Os olhos do estranho (PT.3- REESCRITO)

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Já era noite, tentei esconder minha felicidade pelo restante do dia e até quando Antonella pirou por não ter a posse daquele perfume. A verdade é que eu estava radiante e nem aquelas saídas suspeitas do hóspede esquisito podiam mudar isso! Eu peguei o meu melhor vestido, que depois de um bom tempo juntando gorjetas, consegui comprar e ele era usado. Eu tinha um cordão de pérolas falsas antigo que encontrei na rua, eu me lembro que tinha saído para comprar pão e tropecei nesse cordão, que no dia estava enlameado, e ao fazê-lo, o barbante que ligava as pedrinhas se soltou. Ao chegar em casa, tive que limpar e conseguir um novo barbante para ele ficar lindo!

Era muito diferente a experiência de andar por cenários que só conheço de dia, à noite. Sei que nunca verei o mesmo cenário da mesma forma pois ninguém enxerga a mesma coisa da mesma forma, seja por questões emocionais ou do próprio cenário; quer dizer, qual é a chance de as coisas serem exatamente iguais a uma hora atrás ou um dia atrás? Muito pequena!

De certa forma, estava animada. Só conseguia ver os festejos que se relacionavam com feriados e isso era raro, a maior parte do tempo era ocupada com trabalho. Essa seria a primeira festa de verdade que iria. Além de minha felicidade, estou bastante nervosa pois não sei como me portar adequadamente...provavelmente ficarei em um canto qualquer observando pessoas se divertirem, até entender como funciona.

Andei bastante, com receio e medo. Muitas mulheres são sequestradas na calada da noite, as vezes são raptadas e acabam mortas, principalmente, quando se encontram sozinhas. Eu não gostaria de ser lembrada como a covarde que sou, parte disso me fez tomar essa decisão. Não posso desperdiçar toda uma vida com coisas que nunca terão um retorno bom para mim, é tempo de tomar coragem e pensar em mim primeiro. Isso porque estamos em um dos melhores lugares para se viver, há lugares ainda piores que aqui ... onde a pobreza e a fome dominam e as pessoas se tornam mercenárias por um pedaço de pão. A vida aqui é muito desigual. É uma mistura muito louca, antigamente, os Entre mundos entra mundos enterworlds não eram proibidos... eu era muito pequena e escutava as histórias contadas pelos hóspedes que chegavam bêbados, eles contavam que em alguns lugares havia instalação de energia e coisas muito diferentes, estavam asfaltando estradas e fazendo coisas consideradas básicas para esses estrangeiros. O convívio era normal. Os alcoolizados contavam histórias tristes sobre uma guerra que até hoje não sei o motivo e como ela afastou famílias ... alguns falavam que sofriam com a falta de antigos amores, amigos, tios, irmãos. Dizem que agora estamos em uma paz frágil por causa de algo que aconteceu na Terra, um acidente que ambos os lados estão tentando resolver. Nunca soube mais que isso, mas por causa da guerra, mandaram tirar todos os avanços trazidos pelos Enterworlds, pensando sobre o assunto, é uma grande regressão. Agora, a maior parte da população não sabe ler e escrever direito, e além disso, os produtos de outras dimensões alimentam o mercado negro.

O clima aqui é ameno, nunca é quente, mas também nunca é frio. Apesar disso, essa noite está bastante fria. Como aqui é uma cidadela pequena, normalmente chegamos aos lugares andando, já ouvi que na capital, onde os nobres e a família real moram, todos se movimentam a cavalo ou usando uma charrete (que pelo que ouvi se parece com um quarto com rodas). Vi algumas casas requintadas com as velas acesas e percebi que já estava perto de meu ponto de encontro com Naddine. Ela provavelmente iria chegar um pouco mais tarde que o combinado mesmo. Avistei a perfumaria e resisti a vontade de me sentar no chão para espera-la, eu conheço a amiga que tenho e ela não tinha chegado cedo (pontualidade nunca fora seu forte).

Depois de alguns minutos, eu a avistei chegando sorridente e dizendo:

- Que bom que veio! Me poupou o trabalho de ir te arrastar do Hotel até a festa!

Resmunguei:

- Pontualidade definitivamente não é seu forte.

Ela me abraçou e foi me passando informações sobre a tal festa, pelo que ouvi, já sabia que não daria certo. A festa era de DiAngeli, um dos riquinhos com influência e amigos na corte. Ela disse que o próprio havia a convidado ao vê-la no trabalho, eu a alertei avisando que aquilo não iria dar certo e ela só piscou para mim e falou que só ele não sabia disso. Naddine é divertida e bem-resolvida, por sua beleza, muitos acham que podem brincar com ela, porém ela acaba brincando com eles. É no mínimo engraçado. DiAngeli com certeza seria apenas mais um para minha amiga, mas fico com receio...esse cara teve tudo na vida de mão beijada, tenho medo do que ele faria com Nad quando percebesse que ela não é igual a todas as garotas ricas que ele costuma se relacionar.

Perdida(REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora