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Luca acordou durante a noite, ainda encaixado no braço de Julia. Puxou o celular pra perto, e abriu novamente a mensagem que já tinha lido trezentas vezes durante o dia anterior.

"Fofo. Me encontra naquele bar perto da sua casa, o Celsius, na sexta umas 7 da noite. :* "

Essa desgramada. Ela não pergunta, ela manda. Ceci sempre foi assim. Ela não quer saber o quer você pensa, ela assume que todo mundo está no mundo pra servir as vontades dela. Incluindo Luca. Especialmente Luca. Ele devolveu o celular na mesa de cabeceira, e tentou pegar no sono de novo. Sono nunca veio de um jeito fácil pra ele, mas com aquela mensagem guardada, e na cama onde estava, era muito mais difícil.

Ele sabia que devia muito a Cecilia. Mas nunca poderia dizer isso pra Julia pra justificar porque não podia deixá-la. Mas também não conseguia fugir daqueles braços fininhos, que lembraram que ele queria ser a conchinha menor. Como podia passar anos preso a uma pessoa, e em alguns dias, ser arrebatado por outra tão rapidamente?

Ela sofria tanto quanto ele. Escondia, dizia que ia ficar bem, mas ele via. Nas entrelinhas do que ela comentava no dia-a-dia, que pulava refeições, que bebia em momentos estranhos, que demorava pra sair da cama de manhã e não era pro preguiça. Eles eram dois pedaços partidos soltos no mundo. Ele só não tinha certeza ainda se encaixavam um no outro. Mas ali, naquela cama, pareciam as duas metades perfeitas.

Assim que o horário lhe pareceu ok o suficiente, ele se levantou com cuidado, se vestiu, e foi para casa. Mas não sem antes deixar um bilhete na cabeceira dela dizendo:

"Obrigado por me deixar ficar.
E por me deixar ser a conchinha menor.
E por existir nos últimos dias.

<3 Lu"

Era hora de encarar o desafio de verdade, após um longo e exaustivo dia de trabalho. Ele até cogitaria pedir um dia de folga se não soubesse que teria que trabalhar no fim de semana para compensar. Ou se não precisasse da distração. Mas às 7, ele estava lá. Passou em casa para pegar um blazer, jogou em cima da camisa xadrez que usou durante todo o dia, e torceu para que parecesse gente o suficiente pra ela.

Cecilia já estava lá, apoiada no bar, conversando com o staff, maravilhosa. Ninguém nesse mundo conseguiria ficar gata toda de jeans e salto bege, mas lá estava ela. O cabelo loiro solto e bagunçado, como ele bem sabia, de propósito. Ele já tinha desmontado. Queria correr de volta pra casa, sua cabeça berrava "DANGER, WILL ROBINSON, DANGER", mas ela o viu antes. Correu para abraçá-lo, e ele só devolveu o abraço e travou no mesmo lugar.

- Luquinha!

- Oooi.

- Adivinha quem acabou de conseguir um emprego aqui, do seu ladinho?

- Você vai trabalhar, Ceci? Aqui? E eu to bem também, obrigado, Ceci. Perdi sim, acho que uns cinco quilos.

- Deixa de ser bobo. Sim, vou trabalhar. Não é demais?

- Você não tinha ido pra Itália ser atriz?

- Tinha, mas daí acabei indo pra Portugal, trabalhei em uns bares lá, e decidi trabalhar com bar aqui. - ela jogou os braços pro ar - Legal, né?

- Vai passar quanto tempo dessa vez?

- Deixa só eu te apresentar todo mundo, e daí a gente senta e conversa. - puxou o braço dele até o bar, onde dois caras e uma amiga de Luca trabalhavam.

- Hey, Luca, tudo bem ai? - Adriana preparava algo no canto do bar, tentando jogar o cabelo longe do rosto, e lambendo os dedos. - Você me deve duas cervejas, seu puto, não esquece. - e piscou para ele.

How To Fight LonelinessOnde histórias criam vida. Descubra agora