Os olhos do estranho (PARTE 1 - REESCRITO)

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Capítulo 1 – Os olhos do estranho

Dimensão 1250-A

Estava concentrada e finalmente entretida com o que eu queria fazer, depois de um dia de trabalho árduo, meu descanso era merecido e escolhi fazê-lo absorta entre as páginas de um bom livro. Estava quase terminando o capítulo quando escutei a voz familiar de minha tia:

- Broookee!

Brooke. Meu nome. No susto, levantei-me rapidamente e deixei o livro cair no chão, desmarcando a página em que estava. Grunhi baixo, colocando o livro em cima do colchão e indo ao encontro de minha tia. Sai de meu pequeno quarto compartilhado com vassouras e outros artigos de limpeza e vi a recepção do hotel. Estava acostumada com aquele cenário: Uma bancada simples para mim, a recepcionista faz-tudo do hotel, umas cadeiras acolchoadas no centro da sala, com uma pequena mesinha entre elas. As paredes já antigas descascavam, mas as portas estavam novas, eram transparentes e custaram uma pequena fortuna que nós atualmente não temos. Nós somos eu, minha tia Lavínia e minha prima Antonella. Essa é a minha "família", eu digo isto por termos uma relação bem... digamos assim, difícil:

- Por que demorou tanto? Tive que descer as escadas para ver você parada igual uma palerma, olhando para as paredes! Que isto não se repita, já estou por aqui com a sua demora e com esse seu desperdício de tempo, você vive lendo esses livros e não faz nada útil. Como vou me concentrar em arranjar um marido para sua prima se você não consegue cuidar de uma simples tarefa que é cuidar de um hotel?

"Se é tão simples, por que você não faz então ?!" Era o que eu nunca tinha coragem de falar. Depois de presenciar o mesmo discurso toda semana, eu tinha vontade de dizer umas poucas e boas, porém eu me segurava, não tinha a intensão de perder o único lar que tinha com refeições boas. Aliás, minha tia foi quem me acolheu quando minha mãe e meu pai me abandonaram, então isso é o mínimo que posso fazer; aturar sua personalidade terrível. Ela continuou falando:

- Hoje, você ficará até tarde; atenderá todos no balcão.

Tentei argumentar:

- Mas, e a lei contra Enterworlds? Correrá o risco de desobedecer a polícia?!

Ela, irredutivelmente, respondeu:

- Já gastamos demais esse ano, lembre-se de que você é uma boca a mais para alimentar. A temporada de bailes está chegando, Antonella está quase passando da idade de se casar. Precisamos comprar vestidos novos para nós duas e o hotel não lucra mais como antigamente, por isso, você ficará até tarde durante esta temporada! Não ouse mais me contestar ou contra argumentar!

Assim, ela subiu as escadas sem olhar para trás, deixando-me sem opções. Grunhi mais ainda e voltei para meu quarto, fui buscar meu livro e meu travesseiro improvisado pois sabia que a espera seria longa. Os negócios não estavam indo bem, era praticamente inútil ficar acordada durante a madrugada pois estava certa de que ninguém iria aparecer. Me sentei na cadeira atrás do balcão e comecei a procurar a página perdida.

Estava lendo um livro sobre a história de meu reino, dizia que fomos colonizados por Enterworlds da era medieval do planeta Terra, porém pesquisas e catalogação das dimensões só começaram bem mais tarde. Nossa colonização influenciou demais nossa cultura, até hoje temos espadas e estrelas-da-noite para nos proteger e usamos vestidos bufantes (mulheres) e ternos elegantes (homens), além de termos a ideia de que a mulher vive para casar, ter filhos e cuidar da casa! Não gosto dessa ideia pois imagino meu futuro totalmente diferente, quero fazer como os protagonistas dos livros e viver diversas aventuras pelos mundos, porém, sempre tem um porém e enquanto isso estou presa a essa vida medíocre e entediante. Sempre limitada a limpar quartos, arrumar camas e aguentar Antonella tagarelando sobre como ela é melhor do que eu. Minha prima é muito diferente de mim fisicamente e na personalidade, ela é uma loira com cabelos cor de areia, com feições doces, porém glaciais por causa de sua pele. Antonella é muito bonita e branca como o céu enevoado após a chuva, enquanto eu, tenho cabelos negros como penas de corvos e sou morena em um tom entre a cor de caramelo e a cor de café. Sou mais baixa que ela e tenho o corpo mais cheio e com mais curvas, minha prima se parece mais com seu finado pai e eu tenho alguns traços em comum com minha tia, que já fora bela na juventude e tenta prolongar esse efeito com produtos de beleza. Sei disso pois as vezes ela deixa escapar informações sobre o passado, ela costumava dizer coisas como "se eu soubesse que daria tanto trabalho, não teria ajudado sua mãe" e "devia tê-la entregado para polícia na primeira oportunidade".

Perdida(REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora