Fugindo

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Perguntei apreensiva :

- O que houve Alegra?!

Ela se virou e falou :

- Quebrei minha unha.

Naquela hora fiquei irritada e comecei a reclamar :

- Poxa, eu tô aqui cheia de calo e você reclamando por causa de uma coisinha dessas. É só uma lasquinha.....

E ela me interrompeu :

- Você é lerda, hein?! Se eu quebrei a unha, significa que tem uma coisa dura aqui. Deixa de reclamar e comece a cavar.

Ajudei-a encontrar o tal objeto, achava que se tratava de um cano ou alguma coisa relacionada ao funcionamento da cidade. Senti uma coisa meio pedregosa em minha mão e que me arranhava um pouco. Eu avisei :

- Isso é duro e arranha, o que você acha que tem aqui?

Alegra me respondeu, depois de pensar um pouco :

- Não pode ser um cano, acho que estou chegando perto. Me ajude a tirar essa terrinha aqui.

Eu fui e vi as primeiras extremidades do objeto. Me surpreendi, eram pedras preciosas não lapidadas. Dona de hotel e agora rica, eu posso! Encarei minha amiga e vi os olhos arregalados dela. Eu tive um ataque de riso, eu vou fugir desse inferno rica. Escutei passos distantes e não conseguia parar de rir; Alegra teve que tampar minha boca com a mão enquanto corriamos até nossa sala. Conseguimos subir a tempo de empurrar o manequim que secretava nossa rota de fuga e fingir que estávamos costurando. Segurei o riso até a madame chegar e nos verificar, depois que ela nos encarou e resmungou, eu e Alegra rimos ao mesmo tempo. Ela comentou:

- A broaca nem imagina do que nós sabemos!

E eu rindo, minha barriga começava a doer. Eu consegui parar e respirar.Eu disse :

- Alegra, é melhor continuarmos a cavar depois. Madame Broaca pode passar por aqui, se não nos encontrar; ela pode começar a desconfiar .

Ela assentiu e começamos a costurar.Mais tarde, naquele mesmo dia, voltamos ao buraco e Alegra falou que sentia que nós estávamos perto de chegar a saída. Lá, tentei de tudo para tirar aquelas pedras roxas e consegui arrancar uns pedaços pequenos. Era suficiente. Me assustei com barulhos de porta abrindo, senti meus olhos se arregalarem e uma sensação de medo e apreensão tomou o âmago de meu ser. O buraco estava sem a tampa, que era o manequim e os passos ficavam cada vez mais próximos. Peguei nossas pedrinhas, minhas e de Alegra, coloquei -as em meus bolsos. Os passos ficavam mais rápidos, encostei minha mão na de Alegra e ela quase a esmigalhou. Senti a adrenalina me dominando e acho que Alegra se pôs em posição para correr. Nos comunicamos via olhares: assim que a pessoa chegasse, iríamos correr. Eu escutei a voz antes de vê -la :

- Suas desgraçadas, vocês não valem absolutamente nada.

Era madame. Falei bem alto :

- Quem não vale nada aqui é você!

Cuspo em seu rosto e enquanto ela se distraia tentando se limpar, eu agi por puro instinto e a derrubei no chão. Não sabia de onde vinha toda aquela força mas achava que era por causa das emoções do momento.

Corri com Alegra para a liberdade. enquanto minha amiga fechava a passagem com um manequim de uma forma bem ruim, fui pegar alguns panos caríssimos de madame(eu mereço algum pagamento pelo tempo que fiquei presa trabalhando). A porta estava aberta, a Broaca não pensou que isso fosse acontecer e muito menos eu. Nós corremos de novo, dessa vez, eu conhecia o caminho. Eu iria voltar para o hotel.

Parei de correr pois estava esgotada e comentei :

- Será que madame se machucou muito?

Me assustei com a possibilidade que me passou pela mente, a ideia dela ter morrido me tornava uma assassina. Eu não sou uma assassina. Se Madame morreu, deve ter se arrependido de todo mal que causou. A vida é curta demais e você só pensa nisso quando ela está acabando; mesmo sabendo disso eu estrago minha vida procurando vingança. O que posso fazer? Sou cabeça dura.
Só quando parei que percebi, estava anoitecendo e estávamos bem perto de "casa", quer dizer, " abrigo temporário ". Eu estou rica agora, não preciso mais morar ali. Algumas perguntas me passaram pela cabeça : Será que Nathaniel já se casou? Quem me prendeu lá?

Cambaleei até a entrada do hotel com Alegra e aguentei abrir a porta de meu quartinho. Escondi as pedras dentro do livro que senhor Clarke me deu e deitei no colcolchão de maneira atrapalhada. Já estava esgotada.

Perdida(REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora