Os Olhos do estranho (pt.2-REESCRITO)

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-Mmmmmm... Só mais uns minutinhos tia! Daqui a pouco eu limpo todo o hotel. Estou cansada.

Era a minha resposta aos delicados cutucões que recebia, abri meus olhos vagarosamente para levar um susto:

-AH! Que susto! Você não é minha tia.

Era o hóspede de ontem:

- Desculpe, não tive a intenção de te assustar – Ele parecia realmente arrependido – É que está faltando um cobertor em meu quarto e eu acho que a senhorita é responsável pelo recinto, correto?

Eu, já mal-humorada, respondi:

- Claro, vou ver o que consigo.

E assim subi as escadas até a cobertura, onde minha tia e prima moravam e onde a vista era maravilhosa. Bati na porta e esperei. Maldito estranho. Lavínia, minha tia, abriu a porta dizendo com toda a gentileza:

- O que é que você quer? Espero que seja importante para me acordar tão cedo!

Pelo sol, diria que estamos ás 10:00 horas do dia de Saalkt, ou como alguns estrangeiros chamam, Sábado. Respondi:

- Tem um cliente querendo um cobertor.

Ela arqueou uma sobrancelha e bufou:

- Pagou por qual quarto?

-Médio.

- Então pegue um dos melhorzinhos para ele.

Entrei passando pela sala e por um corredor até a salinha onde guardam cobertores e travesseiros, já que meu quarto, que fica no piso da recepção, abriga os utensílios de limpeza. Elas dizem que é para terem o controle de quem fica com o quê pois segundo elas, se dependesse de mim, os clientes ficariam com as melhores coisas, porém com isso elas ganham o bônus de me deixarem dormindo com vassouras, pás e outros produtos de limpeza no quartinho minúsculo perto da recepção. Triste, todavia, estou acostumada com essa rotina. Queria neste momento ter um carinho de minha mãe ou um conselho de meu pai mas acho que esse desejo pode se voltar contra mim. Eu não conheço a personalidade de minha mãe, muito menos a do meu pai, nem sei se eles me quiseram neste mundo. Isso me aflige. Encostei minha mão em um dos melhores cobertores, minha tia organiza "quem – fica- com -o - que" de acordo com o quarto que pagou e quanto está disposto a gastar aqui e como os quartos premunis atualmente estão desabitados, os melhores clientes que temos são os do segundo andar, dos quartos médios. Eu pediria para Lavínia para dormir em um dos quartos premiuns, porém ela diria: "Que ideia sem cabimento! Onde já se viu? Uma reles empregada querer ocupar um espaço que pode ser ocupado por um bom cliente". Ambas sabemos que é muito difícil alguém nesta temporada pedir esse quarto, já é difícil na alta temporada!

Aqui sou tratada como uma reles empregada e não como alguém da família. Minha tia me esconde e minha prima tem vergonha de mim, é como se fosse uma mancha negra em um vestido branco outrora imaculado. Sabe, quando eu era menor, eu era tratada de uma maneira melhor. Elas até me deixavam estudar! Aprendi a ler e a escrever, desde então, os livros tem sido minha salvação, meu porto seguro. Claro que mantenho o segredo sobre meu parentesco a sete chaves, senão eu viraria uma sem – teto, fico feliz que ninguém nunca tenha se interessado o suficiente para perguntar algo para mim. Para todos os efeitos, para os nobres amigos de Antonella e Lavínia, sou uma empregada que foi largada na porta do hotel e que tiveram compaixão para me abrigar e me dar um emprego. Um simples ato de caridade, uma garota invisível. Desci a escadaria dando de cara com o "pouca-mala" (apelidei o homem que pediu o cobertor assim, essa mania feia já me causou problemas ao chamar os hóspedes pelos apelidos imaginários) o que acabou me fazendo voltar para realidade e dizer:

Perdida(REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora