Tentativa de mudanças

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No domingo de manhã ganho alta. Visão normal. Circulação do sangue também. Cortes enfaixados. Ainda dói um pouco, e coça pra caralho, mas estou bem. Bom, eu acho que estou. Comigo é sempre assim sabe, confuso o tempo todo. Se alguém perguntar se estou bem, eu respondo que sim, mas por dentro... É a maior depressão. Mentir as vezes não ajuda, mas também, eu tento dizer a verdade sobre tudo e ninguém consegue entender. Complicado.

Amanhã tenho que ir ao acampamento do colégio. Passar vinte e quatro horas com aquelas pessoas ao meu redor, e ainda ter que tentar ficar o mais longe possível de Stefan, para não sofrer nenhum tipo de assédio. Mas se isso venha a acontecer, desta vez eu não vou deixar barato. Vou enfrentá-lo. Stefan Walter ainda vai conhecer o meu punho direito. Ainda vou pisar o testículo dele até ele gemer de tanta dor. A partir de hoje, não vou tolerar nenhum tipo de preconceito contra mim. Chega um dia em que a gente cansa de ser pisado, de ser tratado como um nada, de ficar servindo de piadinhas para esses idiotas que acham que os gays são algum tipo de aberração. Quem são eles para me julgarem?

July e Nick ficaram bravos comigo por eu ter feito esse tipo de coisa. Quase me batetam quando chegaram aqui em casa e me viram desse jeito, com as pernas e o pulso enfaixados. Eles não imaginavam que seu amigo fosse um suicida. July sentiu pena de mim, mas também raiva.

- Isaac? Você não pode simplesmente decidir tirar sua própria vida dessa forma - começou July - pense nos seus amigos, na sua família. Pense em se mesmo antes de quere fazer besteira. Não é o certo.
- eu sei - disse - mas... Eu quis fazer isso comigo. Senti raiva de mim mesmo.
- isso o que você fez foi uma coisa idiota sabia?
- sim. Mas sabe o que é mais idiota? Alguém deixar uma pessoa mau, a ponto de fazê-la sangrar por causa de suas idiotices. Isso é mais idiota.
- Isaac? Gosto tanto de você cara... Não faz mais isso, por favor.
- umhum...

Baixo a cabeça. July beija minha testa. Nick não diz nada, apenas fica nos observando encostado na porta. Nick parece meio triste. Não costumo vê ele desse jeito, está sempre animado. Talvez esteja com algum problema em casa. Ou o lance com o garoto do bar em Nova York não deu muito certo. Decido perguntar. Ele respondo com a mair sinceridade possível.

"AQUELE SAFADO ME COMEU TODO E ME DEU UM FORA."

- nossa!
- filho de uma puta! - xingava Nick - bicha maldita! Se vocês pudessem enxergar minha raiva, com certeza correriam de medo.
- calma Nick - diz July tentando ajudar - você que procurou também, não precisava ficar com um cara que conheceu em um bar só porque ele é bonito, gostoso e atraente.
- July? Não está ajudando - disse - Nick? Você é muito impulsivo em relação a garotos que são gays ativos. Sempre acaba transando com um ou outro. Tenta não ser assim cara.
- não consigo. Sou uma bicha louca que não pode ver um macho forte na rua, que quero ter relações com ele sem mais ou menos. Só penso em sexo, sexo, sexo.
- sim, mas tente mudar. A final... Por que nós todos não mudamos? Por exemplo você July, você tem que deixar de sentir o que sente por mim. Sei que isso não vai ser de um dia para o outro, mas com certeza você consegue parar de sentir esse amor todo por mim. Tenta se soltar um pouco. Deixa os livros de lado por um tempo. Tenta curtir a vida de uma outra forma. Por você mesma. Já você Nick, tenta não ser um gay chamativo. Espere o garoto certo. Tente sentir o amor, e não apenas sexo. Aprenda a saber se encontrar primeiro, para depois você encontrar um cara que te faça feliz.

Os dois não dizem nada por um momento. Até que...

- e você deveria dizer a verdade para sua mãe, sobre você ser gay e estar namorando o Cody Lee. Deveria tentar não ser um louco que vive se cortando - rebateu Nick com seu jeito engraçado de ser.
- concordo com Nick.
- mudanças trazem resultados incríveis em nossas vidas. Eu vou mudar. O Isaac fraco, inútil e chorão que vocês conheciam, acabou de morrer na cama daquele hospital.

Disse com um olhar firme, mas cheio de ódio de Stefan Walter.

IsaacOnde histórias criam vida. Descubra agora