Marcas

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Eu a reconheci do círculo. Ela era linda, mesmo aparentando ser mais velha; tinha um cabelo longo cor de carvalho claro com uma mecha loira e aparentava ter no máximo uns 39 anos. Ela sorriu:

- Pode ficar calma. Não tem nada a temer aqui, no início também fiquei com muito medo mas, me acustumei a este lugar. Você me lembra a mim mesma quando jovem e inocente. Quando ainda tinha tempo para tomar melhores decisões, hoje já estou um pouco velha para fazer certo tipo de coisa.

Não fazia a mínima ideia sobre o que ela estava falando mas parecia ser uma pessoa importante, por ter feito Enya sair daquele local e quase correndo. Argumentei com ela, pois não concordava com a maneira que ela pensava :

-Nunca é tarde demais para se fazer o que quer. Eu acredito nisso.

Não sabia se estava falando isso para me encorajar ou para ela mesmo!

Ela me rondou, me analisando e obviamente, me senti desconfortável. De repente, tomei consciência da riqueza que escondia em meu peitoral. Os diamantes. Eles ainda estavam comigo! Senti a apreensão e acho que a mulher que estava comigo também sentiu. Do nada, a mulher que parecia gentil e conversava comigo me atacou. Sim, ela tentou me dar um tapa mas tenho bons reflexos e me abaixei. Ela me encarou. Estávamos lutando agora. Não sei o motivo. Tem loucura nessas mulheres. A adrenalina estava em meu sangue e senti meu coração acelerar. Era muito inesperado, porém refletindo, essa minha nova vida é bem inesperada. Eu nunca esperava que tanta coisa fosse acontecer, antes de Nathaniel e antes de tudo isso, eu sempre achava que meus pais estavam mortos (mais ainda havia uma centelha de esperança em meu coração ) e acatava as ordens de minha tia e minha prima sem nem reclamar. Eu não vivia, eu esperava as coisas acontecerem e atualmente, acho que estou fazendo minha própria história apesar da dor que me segue como uma sombra. Nós sentimos a dor mas podemos decidir o que fazemos com ela e todo dia é uma nova luta. Naquele momento de reflexão, a moça pegou uma espada e me deu uma, falando :

- Se isso é um duelo, que seja justo.... com você! Hahaha!

Ainda não entendia porque ,repentinamente, ela decidiu lutar comigo. Apesar da aparente idade, ela realmente levava vantagem pois eu nunca tinha manejado uma espada antes e meu estômago queimava. Nunca tinha feito tanto exercício físico nessa velocidade. Eu finalmente consegui atacá-la quando ela abaixou um pouco a guarda. Lutava para viver pois não sabia o que esperar dessa louca. O braço dela estava arranhado de onde eu a ataquei. Enquanto ela estava distraída preparando um movimento com a espada, consegui desarmá-la. A espada dourada dela caiu bem longe e consegui encostar a ponta da espada na garganta dela e fazer uma ameaça ofegantemente:

- Se você se mover mais um pouco, essa espada vai parar na sua garganta.

Eu não teria coragem de matá-la. Só feriria gravemente.

Ela se esquivou, sentou no chão, suspirou e falou :

- Meu nome é Blythe. Sou do conselho principal das Ásters. Fazia muito tempo que não pegava numa espada. Nós somos um grupo comandado pela Áster mor. Ninguém a conheceu até hoje, porém, ela tem representantes que fazem sua vontade ser ouvida. Essa ideia de nunca a vermos, causa uma certa... desconfiança a algumas garotas, acho que percebeu que só tem garotas aqui. Aqui é nosso esconderijo, melhor, nossa casa. Acabamos que essa ideia de que mulheres são fracas e as treinamos com espadas, venenos e outras armas....

Ela continuou falando que aquele lugar aceitava qualquer mulher e de qualquer idade. Elas não tinham restrições quanto classe social, afinal, segundo Blythe acontecem injustiças e estupros em qualquer classe. Estava intrigada quanto a tudo isso, elas estavam dando a oportunidade para as mulheres se salvarem e serem realmente independentes em uma sociedade que nos vê como objetos e ignora que nós somos fortes e sensíveis ao mesmo tempo. Afinal, Que homem aguentaria um parto igual a nós? Que homem aguentaria um coração partido tão bem como nós?

Me deixava intrigada o fato dela ter chamado aqui de esconderijo. Se elas estavam se escondendo, é de quem ou do que? Além de não ter engolido muito bem essa história de Áster mor. Continuei escutando :

-As mulheres do Conselho interpretam a vontade da Áster mor e comandamos. Somos escolhidas por votação . Todas as Ásters podem votar. Cada Áster tem o que chamamos de "alma dupla", ou seja, é a Áster com quem voce lutará e dividirá tudo que sente. Você é a alma dupla de Enya. Foi por isso que foi recrutada. Espero que honre essa marca em seu ombro. Essa instituição significa muito para nós. Amanhã começa seu treinamento. Alguma pergunta?

Eu falei :

- Sim. Vou poder sair daqui? Quando?
Tinha muito mais do que isso para perguntar mas, Blythe parecia fechada demais para responder. De mentiras, já faço coleção. Ela respondeu :

- É claro!Todo feriado vocês estão liberadas. Vou te levar para conhecer Enya e seu quarto nos alojamentos. Pode perguntar tudo para ela.

E assim, nós fomos. Seguindo por mais um corredor frio e todo preto. Eu com a cabeça pipocando de perguntas e Blythe com a fonte das respostas em sua cabeça.

Perdida(REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora