Conversando com a morte

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Tudo é escuro e frio. O gélido nevoeiro atrapalha minha visão. Consigo ouvir gritos vindo debaixo do chão negro, coberto por restos mortais. Ossos, tufos de cabelo, unhas, dentes, e crânios. O cheiro podre de carnificina circulava por todo o lugar. Não sei para onde ir. Não tem vento. Apenas escuridão. Seguia uma trilha de grandes velas pretas, que deixava o lugar macabro. Volto ao ouvir os gritos. Em seguida, um bebê chorar. Tento não dar atenção. Com certeza isso deve ser uma armadilha, então prossigo com a trilha de velas. Começo a me aproximar de três portas com cores diferentes. Em cada porta, uma palavra. Porta vermelha "futuro". Porta preta "desejo". Porta branca "liberdade". A trilha de velas termina exatamente nesse lugar. Não sei o que quer significar cada uma dessas portas ou palavras, mas sinto que pretendo escolher uma delas. Branca talvez? Fico em dúvida. Ouço passos em minha direção. Não enxergo nada além do escuro sombrio que percorre o lugar. As velas que marcavam a trilha se apagaram. Ouço passos novamente. Dessa vez vindo pela direita. Me mantenho calmo. Escolho a porta vermelha.

A abro lentamente. Do outro lado, dou de cara com um cemitério. O lugar parece ser pior que o outro. Árvores queimadas com galhos que lembravam garras. Raízes sobre cada lápide e túmulo. Um céu assustadoramente vermelho. Meu corpo treme, fazendo-me sentir mais frio.

- essa é minha casa - diz uma voz vindo do fim do cemitério. Uma voz roca e velha.
- olá? Tem alguém aí?
- alguém? Não costumam me chamar de alguém.
- quem é você? - pergunto com a voz trêmula, ao dar de cara com algo totalmente diferente. Escondido sobre um longo manto velho, rasgado e escuro. Sujo de sangue. Todo retorcido.
- tenho vários nomes. Caminho em seu mundo chamando-me de dor, doença, depressão, suicídio, e homicídio. Mas tenho um nome que todos vocês usam quando um amigo ou um parente morre. Sou a morte. Quer um abraço?

Meu corpo paralisa de medo. Fico pálido e gelado.

- é... Eu... - travo.
- Isaac Seyfried. Dezesseis anos. Nova Jersey. Homosexual. Sei tudo sobre você. Meu preferido. Seus cortes me dão cede.
- seu preferido?
- sim - responde a morte, saindo de onde está, ficando todo retorcido sobre um túmulo - aqui está. Isaac Seyfried. O cheiro do seu corpo podre me deixa malicioso.
- deve ser algum engano. Não estou morto. Estou sonhando.
- sim, você não está morto nesse momento. Mas nesse daqui sim. Você está. O futuro é mais doloroso que o passado.
- mentira! - grito.

Acordo suado. Estou com o corpo quente. Minha cabeça começa a doer. Tive um pesadelo. É exatamente sete horas da noite, e por sorte minha mãe não veio me procurar para o jantar. Ligo o celular. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação perdida. Tomo o remédio para dor de cabeça e volto a dormir. Ainda não quero falar com ninguém, assim como não querem falar comigo.

IsaacOnde histórias criam vida. Descubra agora