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Ele não era um cara que "nossa, que homem, tudo isso de homem", mas esse nunca foi o estilo dela. Ele tinha cara de urso de pelúcia, tinha cara de alguém que dava vontade de se aconchegar na lareira. Mas ao mesmo tempo, aquele arzinho de bad boy que só um cigarro no canto da boca e as mãos no bolso da calça davam pra um cara. E ela nem fumava mais, mas não podia resistir acompanhá-lo. Nos fumódromos que a gente faz amigos, já dizia a Nanda. Eles caminhavam sem destino, e ela não sabia muito como começar a conversa.

- E o que você faz da vida?

- Por que essa é a primeira pergunta que todo paulistano faz, né? Eu ia te perguntar o mesmo.

- Porque só tem workaholic nessa cidade.

- E eu sou um, não tenho moral alguma pra questionar isso. Publicitário, à sua disposição.

- Ô raça. Eu também. Qual a sua desgraça?

- Direção de arte, e a sua?

- Redação.

- Já somos uma bela dupla, olha só, baby. Não que eu goste. Preferia tomar um tiro nos bagos todo dia a ir pra agência, mas é o que temos pra hoje, não é mesmo?

- Depende, né, às vezes tá mais agradável na agência do que em casa.

- Posso assumir daí que as coisas não estão agradáveis em casa? Ninguém prefere a agência, nunca. Quer falar disso?

- Claro, quero abrir o coração pra um cara que eu acabei de conhecer no bar.

- Abrir o coração tá fora dos limites, caminhar pela rua tarde da noite tudo bem. As regras são todas suas.

Ele parou para apagar um cigarro e acender outro, e a encarou enquanto ela olhava pra ele, pensando se realmente falava tudo ou não. Por um lado, estava aquele cara maravilhoso, por outro, ela estava explodindo.

- Bom, meu colega de quarto está saindo do apartamento. Está tudo uma zona, ele está demorando um mês pra se mudar, e eu nem sei se eu quero que ele saia.

- E tem alguém pra dividir com você no lugar dele ou algo assim?

- Não, grana nem é o problema. Eu já pagava quase todas as contas.

- Não parece a divisão de apartamento mais justa do mundo.

- Não era mesmo, mas é que não era só um colega de quarto. Era meu namorado.

- Ah, tudo faz sentido agora! E ele não te ajudava em casa, e você botou ele pra fora! Viva o matriarcado! - ele jogou os braços para cima e gritou um UHU que ecoou pela rua. Ela quis rir, mas conhecendo a situação só ficou com o olho ardendo pra chorar.

- Não, não exatamente... - o olho dela começou a encher, e ela teve que se segurar pra não chorar na frente de um estranho. Não ficava pior que aquilo mesmo. - Ele me deixou mesmo. - a alegria de brincadeira dele desmontou e ele ficou sério.

- Do nada?

- Não, depois de pegar uma outra menina, que trabalhou no mesmo bar que ele. O bar que a gente estava agora, por sinal.

- Ele estava lá?

- Não, hoje não. Nem ela, ela foi demitida.

- Olha, desculpa me meter na sua vida aí, mas ele não paga as contas, te traiu, e não quer sair da sua casa? Eu já teria jogado todas as roupas desse maluco pela janela.

- Sei lá, não consegui ter bolas pra isso.

- Tenha agora, nunca é tarde. Bota ele pra fora, ele que se vire pra achar onde ficar. Que fique na rua até o prepúcio gangrenar, não é problema seu.

How To Fight LonelinessOnde histórias criam vida. Descubra agora