uma camiseta branca e por cima, um casaco preto. Não saio do quarto. Apenas fico deitado em minha cama, sendo atormentado por pequenas lembranças do ocorrido hoje no colégio. Ainda consigo sentir o aperto daquele nojento. Consigo ouvir a voz assustadora dele dizendo-me para não contar a ninguém. Decido manter essa lembrança afastada de mim, enquanto volto a dormir. É só o que quero fazer. Dormir, dormir, e dormir. Desaparecendo do mundo real, indo parar em um outro mundo em que posso me salvar quando algo de ruim acontecer.

Apenas durmo...

IsaacOnde histórias criam vida. Descubra agora